Olá pessoal!
Resolvi escrever este bônus, após o comentário de uma leitora, sobre o relato da história de amor da Georgina no capítulo anterior.
Bom, primeiro de tudo, gostaria de dizer que a Georgina do livro, é a fusão de duas mulheres reais, não sei se realmente interessa à alguém saber da história por detrás da história, mas me senti inspirada a dividir isso com vocês!
Então, vamos lá!!!!!!
Quando eu cursava o magistério (2005), tive que cumprir alguns estágios voluntários para o meu currículo, e um dos lugares escolhidos por mim, para colocar em prática tudo o que aprendia em sala de aula, foi a maior casa de repouso da minha cidade: "Lar Para Idosos Santa Isabel" (No livro coloquei Santa Inês, porque o colégio já se chamava Princesa Isabel).
Lá eu iria trabalhar a alfabetização na terceira idade. Foi realmente uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida. Posso dizer que, poucas vezes aprendi tanto sobre a vida, quanto aprendi naquele um ano estagiando no Santa Isabel.
Bom, conheci muitos moradores do Lar, com histórias incríveis... Mas todas tinham o mesmo tom triste e impregnado de melancolia. Não importava o que cada um deles tinha vivido lá fora, todos estavam alí, no mesmo lugar, e por mais que fossem muito bem cuidados, e tratados com muito carinho por todos os funcionários e voluntários, não era exatamente o lugar que eles gostariam de estar naquele momento da vida.
A minha criação para a personagem de Georgina se baseou em duas mulheres que moravam no Lar.
A primeira mulher, realmente se chamava Georgina, e era uma de minhas alunas no estágio. Ela não tinha nem 50 anos, eu acho, e estava no Lar desde que se conhecia por gente. É que, antes de ser casa de repouso, o lugar era um convento, e Georgina, que nascera com um leve atraso intelectual, fora deixada na porta das irmãs. Então, quando o lugar virou um Lar para idosos, decidiram deixá-la continuar vivendo lá! Portanto, ela era a moradora mais antiga da casa, mesmo não sendo a mais velha.
Georgina era uma mulher alegre, falante que só, e adorava cantar música caipira. O que mais me comovia, era o fato de saber que ela havia passado a vida inteira dentro daquele lugar, sem praticamente conhecer o mundo aqui fora, e, apesar de tudo, era uma pessoa muito feliz. (Ela era uma de minhas alunas preferidas, aprendi a valorizar muitas coisas que, antes de conhecê-la, me pareciam pequenas e sem importância).
A segunda mulher era dona Rosalina, e a história de amor do livro foi inspirada na história dela!
Dona Rosalina não era minha aluna, ela era idosa demais para participar das aulas, e tinha alguns problemas de saúde também!
Como éramos voluntários, meus amigos de curso e eu, geralmente ficávamos um tempo a mais no Lar, após o horário do estágio (a cena do Robert e da Ísi, assistindo desenho animado na sala de recreação, e ajudando a servir a sopa para os "velhinhos mais velhos", foram vividas inúmeras vezes por mim e por meus amigos).
Quando não estávamos vendo desenho com eles, ou ajudando a servir a sopa, estávamos andando pelos corredores do Lar, indo de quarto em quarto, visitando os velhinhos "acamados" .
E foi numa dessas andanças que conheci dona Rosalina!
A descrição do quarto dela, feita pela Ísi, é exatamente de como me lembro que era. Na verdade, boa parte da cena foi descrita exatamente como aconteceu quando a conheci.
Quando entrei no quarto, ela perguntou meu nome, e disse q não me conhecia, depois me convidou para sentar. Eu puxei um banquinho pra perto da cama e sentei. Ao lado da cama havia um armarinho de ferro, desses com duas gavetinhas, tipo armarinho de secretaria de escola, e, em cima dele, havia, alem de alguns bibelôs de anjos e bailarinas, velhos e empoeirados, um porta retrato, muito antigo, com a foto de um rapaz vestindo a farda branca da Marinha.
Ele era muito bonito (os caras de antigamente tinham pinta de galã de cinema) e eu perguntei à ela quem era aquele.
Confesso que não me lembro o nome real de Tomas Ardi, mas me lembro perfeitamente de sua história de amor.
Dona Rosalina era natural de Fortaleza, e foi lá que ela e Tomas, se conheceram, quando ela tinha 14, e ele 17 anos!
