Capítulo 14 - Hate myself for loving you

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Tudo bem, eu não ia me permitir chorar MUITO. Um pouquinho tudo bem, né?

Não que eu tenha tido muito tempo ou espaço para chorar. Mariana e Roberto - que resolveram não descolar mais desde que assumiram o namoro, acabando com meu estoque de digesan em três dias - estavam sempre por perto, basicamente me questionando o tempo todo sobre o que eu ia apresentar no show de talentos do fim da semana. Quando eles não estavam presentes, Igor estava. Segurando meus ombros e dizendo "calma, Kate, tá tudo bem" (ainda que eu não tenha dito em momento nenhum que estava mal, porque realmente não estava. Não sobre Mariana e Roberto, pelo menos). Até Regina se fez presente, dizendo "não vejo a hora de ver seu show no sábado!".

Então, quando os dias foram passando e Caio não deu sinal de vida, eu tentei me focar em outras coisas que não fossem a ausência de mensagens dele em meu celular. Tinha bastante tempo para fazer isso no caminho do colégio para o trabalho, visto que me recusava a continuar pegando carona com ele. Mariana chiou um pouco, mas entendeu. A única coisa mais urgente que eu precisava resolver era o que eu ia fazer quando subisse no palco do auditório do colégio no sábado.

Foi assim que eu me vi, na quinta-feira durante o expediente da loja, virando para Daniel e perguntando:

— Ei Dani, você por acaso tem alguma sugestão sobre o que eu posso apresentar depois de amanhã na minha tarde de talentos, no colégio?

— Depende - respondeu ele, segurando uma pilha de CDs da Anitta. - Qual é o gênero que você está procurando?

— Rock - respondi sem pestanejar. Vai que ele me recomendava O Show das Poderosas? Não saberia lidar.

— E você tem alguma preferência de tema?

Eu olhei para ele e suspirei, sabendo que havia uma resposta para esta pergunta, mas sem querer dar. Como se entendesse meu suspiro, ele esticou uma das mãos, desequilibrando só um pouco da pilha da Anitta e tocou meu ombro, dizendo:

— Já entendi. Coração partido.

Foi nesse exato momento que Rosângela deu um grito por de trás da bancada, dizendo que precisava ir ao banco "rapidinho" e que logo estaria de volta. Obviamente, eu e Daniel nos empoleiramos atrás da bancada, na frente do computador e passamos todo período sem supervisão vendo possíveis opções no youtube.

Depois que finalmente escolhemos, eu fiquei com pouco tempo para treinar a tablatura. Não era tão difícil assim, mas aprender qualquer coisa em dois dias é uma tarefa meio ensandecida. Especialmente para minha mãe que se dividia entre gritar de horror pela "barulheira" (quinta à noite e sexta de manhã) e parar na porta do meu quarto para ouvir meus treinos (sexta pelo resto do dia e sábado de manhã), o que provavelmente significava que eu estava melhorando.

No próprio sábado de manhã, quando estava fazendo uma das passagens finais do som e ela assistindo, resolveu perguntar:

— Filha, por que você não canta também?

— Cantar, mãe? Estou fora, hein - respondi, deixando a baqueta cair de tamanho horror. — Não sei cantar.

— Claro que sabe, querida - ela respondeu, se aproximando e pegando a baqueta para mim. - Você canta lindamente.

É óbvio que ela diria isso. Ela é minha mãe. Para ela, tudo que eu faço é lindamente. Só que eu tenho senso de ridículo e sei que lindamente não é, nem de longe, a melhor palavra para definir meu dom para cantar. Provavelmente estridente fosse uma definição mais verossímil.

Meu pai não estava presente neste fim de semana de novo e eu, sinceramente, nem lembrava se ele deveria estar e ficou preso no trabalho ou se simplesmente esse final de semana fazia parte do sistema regular de 15 dias lá, 15 dias cá. Quando eu era mais nova tinha um calendário para marcar coisas desse gênero. Hoje, procurava me importar com sua ausência o menos possível.

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