Capítulo 24 - Alexella

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Assim que meus olhos abriram, me senti bem. A sensação durou apenas dois segundos, tempo necessário para que minhas pernas começassem a doer. Então percebi que havia algo errado. Rolei, tampando o sol que entrava pela janela com o braço. Largada na minha cama, me questionando qual era a razão das minhas pernas estarem doendo tanto, lembrei de tudo.

Estavam doendo tanto porque eu tinha passado a noite inteira enfiada num salto-alto.

Na minha festa de formatura.

A lembrança de Caio se casando com a outra garota pulou na minha mente e eu levantei num salto. Atordoada, caminhei pelo meu quarto em busca de estabilidade, ouvindo a voz de Mariana ressoando na minha cabeça "eu o vi com mais três... Com mais três... Mais três".

Foi quando dei de cara com as minhas malas prontas.

Tive vontade de me ajoelhar na frente delas e beijar suas rodas.

Finalmente o dia tinha chegado! Eu viajaria para Londres com Mariana e Igor em... Que horas era o voo mesmo?

Abri minha mala de mão e peguei o voucher das passagens. A hora de saída do avião estava prevista para nove horas da noite. A companhia aérea era francesa e nós faríamos uma escala na França, para trocar de avião. A duração do voo até Paris era de aproximadamente onze horas, o que nos faria chegar na cidade por volta de meio-dia, horário local. Essas informações, claro, estavam no voucher. Eu não saberia fazer conta de fuso-horário tão rápido assim. Depois, aguardaríamos pouco mais de uma hora em Paris e pegaríamos o avião para Londres. A previsão para chegar em Londres era uma e cinquenta, horário de Londres.

Fuso horário é uma coisa louca, realmente.

O que podemos inferir dessa confusão é que eu me inseriria num lapso temporal estranho que me deixaria em Londres por volta de duas horas da tarde, horário de lá.

A previsão de decolagem era nove horas da noite. Em letras garrafais, no final da folha, lia-se: POR FAVOR CHEGUE COM PELO MENOS TRÊS HORAS DE ANTECEDENCIA PARA REALIZAÇÃO DO CHECK-IN.

Três horas de antecedência, tudo bem. Eu precisava chegar perto das seis. Mas que horas eram?

Corri até meu celular, sob constante reclamação das minhas pernas e chequei o horário. Eram onze horas da manhã, o que significava que 1) eu só tinha dormido mais ou menos 5 horas desde a hora que deitei na cama depois da festa (perto das 6, já que a festa acabou as 5) e 2) faltavam menos de 7 horas para eu estar no aeroporto.

E eu ainda estava de pijamas.

E com a cara borrada da maquiagem da noite anterior.

Bem borrada.

Tipo, pior que um panda.

Pelo menos pandas são fofos. Eu não parecia NADA FOFA.

Saí andando pela casa, sentindo minhas pernas reclamarem a cada movimento. Se não fosse uma operação tão complexa, eu tiraria o par de saltos que estava levando para a viagem. Porém, só de pensar em abrir aquela mala, eu fazia uma careta. Tinha sido necessário uma operação em conjunto para conseguir fechá-la, para início de conversa. Os saltos ficariam lá. Se eu os usaria, ou não, aí já eram outros quinhentos.

— Kate, que bom que você acordou! – minha mãe disse, quando eu cheguei até a sala. – Estava deixando você dormir pois sei o quanto você está cansada, mas já estava preocupada com o horário.

— Ainda falta bastante tempo – eu apontei.

Era verdade, mas ainda faltava bastante coisa a ser feita também.

Tiete!Onde histórias criam vida. Descubra agora