Capítulo 28 - Uma Piada

20.8K 2.5K 3.1K
                                        

Quando abri os olhos, tinha perfeita noção de onde estava, ainda que não me lembrasse claramente de todos os acontecimentos que me levaram até ali. Um quarto branco, em algum hospital de Londres.

Tentei me mexer, mas gemi de dor. Olhei envolta e só vi a mim mesma. A mim, aos gessos na minha perna e no meu braço e as duzentas flores que recheavam o quarto. O que era isso? Por que eu parecia estar enfiada em uma floricultura e não em um hospital?

Tentei me mexer de novo, mas novamente falhei. Uma dor aguda na minha costela me jogou de volta na letargia. Eu queria gritar, mas também tive medo que doesse. Uma enfermeira entrou no quarto com uma bandeja repleta de remédios. Quando me viu de olhos abertos, quase deixou cair tudo no chão.

— Querida! — ela disse em inglês, voltando a estabilidade. — Você acordou, que maravilha!

Aproximando-se de mim, apoiou a bandeja na mesa ao lado de meu leito e veio checar minha saúde. Tocou os meus gessos, viu meus olhos e arrumou melhor a atadura que segurava a agulha presa ao meu pulso

— Está com dor?

Eu balancei a cabeça afirmativamente, apontando para minhas costelas com o pulso da agulha. A dor era mais fraca, mas anda estava presente. Ela também assentiu, dizendo:

— Está mesmo na hora do seu analgésico!

Então se esticou para trocar as bolsas de líquidos que entravam em minha veia pela agulha instaurada. Eu forcei meus olhos para ler seu nome. Louise.

— É normal você se sentir um pouco sonolenta — disse ela, sorrindo. — Eu vou avisar ao médico que você acordou. Este é o controle de auxílio. Se você precisar de algo ou tiver alguma pergunta, é só apertar.

Ela colocou um pequeno controle na minha mão não imobilizada pelo gesso. Minha mão ardia com a entrada do remédio, mas me forcei a apertar o botão assim que ela virou de costas:

— Sim, querida? Alguma pergunta?

Eu assenti novamente, já começando a me sentir extremamente sonolenta...

— Sim, Louise... — disse, mas minha voz se embrulhou com a sonolência, tornando meu inglês ainda menos compreensível. — Por que estou numa floricultura?

~~~~

Quando acordei novamente, Mariana estava ao meu lado. Mais exatamente, Mariana estava assinando o gesso da minha perna, distraída. Observei-a, receosa de que ela estivesse fazendo uma arte abstrata.

— Mari? — Chamei, ainda sonolenta.

Ela derrubou a caneta com o susto.

— Finalmente, Bela Adormecida! — Disse, caminhando para sentar-se na cadeira mais próxima da altura do meu rosto, tirando um vaso de flores de cima dela. — Achei que você só ia acordar quando ele tivesse que colocar flores em cima da sua cama. — Antes de se sentar na cadeira, se inclinou para dar um beijo na minha testa. — Como está se sentindo?

— Ele? — Perguntei curiosa. Será que eu tinha um médico admirador? Ou um maníaco perseguidor? Eu tinha o direito de saber. — Quem é ele?

— Pelo jeito está se sentindo muito bem! — Disse, abrindo espaço ao lado da minha perna não engessada para se sentar na cama.

— Mari. — Reclamei da ausência de informações. — Ele?

Ela abriu um sorriso sapeca, mas foi interrompida por Igor, que eu nem sabia que estava por lá, que abriu a porta estrondosamente e entrou gritando mais estrondosamente ainda:

Tiete!Onde histórias criam vida. Descubra agora