Capítulo 23 - Tapa na cara

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Meu pai não apareceu.

Eu esperei até o último segundo por uma aparição e nada. O lugar ao lado da minha mãe permaneceu vazio durante toda a cerimônia de colação. Acho que minha mãe também ficou esperando por uma aparição especial – caso contrário, por que guardaria o lugar até o final?

Mesmo com essa frustração, continuei sorrindo. Afinal, não queria sair horrível nas fotos. Minha mãe já tinha comprado o pacote. Mantive a pose mesmo quando, do palco, avistei Caio na plateia. Meu coração parou por um segundo, no qual eu cogitei que ele estava ali por mim. Logo depois a realidade me acometeu e eu lembrei que era óbvio que ele estaria na plateia, já que sua irmã também estava se formando. Espero que ninguém tenha tirado foto desse momento de desilusão.

A cerimônia correu em relativa paz. Todos pareciam orgulhosos e, o mais importante, ninguém caiu. Aposto que a equipe de filmagem ficou desapontada. As quedas devem ser o ponto alto do trabalho deles.

Quando descemos do palco, devidamente colados, depois da experiência vergonhosa de assistirmos o vídeo de formatura (que continua algumas fotos minhas nas quais eu estava jogada no sofá da coordenação), a primeira pessoa que correu para me abraçar não foi minha mãe...

Foi Regina.

— Parabéns, Kate! Estou tão orgulhosa – ela disse, me apertando entre seus braços. – E sem nenhuma prova final!

— Obrigada, Regina!

— Desejo muito sucesso para você, Katerine. Você merece muito ser feliz.

É muito ridículo dizer que meus olhos se encheram d'água? Talvez, mas eles realmente se encheram. Eu culpo a emoção da formatura, mas existe uma pequena pulga atrás da orelha que levanta a suspeita que parte de mim duvida da minha capacidade de ser feliz. Será que minhas ações poderiam estar, de alguma forma, boicotando minha felicidade?

— Espero que você tenha sucesso nos SATs, querida – ela disse. – Adoraria saber que foi morar nos Estados Unidos!

— Hehe, tomara, Regina – eu respondi, mais na brincadeira. Mal sabia ela que nem meus pais sabiam que eu tinha feito essa prova. E que só existia uma possibilidade deu realmente fazer faculdade fora: BOLSA.

E essa possibilidade era absurdamente remota.

— Ai, minha Lady Gaga! – Só pelo grito eu já sabia que Igor se aproximava.

Regina aproveitou o momento para sair de fininho e Igor apareceu na minha frente, pulando feito um idiota.

— A viagem é AMANHÃ, você sabia disso? Amanhã!!!

— Eu sei, Igor. O embarque é o que, nove horas?

— Alô, menina, como você não sabe a hora do embarque? Eu programei 16 despertadores só para ter certeza que não vamos perdê-lo de forma alguma – ele me repreendeu.

— Ótimo, fico feliz. Não programei nenhum e vou depender dos seus – respondi.

— Ah, olha que cena... – Igor apontou para algo atrás de mim. – Não sei se suspiro ou vomito.

Olhei por cima do ombro para ver qual era a cena em questão. Arrependi-me. Era Roberto, entregando um buquê de rosas vermelhas para Mariana, que estava rindo com a mão na frente da boca, metade constrangida e metade encantada.

— A melhor parte da cena é o irmão dela – Igor comentou.

Só então reparei que Caio estava há alguns passos de distância, encarando a cena com uma expressão de ódio similar àquela do dia da revelação, no corredor de sua casa. Por sorte não existiam paredes por perto para serem socadas. Eu achei que ele estava melhor com a situação. Já fazia um tempo que os dois estavam juntos e até eu estava bem com isso, pelo amor de Lady Gaga.

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