Capítulo 55 - Vontade de explodir

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Eu caí no erro de atender meu celular na manhã seguinte. Em minha defesa, era cedo e eu só queria que o barulho parasse. Coloquei o telefone no ouvido toda troncha e murmurei algo que a pessoa do outro lado entendeu como uma saudação. Ouvi um monte de palavras sem entender nada, ainda com os olhos semi-fechados.

Miss Nunes, are you there?- A pessoa do outro lado gritou.

Yes – eu disse, subitamente nervosa.

Era do hospital. Eu demorei só mais três segundos para chegar a essa conclusão. Quando a pessoa do outro lado da linha repetiu, eu entendi tudo. Sentei na cama, me enrolando no edredom por conta do frio. Fiquei lá, feito um esquimó, ouvindo a atendente me dizer que gostariam que eu retornasse o quanto antes para o hospital, a fim de fazer os exames necessários para averiguar se é possível, finalmente, retirar meu gesso.

Eu deveria ficar feliz. Afinal, um gesso no braço por um mês era algo que incomodava.

Só que eu estava desolada.

— Podemos contar com sua presença hoje? – A pessoa do outro lado da linha perguntou, em inglês.

— Hoje? – Eu respondi, também em inglês. – Hoje não dá, já tenho um compromisso.

— Talvez amanhã? – A pessoa tentou.

— Pode ser quinta-feira? – Eu perguntei, tentando ganhar tempo.

— OK – a pessoa concordou. – Esperamos a senhorita aqui no dia 21, então. Se por acaso puder vir antes, é só aparecer – a pessoa ainda disse.

— OK, obrigada.

— Nós que agradecemos.

Desliguei o celular e joguei na cama, como se ele estivesse em chamas. Fiquei olhando para ele, ainda encolhida e enrolada naquele edredom quente e delicioso. Eu iria até o hospital, meu braço provavelmente estaria ótimo, tirariam meu gesso e a produção da promoção me colocaria no próximo voo para o Brasil.

Uma mensagem apareceu na tela do celular assim que eu terminei meu pensamento. Era de Alexander.

Olá. Passarei o dia enfiado em reuniões de apresentação de roteiro hoje. Nos vemos no final do dia?

Eu fiquei encarando a mensagem, sem me mexer, até a tela apagar novamente. Era bom. Havia uma chance deu responder, de sangue quente como estava, algo como Não sei se vamos nos ver no final do dia ou algum outro dia, já que preciso ir tirar meu gesso e depois disso vou embora para sempre.

A tela acendeu de novo. Era uma mensagem da minha mãe, toda em caps lock e com diversos pontos de exclamação. Ela andava ensandecida desde que Caio contou que eu estava na capa dos jornais como nova namorada de Alex Rodder. Eu vinha tentando ignorar todas as suas ligações – assim como as do hospital – mas eu respondia suas mensagens. Pelo menos isso a impedia de pegar um avião e me arrastar pelos cabelos para o Brasil.

Tiete!Onde histórias criam vida. Descubra agora