"Culpado"

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Henrique:

Abraçar a Mary foi, sem dúvida, a melhor coisa que já fiz. Sabe aquele toque que abala todas as suas estruturas? Foi isso que senti quando ela me abraçou. Tudo nela é perfeito: seus olhos, seu sorriso, seus cabelos. A sensação de vê-la feliz segurando sua gatinha no colo é indescritível. Conversamos bastante e adorei conhecer seus gostos; percebo que temos muito em comum. Fico aliviado em saber que poderei vê-la todos os dias, já que ela vai morar com a minha avó. Hoje, a Mari preparou um almoço especial e almoçamos juntos como uma grande família. A sensação de estar em casa, de pertencer a um lugar, me invadiu e me fez esquecer dos meus problemas, algo que nunca aconteceu antes. A responsável por isso é a Mary, que chegou do nada e virou meu mundo de cabeça para baixo. Confesso que senti um certo desconforto quando ela disse à vovó que seríamos bons amigos, mas como posso dizer a ela que estou completamente apaixonado e que não consigo parar de pensar nela desde o primeiro momento em que a vi?

- Estava pensando na morte da bezerra, meu filho? pergunta meu avô.

- Não, vovô, são só problemas do trabalho.

- Eu te conheço, Henrique. Você estava pensando na Mary. Não precisa mentir para o seu avô. Eu entendo das coisas do coração, ele diz, sorrindo com a minha inquietação.

- É estranho como me apaixonei tão rápido por alguém que só vi uma vez na vida. Isso é demais para mim.

- Não se preocupe, meu neto. Se ela for o amor da sua vida e você o amor da vida dela, nada nem ninguém poderá impedir que isso aconteça. Acredite no seu avô, eu tenho experiência.

- Tudo bem, vovô, digo, levantando para atender o celular que começou a tocar. Preciso ir, vovô. Ao sair, atendo a chamada.

- Alô?

- Chefe, tenho péssimas notícias.

- O que houve? pergunto nervoso.

- Sua noiva foi atacada.

- O quê? Como ela está?

- Ela está desacordada. Levamos ela para o hospital.

- Já estou indo.

Era só o que faltava. Beatriz foi atacada e só espero que não seja grave. Por mais insuportável que ela seja, não desejaria sua morte ou que se ferisse. Sei que se algo acontecer, serei o único culpado por tê-la envolvido nessa história e usá-la para meus objetivos de vingança.

Ao chegar no hospital, procuro o médico para obter informações sobre o estado de Beatriz. Ele me informa que ela sofreu um ataque e foi gravemente ferida. Peço para vê-la e ele me acompanha até o quarto dela. Ao abrir a porta, vejo-a deitada na cama.

- Ela está sedada devido aos medicamentos, diz o médico, mas já não corre mais perigo.

- Eu vou esperar ela acordar, respondo, sentando-me na poltrona.

- Como preferir, qualquer coisa, é só me chamar.

Ele sai, me deixando sozinho com ela. Fico ali observando-a dormir. Se sua beleza pudesse falar, diria que ela é um anjo, mas sua personalidade conta outra história: é apenas uma garota mimada e fútil. Ela nunca menciona a mãe, apenas os avós. Uma garota problemática? Com certeza. Mesmo assim, não desejo o mal a ela. Assim que ela se recuperar, vou dar um fim nesse "relacionamento de fachada". Nunca fui apaixonado por ela, apenas a usei enquanto ela gastava meu dinheiro. Sei que isso é péssimo e não é atitude de um homem de verdade. O melhor a fazer é encerrar qualquer relação com ela.

Depois de adormecer, acordei e percebi que já era noite. Fui ao banheiro lavar o rosto e, ao voltar, vi a Beatriz acordando.

- Oi, Beatriz. Como você está se sentindo? Você está em um hospital; disseram que você foi atacada.

- Estou muito confusa, não lembro de muita coisa. Minha cabeça está doendo bastante.

- Tudo bem, depois conversaremos sobre isso. Vou investigar mais tarde. Agora você precisa descansar. Vou chamar o médico, digo enquanto saio para procurar o Dr.

- Olá, Beatriz. Como você se sente? pergunta o médico.

- Estou horrível, doutor. Minha cabeça dói, meu rosto, meu corpo também. Me sinto fraca.

- Não é para menos. Você caiu de uma altura bastante perigosa, e as dores no rosto são devido aos ferimentos que sofreu.

- Mas ela vai ficar bem, não é, doutor?

- Sim, sim. Com o repouso adequado e os medicamentos, ela vai melhorar.

- Eu quero ir para casa, amor, diz ela enquanto tenta se sentar na cama, mas algo na sua expressão me chama a atenção.

- Está tudo bem, Beatriz? Pergunto enquanto me aproximo dela.

- Henrique, eu... eu não consigo mover minhas pernas. Não sinto nada nelas, diz ela, desesperada.

- Calma, Beatriz. Você precisa se acalmar. O médico vai te examinar.

- Como você quer que eu me acalme, seu incompetente? Eu não consigo mover as minhas pernas!

- Senhor, poderia me acompanhar? Precisamos fazer alguns exames com a senhorita.

Vou até a recepção, sem conseguir acreditar que Beatriz não consegue mover as pernas. O que eu faço agora? Ela não vai suportar isso e vai sofrer muito. A culpa é toda minha. O que eu fiz, meu Deus?

Foram quase uma hora e meia de exames, e o médico me chamou para sua sala.

- E então, doutor, o que aconteceu com a Beatriz? Pergunto, nervoso.

- Senhor Henrique, sua noiva sofreu uma lesão na coluna que afetou a medula espinhal, e isso, infelizmente, é irreversível. Sinto muito, mas a Beatriz está paraplégica.

A palavra "paraplégica" ressoava em minha mente. O que eu faço agora? Eu arruinei a vida dela. Sou o único responsável por essa tragédia. Entro no quarto e a encontro chorando.

- Sinto muito, Beatriz, de verdade, digo enquanto seguro sua mão.

- Eu não merecia isso, Henrique. É demais para mim, não vou conseguir suportar.

- Você não está sozinha. Prometo cuidar de você.

- Promete que nunca vai me deixar?

- Eu prometo. Apesar das nossas diferenças, eu nunca te deixaria sozinha nessas circunstâncias.

- Sei que você se sente culpado, mas não preciso da sua pena, Henrique. Tudo o que sempre quis foi me casar com você, mas até isso você me negou. Pode sair, por favor, eu preciso ficar sozinha.

- Tudo bem, Beatriz. Até mais, digo enquanto me dirijo à porta.

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"Em algum lugar não muito distante..."

- E como foi?, deu tudo certo?

- Perfeitamente certo, meu querido. E esse é só o começo de tudo.

- Você é louco, dá medo sendo sincero.

- É bom ter medo mesmo. É exatamente isso que acontece quando se mexe com a pessoa errada.

- Soa como um verdadeiro psicopata.

- Eu sou muito bom quando eu quero, mas quando eu sou ruim eu consigo ser bem pior. Acredite. - diz o homem enquanto rir maléficamente, um riso frio e metálico que ecoa no vazio.

"O jogo apenas começou."

𝙼𝚈 𝙷𝙰𝙲𝙺𝙴𝚁Onde histórias criam vida. Descubra agora