"De volta ao passado"

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Henrique:

Gabriel e eu estamos sentados, observando nossas namoradas enquanto elas escolhem roupas e sapatos. Elas parecem muito concentradas, e Mary sorri ao ver o jeito desajeitado de Tatiana.

- Como elas conseguem comprar tantas coisas em tão pouco tempo? Gabriel pergunta.

- Não faço ideia, mas o dia vai ser longo, viu?

- Você pode segurar isso pra mim, amor? Tatiana pede, colocando várias roupas em cima de Gabriel.

Ele fica completamente coberto por elas. De longe, vejo Mary olhando um vestido vermelho que ficará lindo nela.

- Você vai levar esse, amor?

- Acho que sim, é lindo, responde Mary, sorrindo.

- Vai ficar perfeito em você.

- Ei, chega! Hoje é dia de meninas, diz Tatiana, me afastando de Mary.

- Que crueldade, Tati! Gabriel, faz alguma coisa, não posso nem chegar perto da minha namorada.

- Oh meu Deus, como ele é dramático, Tatiana ri de Henrique.

- Não tem jeito, cara, estamos de castigo. E é melhor não contrariar, porque a Tati nervosa é bem assustadora.

Mary:

O passeio foi muito divertido, especialmente depois que Tatiana comprou quase tudo na loja. Fomos almoçar, tomamos sorvete e conversamos bastante sobre a reforma da casa do Henrique.

- Você gostou do nosso passeio, Mary? pergunta Tatiana.

- Eu amei! Precisamos fazer isso mais vezes.

- Vamos sim! Quer ir ao banheiro comigo?

- Claro, respondo, levantando e indo em direção ao banheiro. Tatiana me puxa e, sem querer, esbarro em uma pessoa.

- Desculpe, moça, eu não te vi, diz um homem alto e ruivo.

- Não tem problema, eu que peço desculpas.

- Vamos, Mary, diz Tati. Quem era aquele homem?

- Não faço ideia.

- Eu achei ele muito estranho, Mary.

- Eu também achei, Tati.

O dia foi perfeito, sem sombra de dúvidas. Gabriel e Tatiana se foram, levando consigo a energia vibrante que sempre carregavam. Henrique e Mary, por outro lado, se entregaram à quietude, à companhia um do outro, em uma atmosfera quase mágica. Mas será que essa calmaria era realmente boa?

O tempo dirá se a calmaria era apenas um prenúncio de algo maior, ou se era o início de uma nova fase, mais serena e profunda. Mas por enquanto, a dúvida permanece, pairando sobre eles como uma sombra, esperando para ser desvendada.

Henrique:

- Eu adoro estar em seus braços, Mary, diz Henrique enquanto ela o acaricia.

- Eu te amo, Henrique.

- Posso te levar a um lugar?

- Sim, meu amor.

- Então vamos, ele diz enquanto segura a mão de Mary e caminha em direção ao carro.

- Para onde estamos indo? Mary pergunta, curiosa.

- Vamos ao lugar onde cresci.

Estou levando Mary a um lugar que traz lembranças de felicidade e tristeza ao mesmo tempo. Faz muito tempo que não visito minha antiga casa, mas é hora de deixar o passado para trás.

- Chegamos, princesa. Saio do carro e abro a porta para ela.

- Esse lugar me traz lembranças ruins; foi aqui que vivi o pior dia da minha vida, ela diz, e eu sei bem do que ela está falando.

- Eu sei, amor. Também passei muitos anos aqui e tenho lembranças ruins, mas também vivi momentos bons, e quero muito compartilhar isso com você.

Entramos na casa, e uma série de memórias passa pela minha mente. Lembro da minha mãe e dos momentos felizes que tivemos, mas também recordo dos maus-tratos do meu pai.

Eu me lembro de todas as surras e castigos. Ele era um verdadeiro monstro, nunca amou a família que tinha. Ao olhar para os móveis, sinto uma onda de nostalgia; a mesa onde eu costumava desenhar ainda está lá.

