Capítulo 05 - Sem motivos para festejos

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— E aí cara, há quanto tempo! — eu conseguia ouvir a voz animada de mais um dos amigos encontrando Caio.

Para quem não queria sair do quarto até que ele se socializou muito rapidamente, se você quer saber. Todas aquelas pessoas que eu não suportava pareciam ser amigos de Caio de longa data (fora os amigos de Mariana, que o cumprimentavam por protocolo). Comecei a achar que talvez não devesse ter dito pra Caio minha opinião sincera sobre os convidados.

Eu estava sentada na escada, cansada. Apoiava-me na parede, pensando se era possível fazer uma retirada estratégica pela direita ou se ainda era muito cedo. De lá, podia ver Caio passeando entre os convidados. O que me impedia de ir embora era que, de tempos em tempos, ele olhava na minha direção, para a escada, como se quisesse se certificar que estava tudo bem. Também podia ver Igor e Mariana, conversando aos berros (provavelmente sobre Alex Rodder) para superar o som ensurdecedor de algum funk. Também via as paredes, sofás, poltronas, cadeiras e tudo mais que era possível repleto de casais felizes ocupados com si mesmos. Senti-me meio enjoada, mas talvez a culpa disso tenha sido das três latinhas de cerveja que eu tinha andado tomando.

Tinha certeza que estava prestes a apagar na parede da escada. O fato de ambos os pais deles estarem ambos em plantão no dia do aniversário do filho fazia com que essa festa fosse possível de ser realizada e que ficasse rolando até eu sei lá que horas da manhã. Todavia, eu acordei cedo, por volta das seis da manhã e, ainda que amanhã seja sábado e eu possa dormir um pouco mais, eu estava me sentindo exausta. E não é como se eu pudesse dormir muito mais. Todo sábado de manhã tínhamos aula extra de pré-vestibular no colégio. E esse era basicamente o único momento no qual eu fazia algo remotamente parecido com estudar para o vestibular.

— Alguém como sono aí? — uma voz não identificada me perguntou.

— Não, impressão sua — respondi, irritada, abrindo os olhos.

Só para ficar mais irritada ainda.

— O que você está fazendo aqui? — disse entre dentes.

— Mariana me convidou — ele se sentou ao meu lado na escada, bloqueando o caminho de qualquer um que quisesse passar.

O que Mariana estava pensando? Será que isso é uma estratégia louca dela para me fazer tocar com ele?

— Se Caio te ver aqui é capaz dele te matar, você sabe disso, certo?

— Eu vim em paz — ele deu aquele sorrisinho sarcástico nojento.

— Você nunca vem em paz — retruquei.

— Eu sei que a gente não teve um término muito bom, mas Katerine, faz um tempo já. Achei que eu já tinha deixado bem claro para você tudo, tá na hora de deixar esse ódio de lado - ele tocou meu joelho e eu senti minha pele queimar.

Fiquei tentando não chorar. Não queria lembrar do passado, não queria que me jogassem na cara tudo que eu tive que passar, não queria, ACIMA DE TUDO, que ele fizesse isso.

— Vá embora — virei meu rosto para a parede, esperando que ele resolvesse atender ao meu pedido.

— A gente era tão bom junto, Katerine — ele murmurou e eu senti o calor da sua respiração no meu pescoço. — E agora eu tenho que ficar fazendo essas palhaçadas para chamar sua atenção de alguma forma, quando na verdade às vezes eu tenho vontade de me ajoelhar e implorar para você voltar para mim.

— Cala a boca — as lágrimas beiraram meus olhos, mas me forcei a permanecer firme e encarar a parede.

— Para você voltar pra mim, pra você voltar pra banda - ele continuou, mexendo no meu cabelo. - Sem você ela não é nada, eu não estou nem certo se eu sou alguma coisa.

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