Mari não entendia o motivo de tanto estudo. Minha prova do SAT era no último sábado de novembro e, na véspera, eu estava desesperada. A ponto de querer colocar ela para fora da minha casa para estudar mais. E olha que eu já estava estudando direto, sem parar, só para essa prova, desde o dia seguinte do jantar.
Sem parar, não. Eu parava toda vez que Mariana aparecia e começava a matracar.
- Kate, nossas provas só começam na segunda, você sabe, né? Por que você está estudando essa semana toda dessa forma louca? - ela questionava, empoleirada na minha cama, enquanto eu tentava estudar na minha mesinha.
Eu queria chorar toda vez que ela mencionava que nossas provas finais começavam na semana seguinte. Já estava exausta de estudar e só ia conseguir parar essa maratona na sexta-feira, dia da nossa última prova. Eu enrolava Mari, dizendo que precisava recuperar minhas notas (o que, de fato, não era totalmente uma mentira. Só era um problema para a semana seguinte). Claro que contaria para ela que fiz o SAT... Depois de fazê-lo. Assim como também contaria para meus pais. No momento atual, não conseguia. Era muita pressão.
Passei a semana inteira tentando evitar Mariana, mas era uma tarefa quase impossível. Mesmo quando ela não estava enfurnada no meu quarto, ela dava um jeito de se fazer presente. Normalmente através de mensagens de celular que tinham mais exclamações do que letras.
Eu tentava responder o mais rápido possível. Sabia que, quanto mais eu demorasse, maior era a probabilidade dela aparecer na minha porta.
Mesmo assim, eu sumi durante o final de semana. Tentei estudar tudo que podia no sábado, a ponto da minha mãe me obrigar a colocar um termômetro, certa de que eu estava muito doente. Não estava. No domingo coloquei meus fones de ouvido, aumentei o volume até o celular emitir uma mensagem me avisando sobre os perigos de ouvir música acima do volume recomendado e me conectei com Rooney a caminho dos SATs.
Quando voltei estava tão exausta que caí na cama e nem sequer respondi as mensagens de Mariana. Nem as li, para ser mais exata. Só dei conta de mim novamente quando minha mãe me acordou e me obrigou a checar minha temperatura novamente.
E aí eu estava doente.
Talvez seja culpa dos SATs, na verdade. A prova é tão extensa e demanda tanto de quem está fazendo que, talvez, febre seja uma reação comum logo depois. Talvez fosse estresse psicológico por ter que mentir tanto sobre esses exames. Minha mãe achou que eu passei o sábado fora fazendo outra prova de vestibular, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Na cidade do Rio de Janeiro, de universidade pública, só a UERJ não aceitava o ENEM e continuava com seu vestibular regular. Eu até fiz a primeira fase, mas calhou que a segunda caiu bem no final de semana que eu marquei os SATs. Os SATs no sábado, a UERJ no Domingo. Não dava para ter tudo, então desisti da UERJ.
Claro que não falei isso para ela. Para minha mãe, passei o sábado fazendo prova da UERJ, ainda que ela tenha sido só no Domingo. Minha mãe era muito desligada, viva quase em outro mundo e nem se deu conta disso tudo. Por sorte, não era muito fã de jornais, revistas e televisão. Só do Netflix e de Criminal Minds, o que cobria minha mentira. Meu pai também não tinha acesso à muitas fontes de informação quando estava embarcado, então tudo estava tranquilo.
Passei o domingo presa na cama, com uma mãe preocupada me dando remédios e tirando minha temperatura constantemente. Me senti com 5 anos novamente, sendo paparicada na doença por uma mãe superprotetora, que me ajudou até a entrar no banho. No final do dia, eu já estava melhor. Mesmo assim, fraca demais para levantar da cama. Continuei deitada, sentindo todos os músculos do meu corpo me agradecerem pelo descanso e só acordei no dia seguinte.
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Tiete!
Jugendliteratur"Mariana é minha melhor amiga desde sempre. Provavelmente quando nós duas estávamos na barriga de nossas mães já tínhamos um dialeto próprio e passávamos horas conversando. - Então a fofoca é que Alex está cotado para fazer um filme novo que vai ser...