Capítulo 22 - Oração da Lady Gaga

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— O que vocês acharam? – Mariana perguntou, desfilando com o que devia ser o nonagésimo casaco da tarde.

Estávamos desde cedo enfiadas dentro do shopping, fazendo "compras para a viagem". Já tínhamos comprado calças, blusas, uma máquina fotográfica nova (eu) e um diário de viagens (Mariana).

— Adorei! – tia Cláudia respondeu, batendo palmas com animação.

— Eu não vejo mais diferença entre os casacos depois de tantos que você já experimentou. Qual é a diferença entre o seu e o da Katerine, por exemplo?

Olhei para Mariana. O casaco dela era amarelo. O meu, ocre. Os modelos também eram totalmente diferentes. Um comentário desse só poderia vir de duas pessoas: Roberto ou Caio.

Como Caio não estava nos acompanhando na tarde de compras...

— Querido, fica quieto que não era nem para você estar aqui – Igor repreendeu Roberto, aparecendo com seu casaco azul bebê. – Amei e vocês? Achei que essa cor fica fantástica em mim.

— Gostei também – palpitei.

Igor virou na minha direção, com um sorriso no rosto. O sorriso não durou muito tempo depois que ele checou minha roupa.

— Já eu, odiei! Que cor horrenda, Katerine! – antes que eu pudesse me defender, ele já estava gritando pela vendedora e dando ordens. – Miga, traz uns casacos coloridos para ela, por favor? Essa cor de camaleão albino não dá mais.

A vendedora saiu gargalhando em busca de novos casacos e eu revirei os olhos.

Foi uma longa tarde na qual Igor fez questão de palpitar em absolutamente tudo. Nos meus casacos, nas minhas meias, nas minhas luvas, nos meus cachecóis e até na cor da minha mala.

Óbvio que eu fiquei ligeiramente irritada, mas verdade seja dita, Igor tem um senso de moda muito melhor do que o meu. Especialmente porque o meu é inexistente.

Ouvir Igor palpitando em tudo ainda era melhor do que ouvir Mariana, com uma lista aparentemente infinita de outras peças de roupas mais específicas para o inverno inglês, com coisas que eu nunca ouvi falar. Que raios é um snood, por exemplo? Segundo ela, essas peças eram caríssimas no Brasil e valeria mais a pena se fossem compradas na própria Inglaterra.

Toda essa ladainha, tanto de Igor quanto de Mari, ainda era melhor do que a ladainha de Roberto, que só sabia reclamar do quanto estávamos demorando e perguntar de cinco em cinco minutos quando nós íamos parar para comer alguma coisa.

Pelo menos minha mãe estava feliz, conversando empolgadamente com tia Cláudia. Espero que não seja sobre Criminal Minds. Não acho que esse seja o tipo de série favorito da tia Cláudia. Eu sei que ela tem os boxes de Gilmore Girls em casa.

O alívio foi duplo quando eu finalmente cheguei em casa. Não só porque eu já não aguentava mais um segundo daquela tortura, mas também porque meus braços não aguentavam mais carregar tantas sacolas – mesmo que eu tenha enfiado alguns dentro da minha mala nova.

Pensei que ia consegui descansar no Domingo, mas Mariana me arrastou para o shopping novamente. Ela tinha marcado com uma pessoa para repassar o ingresso de Maroon 5 – sim, aquele que eu dei de presente de aniversário para ela. O show iria ser no mesmo dia do nosso embarque para Inglaterra, então precisávamos vende-los. Nós duas ainda não tínhamos vestidos para festa de formatura, então ela uniu o útil ao agradável (na opinião dela) e me arrastou junto para que comprássemos um (ou dois, no caso dela. Ela quis me convencer a comprar um para a colação também, mas eu recusei veementemente. Ia ficar em baixo da beca, qual é a necessidade?).

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