"Caminhando em direção à morte"

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O desespero era um nó na garganta de Fernando, Mary, Mari e seu Luiz. Os rostos, antes cheios de vida, agora espelhavam a dor que rasgava seus corações. A mensagem na parede, escrita com o sangue de Dona Helena, era um grito silencioso, um lembrete cruel da ameaça que pairava sobre eles. Cada um carregava o peso da perda iminente, a angústia de não saber se veriam novamente, o amigo, o companheiro de quatro patas. A cada batida do coração, a esperança diminuía, e a certeza de que não aguentariam mais uma perda se tornava mais real.

Do lado de fora, a movimentação frenética dos policiais contrastava com o silêncio angustiante dentro da casa. Os agentes, com seus rostos sérios e olhares determinados, vasculhavam cada canto, cada fresta, em busca de qualquer pista que pudesse levar ao sequestrador. O cheiro de pólvora ainda pairava no ar, um fantasma do ataque que havia deixado marcas profundas.

Enquanto isso, Zeus, o fiel amigo de quatro patas, lutava contra a dor no consultório veterinário. A incerteza sobre seu estado de saúde era mais uma pedra no caminho da família, que já carregava um fardo pesado demais.

O cheiro de lavanda do casaco de crochê de Helena ainda pairava no ar, um fantasma de um amor que agora se esvaía. Seu Luiz, o rosto marcado por rugas profundas e olhos vermelhos inchados, abraçava a peça com força, como se pudesse sentir a presença dela ali. A incerteza, um monstro faminto, roía seu coração.

"Onde estará você, meu amor?", ele murmurava, a voz rouca de tanto chorar. As palavras ecoavam no silêncio da casa, carregadas de um desespero que o consumia.

Olhava para o céu, nublado e cinzento como seus pensamentos, e suplicava a Deus, com a fé de um homem desesperado, que a protegesse, onde quer que ela estivesse. Cada gota de chuva que caía sobre o telhado parecia um soco em seu peito, um lembrete cruel da dor que o dilacerava.

A noite caiu, lançando um manto escuro sobre a cidade. Os policiais, exaustos após um dia inteiro de buscas, finalmente encerraram as operações. Em casa, Mari e Fernando, com o coração apertado, conseguiram, com muito esforço, fazer Seu Luiz dormir um pouco. A exaustão se abateu sobre eles, e, aproveitando a trégua , deixaram-se levar pelo cansaço, buscando um descanso merecido, ainda que breve, para enfrentar a nova jornada que se iniciava com o amanhecer.

O silêncio da casa era quase palpável, tão denso que Mary podia sentir o peso dele em seus ombros. Era como se a noite estivesse segurando a respiração, esperando por algo. Todos dormiam, mas ela não conseguia.

O medo era um monstro invisível, que se espreitava nos cantos escuros de sua mente.

Precisava espairecer, respirar fundo e afastar aqueles pensamentos torturantes. Levantou-se da cama, os pés descalços tocando o chão frio. A casa estava mergulhada na escuridão, apenas a luz tênue da lua que se espreitava pela janela iluminava o corredor.

Caminhou lentamente, procurando um refúgio na quietude da noite. O jardim, normalmente vibrante e cheio de vida, agora parecia adormecido, como se estivesse esperando a aurora para despertar. O ar fresco e úmido a acalmou um pouco, mas a sombra do medo ainda a acompanhava.

Enquanto caminhava, Mary se lembrou das palavras de dona Helena: "A vida é um ciclo, querida, e a morte faz parte dele. Mas o amor, o amor é eterno." Ela respirou fundo, tentando encontrar consolo naquelas palavras. O amor era a única certeza que ela tinha, a única força que a mantinha de pé.

Mary:

Era de madrugada quando acordei com o toque do meu celular. Assustada, atendi:

- Alô, quem é? perguntei sonolenta, mas ninguém respondeu. Apenas uma respiração pesada vinha do outro lado da linha. De repente, uma voz distorcida falou:

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