Caminho lentamente pelo corredor. Sinto as minhas pernas a tremer, tal como todo o meu corpo, mas tento manter-me firme. As minhas mãos estão a tremer mais do que alguma vez o fizeram e transpiram muito quando agarro a maçaneta. Respiro fundo. Fecho os olhos para não deixar as lágrimas escaparem. Volto a respirar fundo. E, finalmente, rodo a maçaneta.
O quarto está pouco iluminado, pois só há uma fresta da janela aberta e a luz é fraca. Há um pequeno corredor antes de chegar ao sítio onde a cama está. Paro-me, respirando fundo mais uma vez. Ainda não tenho a certeza de como vou reagir quando o vir naquela cama de hospital, mas eu preciso de o ver.
Caminho, a medo, até avistar a cama. Fico estática. As suas pálpebras estão fechadas, impedindo-me de contemplar os seus lindos olhos azuis. Prendo a respiração, por um pouco, mas depois continuo a andar até alcançar o cadeirão ao lado da cama. Sento-me, mas faço a minha mão alcançar a do Louis, de modo a agarrá-la. O seu corpo está quente, eu não sei do que estava à espera, mas isso descansa-me. Levanto-me um pouco, inclinando-me para deixar um beijo suave na sua testa. Há alguns arranhões plantados por todo o seu rosto e a sua bochecha direita tem uma cor roxa, mas, de resto, não há mazelas demasiado visíveis. A minha mão alcança a sua e eu prendo-as como se fossem uma só. Preciso de sentir que ele está aqui, isso ajuda-me a acreditar que tudo vai ficar bem.
Tenho tentado manter-me calma, tenho tentado controlar as minhas emoções, mas não consigo proibir que as lágrimas que seguro desde que aqui entrei escorram sem dó nem piedade pelas minhas bochechas. O meu peito dói de uma forma inexplicável e eu acho que essa dor só vai desaparecer quando eu voltar a ver as suas iris azuis e a ouvir a sua voz doce. Baixo a cabeça, enquanto deixo soluços altos escapar pelos meus lábios.
"Desculpa." – murmuro, ainda a chorar – "Desculpa por te ter posto nesta cama de hospital. Se nós não tivéssemos discutido, se eu tivesse tirado tempo para estar contigo, talvez tu não estivesses nesta cama de hospital horrível." – soluço alto – "Eu amo-te, não quero que duvides nunca disso. E se eu não estou contigo mais vezes, mais tempo, é porque não posso. Tal como tu não podes. Mas eu amo-te." – sorrio levemente, ainda que com todo o meu rosto lavado em lágrimas – "Eu amo-te tanto, meu Deus. Chega a ser insano, o modo como eu te amo. Eu nem se quer tinha a noção que era possível sentir-se algo tão forte por alguém ao ponto de tu quereres deixar tudo por essa pessoa. Eu deixei tudo para poder estar aqui contigo, agora. E talvez eu o devesse ter feito mais cedo, para te mostrar que por ti eu faço tudo." – não consigo parar de chorar, mas já nem tento – "Eu preciso tanto de ti. Por favor, acorda." – peço.
Os soluços altos que escapam dos meus lábios impedem-me de continuar a falar. Talvez a minha voz o acorde deste sono profundo. Talvez ele perceba o quanto eu necessito dele comigo. Eu nem sei se isto faz sentido, mas eu só queria que ele acordasse. Eu só queria fazer algo para ele ficar bem. Pensei que falar com ele pudesse ajudar. Mas eu já não sei de nada.
Continuo com a mão de Louis presa na minha. Deito a minha cabeça na cama, junto às nossas mãos dadas. As lágrimas continuam a cair pelo meu rosto, mas eu nem se quer me preocupo em controlá-las. Chorar alivia. Fecho os olhos, numa tentativa de amenizar as minhas dores de cabeça e, quem sabe, perceber que tudo isto é apenas um pesadelo.
"Eu preciso de ti." – volto a murmurar.
Levanto-me, deposito um beijo suave na sua testa e abandono o quarto de hospital, para dar a vez aos rapazes de o poderem ver.
***
Por muito que não tenha qualquer vontade de o fazer, eu tenho de ir às aulas. A minha disposição é nula, mas estamos na reta final do ano e eu não posso deixar cadeiras por fazer. Mesmo que me custe sair daquele hospital sabendo que a pessoa que eu mais amo no mundo está lá fechada, em coma, eu sei que não posso ficar lá trancada também.
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Dream | l.t. ☑
FanfictionNem sempre as coisas são como queremos. Nem sempre as coisas são como sonhamos. Na verdade, raramente as coisas são como queremos e sonhamos. E, às vezes, a vida resume-se só e apenas a isso: a um sonho, mesmo que ele nunca se tenha chegado a realiz...