Capítulo 49 - Lugar preferido

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No final de semana, Alex me levou para casa novamente. Não a minha, no Brasil. A dele. Ou melhor, de sua família. Tivemos que fazer uma grande estratégia para sair do apartamento, já que os fotógrafos continuavam apinhados do lado de fora. Sobrevivemos a base do estoque de comida de Alex e de entregas esporádicas, que o porteiro interceptava e nos avisava. Então Alex ligava o elevador só por tempo suficiente para nosso jantar subir por ele, sozinho.

Era sábado por volta de três da tarde quando resolvemos ir. Eu desci na frente, coberta dos pés à cabeça. Destranquei o carro e me esgueirei para dentro. Me alojei no banco de trás, agachada da forma mais compacta possível entre o banco do carona e o de trás. Para completar, me cobri com um casaco. Alex apareceu logo depois e se empoleirou na direção do carro de vidros escurecidos.

Não que eu estivesse vendo. Eu só supunha que era Alex.

― Tudo certo aí? – Ele perguntou, confirmando minhas suposições.

― Na medida do possível sim – eu respondi. – Por sorte não estou mais com a perna quebrada. Seria muito mais difícil fazer isso com essa limitação.

― Seria muito mais difícil fazer um monte de coisas que fazemos com essa limitação – ele pontuou.

Por sorte eu estava embaixo do casaco. Assim Alex não podia ver meu rosto corando.

― Here we go (Aqui vamos nós) – ele disse, quando o carro começou a se mover. – Don't move (Não se mova).

― Mandão! – Eu reclamei. Ele riu.

Eu conseguia ouvir a comoção, ainda que não pudesse enxergá-la. Ela começou com gritos, mas eu também ouvia flashes. Os mais ousados batiam no vidro do carro. Eu me encolhi ainda mais, horrorizada.

Alex permaneceu mudo. Eu conseguia imaginar seu rosto franzido, irritado com a invasão e julgando a todos com seus olhares mortais, lançados através de seus óculos escuros. Ele saiu dirigindo feito um alucinado e eu fiz o possível para não quebrar a perna de novo com aquela barbeiragem.

Pareceu uma eternidade até ele dizer que eu podia sair do meu esconderijo e voltar a ser uma pessoa normal. Ele parou no acostamento de um túnel e eu pulei para o banco da frente antes que ele pudesse sequer pensar melhor. Nem mesmo saí do carro.

― Eu encostei para você conseguir sair e entrar no carro normalmente – ele pontou, chocado.

― Achei que você soubesse que eu sou flexível – eu disse, com um sorrisinho.

Alex deu uma ligeira engasgada, ainda que não estivesse bebendo nada. Eu olhei pela janela, para evitar que ele visse minhas bochechas novamente rosadas. Intimidade era um problema. Me fazia falar coisas que depois me arrependia. Se bem que Alex, em si, já me fazia falar coisas que depois eu me arrependia. Desde o início ele parecia ter uma capacidade fantástica de tirar o pior de mim.

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