"Perigo"

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Cinco meses se passaram e, como um jardim que renasce após o inverno, a vida recomeçava a florescer em volta de Dona Helena e seu Luís. A saudade de Henrique, um buraco negro em seus corações, ainda doía, mas a força do amor e da vida os impulsionava a seguir em frente. O sorriso, antes apagado, voltava a iluminar seus rostos, ainda que carregado de melancolia.

Fernando, o caçula, também sentia a falta do irmão mais velho, um vazio que ecoava em sua alma. Mas as lembranças, como um bálsamo suave, o reconfortavam, trazendo de volta a risada e a alegria compartilhadas. As histórias de Henrique, contadas por Dona Helena e seu Luís, se tornavam um escudo contra a dor, um lembrete do amor que jamais se apagará.

Mary, porém, ainda se afogava na tristeza. A partida de Henrique, um golpe brutal, a havia deixado em pedaços. A dor, uma ferida aberta e sangrante, a consumia por dentro. A saudade, um monstro faminto, a devorava, deixando-a vazia e sem esperança. Em seu coração, a lembrança de Henrique era um tormento, uma sombra que a perseguia sem trégua.

Para fugir da dor, Mary mergulhou de cabeça no trabalho, buscando na correria incessante um refúgio da solidão que a oprimia. Mas a fúria do trabalho, embora a mantivesse ocupada, não conseguia aplacar a dor que a consumia. A saudade de Henrique, um fantasma incômodo, a acompanhava em cada passo, em cada fardo que carregava.

Mary:

Meu rosto está péssimo, cheio de olheiras e com as pálpebras marcadas de tanto chorar todas as noites. Estou muito cansada, mas o trabalho se tornou meu refúgio para escapar da realidade. Na minha mesa, há muitos papéis, e Fernando assumiu o lugar de Henrique na empresa e na máfia. Decidi ajudá-lo, mesmo que dona Helena sempre diga que eu preciso parar de me afogar no trabalho. Preciso manter minha mente ocupada para não pensar na dor da saudade. Não consigo aceitar que ele se foi; se eu não tivesse visto seu corpo no caixão, teria certeza de que ele ainda está vivo. Sinto tanta falta dele.

- Como está minha funcionária favorita? pergunta Fernando animado.

- Estou bem, Fê, respondo desanimada.

- Não parece que está bem. Você não tem conseguido dormir à noite. E não adianta mentir, sou seu melhor amigo e te conheço bem, dona Mary. Faz o seguinte, tire o dia de folga, ele diz enquanto pega minha bolsa.

- Não, Fê, não quero ir para casa, muito menos tirar folga, protesto.

- Você não tem escolha, mocinha. Eu sou seu chefe e isso é uma ordem do seu melhor amigo que te ama muito, ele diz me abraçando.

- Sim, senhor chefe. Então até amanhã, digo me despedindo e indo em direção ao elevador.

Saio de lá sem saber muito bem para onde ir. Enquanto ando pela calçada, avisto uma floricultura e me pergunto como deixei de trabalhar com flores. Era o que eu mais amava fazer, vender flores, mas agora tudo parece sem graça.

Comprei um buquê de rosas vermelhas e deixei meu coração me guiar pelo caminho. Entrei no cemitério em direção ao túmulo do meu amado.

Sentei na grama e coloquei as rosas vermelhas no lugar das que estavam murchas.


- Oi, meu amor... sinto tanto a sua falta, Henrique. Sinto falta do seu sorriso. Sei que não estávamos tão próximos, mas nunca deixei de te amar. Você foi meu primeiro amor e nunca esquecerei quando você salvou a minha vida. Todos sentimos sua falta: seus avós, a Mari. O Fê assumiu a máfia e a empresa em seu lugar, agora ele é o "Mafiosinho". Ele também sente sua falta. Sempre lembramos de você como o homem incrível que era, amávamos até seus defeitos. Saiba que uma parte do meu coração foi com você quando se foi. Prometo seguir em frente por nossa família. E saiba, meu amor, que você estará para sempre em meu coração. Eu te amo e amarei eternamente.

O vento sussurrava entre as árvores, carregando consigo o lamento de Mary

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O vento sussurrava entre as árvores, carregando consigo o lamento de Mary. As lágrimas rolavam pelo seu rosto, molhando a terra fria do túmulo. Ela se agarrava à lápide, como se estivesse tentando segurar o amado que havia perdido. A dor era tão intensa que parecia sufocá-la.

Mas Mary não estava sozinha. Olhos escuros a observavam de entre as sombras, escondidos atrás de um tronco robusto. A figura, envolvida em um manto escuro.

Será que Mary jamais estaria livre? Será que a dor jamais a deixaria? Será que ela jamais encontraria paz?

Mary não sabia, mas o perigo estava bem perto dela. O destino cruel a aguardava, pronto para tragá-la em suas garras implacáveis.

 O destino cruel a aguardava, pronto para tragá-la em suas garras implacáveis

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