"Armadilha"

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O volante treme nas mãos de Henrique, as batidas do coração ecoam em seus ouvidos como um tambor frenético. O endereço que Beatriz havia passado, rabiscado em um papel amassado, é a única pista que ele tem para encontrar Stella.

Henrique conhece a natureza de Beatriz: mesquinha, vingativa, capaz de qualquer atrocidade. A ideia de Stella nas mãos daquela mulher o enche de um terror visceral. Cada rua que passa, cada curva que contorna, aumenta a angústia em seu peito. O medo de chegar tarde demais, de encontrar Stella machucada, de não conseguir salvá-la, o console por inteiro.

Ele precisa ser rápido, preciso. A adrenalina o impulsiona, mas a incerteza o corroí. O que Beatriz pretende fazer com Stella?

Henrique apertou o volante com força, os olhos fixos na estrada. A cada segundo que passa, a necessidade de encontrar Stella e protegê-la se intensifica. Ele não pode falhar.

O ronco do motor do carro morreu em silêncio, a única companhia do crepúsculo que se espreitava sobre a casa velha, quase engolida pela vegetação. Henrique, com o suor frio escorrendo pela testa, aperta a arma com força, o metal frio transmitindo um pouco do pavor que o consome. A casa parecia respirar, as tábuas do assoalho rangendo sob o peso da história. A porta rangeu, e Henrique, com o coração batendo forte no peito, adentra a escuridão.

A única luz que rompia a penumbra vem de um cômodo no fundo, um convite silencioso para o terror. Henrique avança , cada passo um peso sobre a alma. A cena que encontra o congela no lugar, a arma quase caindo de sua mão trêmula.

Stella, sua irmãzinha de apenas onze anos, está em pé sobre uma cadeira velha, de madeira frágil, que parece prestes a se desfazer a qualquer momento. A corda, grossa e escura, pendia do teto, amarrada ao pescoço de Stella, apertando-o com crueldade. O olhar de Stella é vazio, perdido, seus olhos fixos no nada.

Atrás dela, Beatriz, a figura que Henrique tanto odeia, sorriu. Um sorriso cruel, cheio de triunfo, que parece zombar do desespero de Henrique. Seus olhos, frios como a morte, brilham com prazer perverso.

O ar ficou pesado, denso, carregado de medo e raiva. Henrique, com a voz engasgada, grita: "Beatriz, solte ela! Por favor, solte minha irmã!"

Beatriz, sem tirar os olhos de Henrique, responde com um tom de voz glacial: "Você chegou tarde, Henrique. Ela já é minha."

Henrique, tomado por um turbilhão de emoções, sentiu a fúria tomar conta de si. Ele não pode perder Stella. Ele precisa agir, e rápido. Mas como? A cadeira treme , a corda aperta, e o tempo parece esticar, cada segundo uma eternidade.

- Beatriz, por favor, vamos conversar. Solte a Stella, ela é apenas uma criança, Henrique implora, desesperado.

- Largue a arma ou eu quebro a cadeira e você se despede da sua irmãzinha chata, ela ordena com raiva.

- Tudo bem, ele responde, deixando a arma cair no chão.

- Sente-se na cama, Henrique, ela manda, e ele obedece, sentando-se na cama.

- Sabe, Henrique, eu sempre fui muito desejada. Confesso que gosto dessa atenção que recebo. E se tem algo que eu não suporto é ser ignorada, isso me deixa furiosa. Foi exatamente assim que me senti todas as vezes que você me desprezou. Eu sempre estive presente e você nunca se importou comigo, mas assim que aquela florista mendiga apareceu, você se apaixonou.

- Eu nunca te amei, Beatriz, e você nunca me amou. O que realmente importava para você era o meu dinheiro. Você não entende nada sobre amor.

- Você está certo, eu nunca te amei. Só queria me casar com você pelo seu dinheiro: - Eu só queria o seu dinheiro e aquela casa bonita, mas tudo deu errado por causa daquela ratazana. A propósito, ela gostou do presente? Escolhi a serpente mais venenosa que existe; uma picada e adeus.

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