Ok, talvez as coisas estejam um pouco fora do controle. Ou, pelo menos, é isso que Sophie dizia, gritando do outro lado da linha.
— Sophie, você pode passar o telefone para David, por favor? – Eu tentei ultrapassar a fera entre um grito e outro.
— Não! Eu sei que você só quer falar com ele para dar notícias sobre aquela garota e eu não vou deixar você fazer isso – ela respondeu, emendando em mais uma chuva de repreensões.
— Ok, você pode passar o telefone para qualquer outra pessoa da casa, com quem eu consiga conversar de maneira sensata? – Pedi.
— Não, Alex, eu sou a única pessoa sensata nessa casa, você precisa me ouvir! Sou a única que quer seu bem – ela choramingou.
Sophie sempre foi bastante dramática, mas agora ela estava em outro nível. Eu tinha vontade de jogá-la para fora de casa toda vez que ela dava um desses ataques, mas minha mãe respirava fundo e colocava a culpa nos hormônios. A estratégia dela era ignorar minha irmã até ela desistir e calar a boca. Claramente eu não tinha essa paciência. Para ser totalmente sincero, acho que a minha mãe também não. A questão é que ela tinha um monte de coisas para fazer e se preocupar com os mimos da filha do meio devia estar muito mal cotado na sua lista de prioridades. O topo dela, desde o Natal, deve ser evitar que David se embrulhe em papel higiênico. Ele tem feito isso corriqueiramente para "ficar igual a Kate".
Talvez Sophie esteja certa, no final das contas: esse relato não parece muito o de uma família sensata.
— Então vamos fazer assim – eu palpitei. – Eu vou desligar. Daqui a pouco o telefone vai tocar de novo, você vai fingir que não ouviu e vai deixar a mamãe atender, tá bom?
— Alex! – Ela reclamou.
Eu não ouvi o resto da reclamação, pois já tinha desligado. Larguei o telefone em cima da bancada da cozinha e me joguei no sofá. A vozinha irritante da minha irmã ainda me atormentava, dizendo todo tipo de coisa ruim de Katerine ("aposto que ela nem quebrou a perna de verdade e está fazendo isso só para se aproveitar de você" ganhou o prêmio de mais sem noção dessa ligação).
Que nós não éramos um caso convencional, eu concordava. Eu e Katerine, quer dizer. É normal que as pessoas achem estranho, eu acho, um "famoso" ficar tão próximo de um fã. Se bem que eu não acho que Katerine possa se enquadrar como uma f㸠nem hoje, nem nunca, o que talvez só faça tudo soar mais estranho.
Que seja, é normal que as pessoas achem estranho um "famoso" ficar tão próximo de um... "não-famoso". Pensando bem, os únicos amigos "não-famosos" que eu tinha no meu círculo próximo eram aqueles que eu já conhecia antes da fama. Mas isso não é uma regra, ou um fato consumado... Era só uma questão de probabilidade. A probabilidade deu ficar amigo de um "não-famoso" era muito pequena quando eu mal conseguia conviver com eles.
O que todo mundo parece esquecer – até minha irmã – é que, um dia, eu também era totalmente desconhecido. TOTALMENTE DESCONHECIDO. Aquele cara esquisito que ninguém prestava atenção. E, para ser sincero, às vezes tenho bastante saudade do anonimato.
Deve ser incrível poder sair de casa para comprar remédio, comida, ir ao cinema, abastecer o carro, encontrar seus amigos ou qualquer coisa do gênero sem que você seja a capa dos sites de fofoca algumas horas depois. Eu já até me esqueci como é essa sensação. E poder usar óculos em público? Ter um facebook normal e não como Liam, o labrador? E poder voltar a usar minhas camisas de nerd?
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Tiete!
Ficção Adolescente"Mariana é minha melhor amiga desde sempre. Provavelmente quando nós duas estávamos na barriga de nossas mães já tínhamos um dialeto próprio e passávamos horas conversando. - Então a fofoca é que Alex está cotado para fazer um filme novo que vai ser...