Não foram as sombras frias do dia que a fizeram estremecer, foi a raiva gelada que envolveu Jon Snow no momento que ele pareceu farejar o corvo que vestia a pele do menino que um dia fora Bran Stark de Winterfell. Fantasma mostrou as presas afiadas, os olhos vermelhos brilhando como fogueiras no escuro, a expressão de fúria feroz.
Sobre eles, Daenerys ouviu as batidas das asas de Drogon e de algum modo a presença de seu dragão abafou o medo que brotava sobre sua pele em forma de transpiração. Conte, veio a voz das profundezas de seus piores pesadelos. Sacudiu a cabeça e a esmagou. Sou do sangue do dragão.
Jon por sua vez, estava concentrado em um único ponto da mata. Era como se não a visse mais ou não estivesse mais ali. Como se tivesse sido arrastado para um lugar sombrio e solitário dentro de sua própria cabeça.
Fantasma tomou a dianteira, desaparecendo entre os galhos cobertos de neve. Jon deu um passo em direção ao lobo quando ela o segurou pela mão. Ele ainda tentou avançar, mas algo o fez parar. Ele olhou para a mão dela sobre sua, demorando-se sobre ela. Aos poucos começou a relaxar e envolveu a mão dela com a sua, apertando-a devagar, como se tentasse agarrar-se a ela.
- Precisamos ter calma - falou, pegando a tocha que ele carregava, era melhor ficar com ela. O brilho da tocha aumentou em suas mãos.
- Estive calmo por muito tempo - seu tom era grave e frio.
- Eu sei que está com raiva, mas precisamos pensar com calma. Ele pode ter informações que precisamos.
O olhar que ele lhe deu deixou bem claro o quanto ele não se importava. Parecia um cão em busca de sangue. Por fim suspirou carrancudo e assentiu.
Ela deu o primeiro passo, ainda segurando a mão dele. Bran era fonte de seus piores pesadelos, então ela conseguia compreende-lo. Ela mesma sempre perseguiu aquele momento, o dia que se vingaria, que derramaria o sangue dele. Mas perceber a mesma sede de vingança em Jon Snow, ouvir o que ele tinha para contar, dera a ela a sensação de que sabia muito pouco sobre tudo. Muito pouco sobre ela e sobre a batalha que tinha se preparado para lutar. Embora o odiasse, percebeu que estava pronta para arrancar de Bran o que fosse necessário para acabar logo com aquilo.
O cheiro doce da morte ficou mais intenso conforme eles se aproximaram. Nas sombras do bosque, Dany viu o anel feito de troncos de represeiros que coroavam o topo da colina. Eles emitiam uma luz leitosa e se perdiam na escuridão, mas Jon tinha dito que eram trinta e um. No centro, crescia um enorme represeiro, com as maiores raízes que ela já havia visto, brancas feito osso e se enterrando fundo na terra.
Os galhos do represeiro eram enormes e as folhas vermelhas farfalhavam, cobertas de neve. Uma árvore branca congelada com enorme raízes respirando o frio do inverno. Fora isso que Kinvara vira? - perguntou-se.
Era bem ali, naquela árvore, que Bran estava, sentado em um ninho de raízes emaranhadas. Fantasma o encarava, pronto para atacar ao menor sinal de Jon.
As raízes pareciam abraçar Bran, como uma mãe fazia com um filho. O corpo estava tão esquelético e as roupas tão apodrecidas que inicialmente Dany achou que estivesse morto porque aquele cheiro doentio só podia vir de um lugar. Mas a cabeça estava erguida e seus olhos brancos e vidrados olhavam diretamente para eles. A pele era pálida como de um morto e o cabelo se tornara esbranquiçado e quebradiço.
Sangue vivo escorria de sua boca e nariz. Raízes enrolavam-se em suas pernas como serpentes de madeira e os pés desnudos estavam negros, gangrenados de frio, mas ele não parecia sentir. Uma das raízes atravessava seus calções e emergia pelo ombro. Aos poucos, ele se fundia com a árvore, se tornando um só com ela. Era como se árvore prosperasse enquanto absorvia toda sua energia vital e ele definhasse. Ao lado dele, um corpo jazia petrificado pelo frio. Dany não conhecia Podrick Payne, mas desconfiava ser o que restara dele.
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Sangue do Dragão
RomanceDepois de queimar Porto Real e conquistar o Trono de Ferro, Daenerys Targaryen foi traída e morta pelo homem que amava. Seu dragão no entanto, Drogon, a levou para Volantis para que ela tivesse a chance de recomeçar uma segunda vez. Contudo, quando...