Eu não sei quem foi que deu autorização para meus porteiros permitirem a entrada de Sarah no edifício sem que nem ao menos eu fosse informado. Isso significava minha agente invadindo a sala da minha casa com uma frequência bem maior do que a que eu gostaria. Da próxima vez, vou comprar um apartamento com PORTA. Essa coisa moderna de um apartamento por andar, com a entrada direto no elevador NÃO PRESTA quando se tem uma agente como Sarah.
É ainda pior quando ela chega e me encontra de pijamas, jogado no sofá, assistindo Demolidor no Netflix.
— Alex – ela gritou.
— Jesus! – eu gritei de volta, assustado com sua aparição repentina.
Levantei do sofá num salto, mas ela foi mais rápida do que eu – mesmo naqueles saltos altos finos – e já estava na minha frente antes que eu pudesse sequer terminar o movimento e me estabilizar de pé.
— O que você está fazendo com a sua vida? – ela disse, colocando as mãos na cintura. – Ou melhor, o que você está fazendo COM O MEU TRABALHO! Alex, não quero ter que procurar outro ator para agenciar!
— Do que você está falando? – perguntei, procurando ganhar tempo para bolar minhas justificativas.
— Você sabe muito bem do que eu estou falando, Alex! Faz mais de um mês que você está vivendo como um eremita! Não sai dessa casa para nada no mundo, exceto quando eu venho aqui e te arranco para fora pelos cabelos! Acho que eu vou ter que mudar para cá.
— Er, não tem necessidade – respondi. Na verdade eu queria ter respondido "Não, pelo amor de Deus!".
— Eu sei, não é seu melhor momento. Eu sei, Gabriella te largou e você está magoado. Eu sei, nenhum roteiro que eu te mandei é "minimamente interessante". Eu sei, Alex. Eu entendo. O que eu NÃO ENTENDO é porque você não está fazendo nada para mudar a situação!
Encarei-a. Não sabia nem como começar a corrigir o que ela tinha dito. Sim, não era meu melhor momento. Mas não, Gabriella não tinha me "largado". Foi uma decisão em comum acordo, que partiu mais de mim do que dela. Nós só começamos a sair por pressão de nossos agentes e dos produtores de Fogo no Telhado que entendiam que o casal principal ficar junto era um grande marketing para o filme. Talvez tenha sido. Gabriella era bonita, claro. Acho que fazíamos um casal digno das capas de revista que estampamos tantas vezes.
Mas Gabriella era chata.
Eu quase dormia em pé toda vez que ela desandava a falar sobre todo tipo de assunto desinteressante, como o novo esmalte que ela comprou ou qual era a mais nova famosa grávida do momento. Para falar a verdade nós não tínhamos absolutamente nada em comum, fora o óbvio: estrelávamos a mesma franquia de sucesso. E isso era suficiente para nos fazer conviver e viver como casal.
Não foram dias TERRÍVEIS também. Houveram dias terríveis. Houveram dias ótimos. Houveram dias médios. Houveram dias DEMAIS.
Foi por isso que tomei a iniciativa de terminar. Gabriella não aceitou muito bem, quebrou alguns vasos bem perto da minha cabeça e fez declarações bem desastrosas na mídia sobre mim e nosso relacionamento. Declarações bem desastrosas e bem mentirosas, também. Especialmente mentirosas porque ela NUNCA CITOU nosso término. Simplesmente começou a dizer que estava tudo ÓTIMO e que inclusive estávamos pensando em nos casar!
Você não pode imaginar a vergonha que eu senti quando minha mãe me ligou da minha cidade natal dizendo-se horrorizada porque ficou sabendo do meu noivado no TMZ e mais horrorizada ainda porque eu engravidei Gabriella de gêmeos antes mesmo do casamento!
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Tiete!
Ficção Adolescente"Mariana é minha melhor amiga desde sempre. Provavelmente quando nós duas estávamos na barriga de nossas mães já tínhamos um dialeto próprio e passávamos horas conversando. - Então a fofoca é que Alex está cotado para fazer um filme novo que vai ser...