DOMINICA VOLKOV
5 ANOS DE IDADE
O mundo era um lugar enorme, cheio de coisas difíceis de entender. Naquele dia, eu estava sentada em uma cadeira alta, balançando as pernas, perto da minha mamãe. Ela estava ocupada com o trabalho dela — autografar os livros que escrevia, conversando com as pessoas que vinham até a livraria só para vê-la. Sempre que me olhava, mamãe sorria, e eu me sentia especial, como se fosse a pessoa mais importante ali. Mas, às vezes, ela ficava tão ocupada que eu acabava me entediando.
A livraria era um lugar silencioso, cheio de cheiros de páginas e tinta. Eu olhava para os livros nas prateleiras, tentando decifrar as palavras que pareciam dançar, escorregando para longe de mim. Elas brincavam de esconde-esconde, e eu nunca conseguia encontrar todas.
Foi quando ouvi uma voz familiar. Era Daia Ward, a amiga da mamãe. Ela sempre parecia trazer um pedaço de sol com ela, com suas histórias engraçadas e piadas que faziam meu estômago doer de tanto rir. Mas, naquele dia, Daia não estava sozinha. Ao lado dela estava um menino.
Ele era... diferente. Não do tipo que dá medo, mas do tipo que faz você querer olhar de novo. Ele tinha o cabelo preto como a noite, e os olhos... os olhos eram como bolinhas de gude azuis, brilhando de um jeito hipnotizante. Mas o que mais me chamou a atenção foi a cicatriz fina que atravessava um dos olhos, como se alguém tivesse desenhado nela com uma agulha. Ele tentava esconder com a franja, mas eu ainda conseguia ver.
Pensei na mamãe e no papai, que também tinham cicatrizes. Mamãe dizia que elas eram histórias escritas na pele, e fiquei imaginando qual seria a história dele.
— Quanto tempo, Daia. — minha mãe a cumprimentou com um abraço caloroso.
— Muito mesmo. — Daia respondeu, com um sorriso que iluminava seu rosto.
Depois de trocar algumas palavras com minha mãe, Daia se agachou na minha frente, trazendo aquele olhar gentil que parecia sempre cheio de histórias boas.
— Dominica, esse é o Vance, meu filho. — Ela falou suavemente, gesticulando para o menino ao seu lado. Seus olhos brilharam com algo que eu não consegui decifrar, como se ela estivesse cheia de orgulho e um pouco de preocupação. — E, Vance, essa é a Dominica, filha da Gabriella.
Sorri para ele, um sorriso grande, mas ele só mexeu os lábios um pouquinho, como se fosse tímido. Parecia uma sombra — uma sombra que não assustava.
— Sejam amigos, tá bom, Dominica? — mamãe pediu, com aquele olhar que dizia que era importante.
— Sim, mamãe! — Respondi animada, embora não soubesse exatamente o que fazer para ser amiga dele.
Daia olhou para Vance.
— Vai procurar algo para ler, Vance. Que tal na seção infantil?
Ele olhou para mim antes de responder, como se estivesse pedindo permissão de um jeito silencioso.
— A Dominica pode ir comigo? — ele perguntou.
Mamãe hesitou por um momento, seus olhos indo de mim para ele.
— Pode — ela disse finalmente, acariciando meus cabelos. — Mas não vão muito longe. Seu pai chega daqui a pouco.
Eu acenei com entusiasmo, tentando mostrar que seria responsável. Quando Vance deu um passo em minha direção, estendeu a mão, e eu a segurei sem pensar. Sua mão era fria, mas o toque era suave, como se ele tivesse medo de me machucar.
Ele me levou até a seção que eu mais gostava — os livros de princesas. As capas brilhantes e cheias de cor me faziam imaginar reinos mágicos. Mas Vance não parecia interessado. Ele ficou parado, olhando para um livro como se estivesse tentando entender algo complicado.
— Você sabe escrever? — perguntei, curiosa.
Eu só sabia escrever "mamãe", "papai" e "Dominica". Isso já era uma conquista enorme para mim.
Ele balançou a cabeça afirmativamente, e meus olhos se arregalaram.
— Me mostra! — pedi, empolgada.
Ele se aproximou, e sua mão segurou meu pulso com cuidado, como se fosse feito de vidro. Senti um arrepio que não era ruim — era como um segredo sendo contado sem palavras. Ele passou o dedo pelo meu pulso, desenhando algo invisível.
— O que escreveu? — perguntei, com a voz baixa e curiosa.
Ele ergueu os olhos para mim, sérios, intensos, e apertou meu pulso um pouco mais forte.
— Minha.
O legado dos Volkov continua com "Minha Salvação".
Sem data de publicação.
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ᴍɪɴʜᴀ ᴅᴇsᴛʀᴜɪçãᴏ
AléatoireEu pensava que já tinha enfrentado demônios suficientes, mas ao encarar Kaiden Volkov, percebi que tudo o que vivi era apenas o começo do verdadeiro inferno. Ele transformou minha vida em um caos ardente, mostrando as várias facetas do diabo. Cada d...