- Está tudo bem, amor? - pergunta Mary, preocupada.

- Sim, amor, são apenas lembranças. Este lugar tem muita história. Vamos subir.

Subimos as escadas e vou em direção ao meu antigo quarto. Ao abrir a porta, vejo tudo coberto por lençóis. A cama em forma de carrinho está intacta. Abro a gaveta e pego os desenhos; eu adorava desenhar.

- Que fofo, amor! Você tinha talento para o desenho.

- Sempre gostei muito de desenhar.

Abro o guarda-roupa e vejo meus brinquedos guardados. Eu sempre tive tudo de bom e do melhor, mas a única coisa que eu não tive foi uma família feliz.

"Você teve uma infância difícil, não foi, amor?" Mary pergunta enquanto nos sentamos na pequena cama.

Eu suspiro fundo ao relembrar tudo que passei. "Sim, amor, minha infância não foi das melhores. Eu queria ser uma criança normal, mas meu pai era um mafioso e eu era o primogênito. Enquanto eu queria brincar, ele queria me moldar à sua imagem. Muitas vezes eu tentava fugir dos treinamentos e, quando meu pai descobria, a punição era apanhar e ficar trancado no quarto. Meu refúgio era minha mãe, Dona Lídia Gonzalez, a melhor mãe do mundo. Ela enfrentava meu pai para me defender e, por isso, também acabava apanhando. As coisas melhoraram um pouco quando Fernando nasceu. Eu tinha nove anos e fiquei tão feliz por ter um irmão. Mas, por outro lado, minha família estava se desmoronando a cada dia. Meu pai se tornava mais agressivo e minha mãe, com os hematomas, estava cada vez mais machucada. O consolo era saber que, apesar dos problemas, ainda tínhamos uns aos outros, pelo menos até completar um ano."

Fernando completou um ano e eu, dez. Nada havia mudado; as discussões entre meus pais eram frequentes. Minha mãe descobriu que meu pai a traía com outras mulheres, o que só piorou a situação. Ele a machucava com prazer. Para nos proteger, ela nos mandou para a casa dos nossos avós maternos. Passamos o tempo brincando com Hércules, o cachorro deles. O final de semana passou rápido e, ao voltarmos para casa, fui correndo procurar minha mãe, pois sentia muita saudade dela. Encontrei meu pai na varanda, mas ele estava estranho, com roupas sujas de sangue, o que me assustou um pouco. Subi as escadas em direção ao quarto da minha mãe, bati na porta, mas ela não abriu. Decidi entrar e foi aí que meu mundo parou: minha mãe estava caída no chão, ensanguentada, com uma faca cravada no coração. Ela estava morta. "Morta", disse Henrique, chorando, enquanto Mary o confortava.

- Amor, respire fundo, estou aqui com você. Nunca mais estará sozinho, eu te amo.

- Obrigado por estar ao meu lado. É difícil falar sobre isso, ainda dói muito.

- Eu entendo, meu amor. Também perdi minha mãe, mas agora temos um ao outro.

abraço Mary com toda a força que tenho. Sinto como se um peso tivesse sido tirado de mim. A cada dia, tenho mais certeza de que ela é o amor da minha vida.

- Eu te amo, Henrique, ela diz sorrindo.

- Eu também te amo, Mary, respondo dando-lhe um selinho.

- O que é aquilo, amor? Mary pergunta, apontando para cima do guarda-roupa. Eu olho e vejo uma gaveta embutida na parede. Rapidamente, subo na poltrona, abro a gaveta e pego uma pequena caixa de madeira. Entrego a caixa para Mary, que a abre.

- Amor, isso são cartas, ela diz, retirando um monte de cartas amarradas com um laço vermelho.

- Cartas?

- Sim, e são para você. Olha, eu pego as cartas com meu nome e abro a primeira. Meu coração se enche de alegria ao reconhecer a letra da minha mãe.

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