Algumas semanas depois – 19 de dezembro de 2015
Olhei pela milésima vez em volta, para o quarto, para ter a certeza de que não estava a deixar nada importante e que eu fosse precisar durante as próximas duas semanas. A nossa viagem para Portugal era daqui a cinco horas e ainda tínhamos de percorrer duas horas de caminho até ao aeroporto de Stansted. Resolvemos ir de comboio para poupar dinheiro e tempo.
"Vamos?" – pergunto, quando chego à sala onde as minhas amigas já estão.
Elas acenam afirmativamente, em concordância, e saímos de casa. Trancamos o apartamento e deixamos o prédio. Caminhamos com as nossas malas até à estação de metro que, felizmente, não é muito longe. A viagem até à estação de comboios é rápida, mas a espera que se segue pelo comboio que nos vai levar até Stansted quase me leva à loucura. Estou muito ansiosa por voltar a Portugal e o tempo está a passar super devagar, isto é horrível. Quando, finalmente, o comboio chega, quase que me ponho aos saltos no meio da estação, mas decido não fazer figuras tristes.
Eram 16h30 quando saímos do comboio. Ainda tínhamos de apanhar um táxi até ao aeroporto, mas o percurso não deveria tomar-nos mais do que quinze minutos. Após isso, apenas teríamos de passar pelo controlo de saída do país e esperar quase duas horas e meia pelo nosso voo.
"Estou morta por voltar a pisar solo lusitano." – a Madalena comenta, quando saímos do táxi com as nossas malas e caminhamos para o interior do grande edifício envidraçado.
"E eu! Esta noite nem consegui dormir nada de jeito." – comentei, rindo-me.
"Vai ser bom voltar a casa." – a Nonô concorda, sorrindo.
Uma vez que fizemos o check-in online, vamos logo para a zona de embarque, depois de passarmos pelos torniquetes e pelos sítios onde somos revistadas. Esperamos durante quase três horas, uma vez que nos despachámos mais rápido do que pensávamos e o avião vem atrasado cerca de vinte minutos. Finalmente, começamos a entrar no avião e um friozinho instala-se na minha barriga. Não é medo de andar de avião, de todo; é ansiedade e uma nostalgia crescente. Nos últimos três meses, Londres tornou-se claramente na minha casa, mas Portugal há de ser sempre o meu país – o sitio onde eu nasci, cresci e fui tão feliz! Dizer adeus a Londres custaria se eu não soubesse que voltaria daqui a algumas semanas; contudo, estou tão feliz por ir voltar a Lisboa que isso nem é uma preocupação para mim.
Não consegui evitar adormecer durante as duas horas e quarenta e cinco de voo de Stansted para Lisboa. A Madalena sacode-me levemente quando estamos a dez minutos de chegar, já a baixar muito consideravelmente. Acordo também a Nonô que se encontra do meu lado direito, no lado do corredor. Arrumo os fones e o livro que tirei durante a viagem e preparo-me para a aterragem – que é sempre a parte que me faz mais confusão.
Quando aterramos, eu e as raparigas deslocamo-nos até à zona do tapete rolante onde se recolhem as malas. Depois de termos dado entrada no país e de cada uma ter as suas respetivas malas, encaminhamo-nos para a zona de desembarque, onde os nossos familiares nos devem esperar.
Assim que vejo a Raquel, corro tão rápido para a abraçar quanto posso. Quando chego junto dela, abraço-a com força. Tinha-lhe prometido este abraço, pois sei como os últimos tempos têm sido difíceis para ela. Desabafou tantas vezes comigo e dizia quanto gostava que eu estivesse ali com ela para lhe poder dar um abraço de reconforto. E aqui está esse abraço. Sinto-a chorar agarrada a mim.
"Não chores." – murmuro, em jeito de pedido.
Ela abana a cabeça, afirmativamente, limpando discretamente as lágrimas. Os meus pais estão mais atrás e eu vou até eles para os abraçar também.
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Dream | l.t. ☑
FanfictionNem sempre as coisas são como queremos. Nem sempre as coisas são como sonhamos. Na verdade, raramente as coisas são como queremos e sonhamos. E, às vezes, a vida resume-se só e apenas a isso: a um sonho, mesmo que ele nunca se tenha chegado a realiz...