Capítulo bônus - Unfollow (por Alex)

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Eu tive que pausar minha série para ter certeza de que tinha algo tocando que não fazia parte da trilha sonora. Nesse caso, o algo que tocava era meu celular. Descontrolado, na verdade, em cima da mesa. Talvez eu esteja ficando um pouco surdo. Fazer filmes de ação tem algumas desvantagens, tipo barulhos ensurdecedores quase o tempo todo.

Para não mencionar várias outras.

— Alô? – atendi, em inglês, quando vi que era a minha agente ligando.

— Até que enfim, meu Deus! – ela gritou. Se eu não estava ficando surdo antes, comecei a ficar com seu grito. – De que adianta ter um celular caro desse se não atende essa droga quando eu mais preciso?

— Desculpe, estava ocupado – respondi, tirando os óculos. Tinha esse hábito estranho de tirar os óculos em ligações telefônicas, mesmo quando eu sabia que a pessoa não podia me ver. Mas era o pânico: ninguém podia me ver de óculos. Acho que isso, inclusive, estava no meu contrato. Acho.

— Espero que ocupado signifique estudando os roteiros que eu te dei semana passada – ela pontuou. – Você sabe que nós temos um prazo para decidir qual será seu próximo papel...

— Ahã – concordei, olhando a pilha desorganizada de folhas em cima da minha mesa de jantar. – Com certeza, Sarah. Pode deixar. Realmente.

Porém eu não tinha tanta certeza. Eu já tinha dado uma olhada nos roteiros e não existia nenhum que me deixasse pelo menos ligeiramente interessado. Mas eu olharia de novo. Provavelmente era só uma questão de momento. E não era mesmo meu melhor momento. Acho que a quantidade de pacotes de biscoito abertos na mesa de centro era uma ótima ilustração de que aquele não era meu melhor momento. Mas eu não podia contar isso para Sarah.

— Seu personal trainer me ligou, Alex. Disse que você não aparece na academia faz uma semana e que você disse para ele que estava doente. Com algo infectocontagioso muito grave – ela disse. – Fiquei super preocupada! Então, tomei a liberdade de ligar para seu médico e ele disse que você não aparece por lá há mais de um mês, então, que doença nova é essa? Devo me preocupar?

— Não! – respondi de imediato. – Claro que não, eu já estou bem melhor. Vou retomar as atividades muito em breve.

— Ótimo – ela respondeu, entre dentes.

— Então, era só isso? – perguntei, encarando a televisão. Daenerys me encarava de volta e eu estava louco para saber qual seria o final daquele episódio de Game Of Thrones.

— Claro que não – respondeu, irritada. – Tem mais uma coisa para combinarmos... Sobre a première de Fogo no Telhado.

Ugh – gemi só de ouvir o nome da trilogia. – O que?

— A companhia fez uma promoção para seus fãs. Eles precisavam mandar uma letra original que embalasse o romance do seu personagem com a personagem da Gabriella – Sarah explicou. – O prêmio é uma viagem para Londres, para assistir a pré-estreia e bem... Conhecer você.

— O quê?

— Seria uma coisa rápida, um encontrinho no tapete vermelho, algumas fotos e pronto. Totalmente indolor.

— Sarah...

— Você não vai nem perceber, Alex. Pelo amor de Deus, são só cinco minutos...

— Sarah...

— Eu sei que você já teve experiências terríveis no passado com fãs descompensadas, mas essas parecem ser pessoas normais. Eu pessoalmente chequei. Quer dizer, pessoalmente não, né? Elas moram no Brasil...

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