Os dois se conheceram numa pracinha, perto da escola em que ela estudava. Foi amor à primeira vista, e os eles passaram a se ver todos os dias durante um bom tempo, sem nunca conversarem. Ela sentava em um banco, ele sentava em outro banco, e os dois ficavam se olhando.
A primeira vez que ele foi falar com ela, foi para se oferecer para lhe comprar um sorvete, e então os dois começaram a "namorar" (o namoro consistia em chupar um sorvete por dia na pracinha, quando ele tinha dinheiro, e ficar conversando, só)
Dona Rosalina, não quis contar sobre o namoro em casa, pois seu pai era muito religioso. Tomas dizia que, quando ela estivesse pronta, a levaria para conhecer sua família.
Mas antes que os dois pudessem decidir o melhor momento para contar a verdade, a irmã de Tomas passou pela pracinha e o viu com dona Rosalina.
Isso não seria um grande problema, se dona Rosalina não fosse uma garota negra e mais pobre que a família branca de Tomas.
A família dele proibiu qualquer tipo de contado entre os dois, e a irmã dele passou a ser a vigia.
Bom, resumindo, o namoro acabou antes mesmo de começar.
Meses depois, quando completou 18 anos, Tomas entrou para Marinha do Brasil, e foi viver no estado de São Paulo. Dona Rosalina não terminou os estudos, pois teve que começar a trabalhar como empregada doméstica para ajudar a família.
Quase um ano depois da partida de Tomas, dona Rosalina recebeu a visita da irmã do seu amado, sim, a mesma que dedurou o namoro dos dois. A garota lhe entregou um envelope com uma fotografia, e uma dezena de cartas escritas por Tomas no último ano, todas com declaraçoes de amor eterno (Sim, eu li cada uma das cartas, e chorei em todas elas. A troca de cartas entre Ísi e Sara, foi inspirada nas cartas reais de dona Rosalina)
Os anos passaram e dona Rosalina, ao contrário da Georgina do livro, não conheceu nenhum outro homem por quem sentisse algo forte.
Não me lembro exatamente em quais circunstâncias, mas o pai dela faleceu, e ela, que já não tinha a mãe, decidiu, com sua irmã mais nova, vender a casinha e tentar a vida em São Paulo, (era o estado em que Tomas dizia estar em suas cartas), vieram parar aqui em Guaratinguetá, no interior do estado.
A irmã de dona Rosalina se casou um tempo depois, teve dois filhos, mas as duas continuaram morando juntas por muitos anos. Até dona Rosalina começar a envelhercer e a dar "trabalho" demais para a irmã e o restante da família!
O Lar Santa Isabel, foi a solução mais viável encontrada, para acabar com todos os "problemas".
A história de amor de dona Rosalina era famosa entre todos no Lar. Ela costumava contar repetidas vezes durante o dia. Durante o tempo em que estagiei lá, perdi as contas de quantas vezes escutei esta história, e li as cartas, e chorei.
Dona Rosalina sempre terminava seu relato com um soriso no rosto e com um orgulho genuíno ao revelar que:
"- Eu ainda me conservo menina!"
Ela nunca mais teve notícias de Tomas, não soube se ele casou, se ainda estava vivo, ou se ainda a amava.
A última vez em que estive no Lar Santa Isabel, foi há uns quatro ou cinco anos, (a vida começa a ficar corrida e você deixa algumas coisas para trás, mesmo sem querer), e Georgina estava bem, feliz e sorridente como sempre, mas dona Rosalina já havia falecido há algum tempo. Fiquei sentida com sua morte, mas não posso dizer que fiquei triste, pois ela foi a primeira pessoa que conheci, que viveu uma história de amor digna de ser lembrada, apesar de não ter um final feliz.Bom, pessoal... É isso, essas foram minhas inspirações para criar a personagem Georgina, uma mulher forte, apesar de todos os sofrimentos da vida... Que mantém o espírito jovem, e um sorriso no rosto.
Espero que tenham gostado, e que não tenham se importado com essa "intromissão" da vida real no meio da ficção!!!!
Kkkkkkk
Bjs bjs, e até mais!!!!Obs: só para vocês saberem, João Ribeiro também é real!
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Intrínseco
Fantasía"Será mesmo possível alguém se apaixonar pelo seu próprio anjo da guarda? Acredito que sim, pois eu estava, irreversivelmente, apaixonada pelo meu. E por mais bizarro e absurdo que pudesse parecer, por um milagre, ele também estava apaixonado por mi...