26. Eu Sinto Você

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duas tragédias na vida: uma, a de não satisfazermos nossos desejos, a outra, de os satisfazermos. - Oscar Wilde

Quatro e cinqüenta e oito da manhã, quando meu celular apitou, avisando que eu havia recebido uma mensagem. Tateei numa busca cega pelo objeto barulhento. Com muito esforço e movida por uma curiosidade desigual, apertei o botão para verificar o número de quem estaria me mandando mensagens àquela hora.
Num salto levantei-me da cama, corri para a janela do quarto e abri a cortina, e lá estava ele, parado em frente ao meu prédio, diante de seu carro, olhando pra cima.
Meu coração perdeu o ritmo, uma felicidade me invadiu e, involuntariamente, soltei um
gritinho de contentamento.
Robert acenou pra mim, e eu apenas sorri, porque não era capaz de fazer nada mais diante do choque de surpresa que meus instintos haviam sofrido.

"Estou te esperando aqui fora, coloque um agasalho e venha até aqui, preciso te
mostrar uma coisa - R!"

Essa era sua mensagem. As palavras que haviam me arrancado da cama num rompante. Tirei a camisola e me enfiei, o mais depressa que pude, dentro de uma calça jeans e uma blusa de mangas curtas. Calcei meus tênis, coloquei um cardigã fininho e corri para o banheiro para escovar os dentes e tentar desamassar meu rosto com um pouco de água fria. Sem fazer o mínimo de barulho saí do apartamento com o coração acelerado.
- Oi! - disse Robert, quando me aproximei - Vamos, quero te mostrar uma coisa - ele inclinou-se para mim, enquanto abria a porta do carona.
Fechei os olhos e inalei o seu perfume natural de anjo. Abri os olhos depois de alguns segundos e me deparei com o seu meio sorriso devastador, enquanto ele me olhava encostado na porta aberta do carro.
__ Vamos? - insistiu, indicando com um aceno de cabeça o banco do carona.
- Aonde vamos? - perguntei enquanto entrava no carro.
- É surpresa! - sussurrou, ajudando-me com o cinto de segurança.
Tive que prender a respiração e tentar pensar em qualquer outra coisa que não fosse as mãos dele tão perto de mim.
__ Você disse que me ligaria e não me ligou! - acusei, quando ele assumiu o banco do
motorista.
__ Eu estava um pouco... ocupado, me desculpe por isso. - as desculpas pareciam sinceras, mas ele estava sorrindo demais para parecer arrependido.
__ Ocupado? E posso saber com o quê? - não era minha intenção soar controladora, mas foi exatamente assim que me senti quando terminei a pergunta. Uma controladora desesperada e neurótica. Ridícula também.
Robert olhou-me de lado e, ainda sorrindo demais para parecer arrependido, balançou a cabeça negativamente para mim.
"Mil vezes ridícula!" Jurei a mim mesma que nunca mais faria papel de mulherzinha insegura.
__ Esqueça o que eu disse! - resmunguei, ligando o rádio e procurando por alguma estação que prestasse - E então, por acaso está me sequestrando? - perguntei, quando ele entrou na rodovia principal que ligava a cidade ao interior.
- Eu não diria que isso é um sequestro, pois não pretendo pedir nenhum resgate.
- Então está me raptando! - concluí.
- Isso. - concordou ele. - Essa palavra me parece mais apropriada para a ocasião, apesar disso também não ser um rapto. - refletiu ele consigo mesmo. - Por que você precisa usar estes termos para definir minha atitude?
- Porque vou precisar de uma desculpa quando minha irmã me perguntar onde eu estava.
- E pretende dizer a ela que te raptei?
- Sim, pretendo! - afirmei com convicção, para parecer mais verdadeira.
Ele riu divertido, enquanto fitava a estrada. Senti meu coração se aquecer dentro de mim. O sorriso dele seria uma surpresa eterna para o meu coração.
- Bom, já que não tenho nenhuma chance de escapar de seu rapto, você poderia pelo menos me dizer para aonde estamos indo? Assim posso ficar mais tranquila.
- Eu já disse que é surpresa e você não tem motivos para não estar tranquila, sabe que não te acontecerá nada de mal enquanto estiver comigo.
- Por isso ficarei com você pra sempre - murmurei, virando-me para encará-lo. O calor em minhas palavras acendeu os olhos de Robert e senti que não precisava de mais nada no mundo enquanto ele existisse pra mim, enquanto fizesse parte da minha vida.
Após vários quilômetros dirigindo na rodovia principal, Robert entrou em uma bifurcação, seguindo para o sul, e lá embaixo, a minha direita da estrada, pude contemplar com fervor um mar de chumbo com ondas derretidas quebrando nas pedras da encosta.
Abri o vidro da janela e inclinei meu corpo o máximo que pude para vislumbrar melhor a paisagem que se estendia diante de mim.
Robert sorria enquanto via minha excitação infantil. Ele seguiu dirigindo por um caminho totalmente contrário ao que eu esperava. Ao invés de descer pela estrada asfaltada em direção à praia, virou a esquerda, numa estradinha de terra, que nem deveria estar ali, subindo em direção a algumas pedras grandes, deixando o mar lá em baixo, cada vez mais distante.
- Por que não vamos até a praia... já que estamos aqui tão perto? - resmunguei.
- Tudo no seu tempo, - disse ele sem tirar os olhos da estrada de terra - e sem perguntas,
assim fica muito difícil te fazer qualquer surpresa, sabia?
- O interesse em saber o que está por vir é uma característica natural da minha
personalidade. Não posso me controlar. - respondi como justificativa.
- Eu chamaria esse interesse incontrolável de curiosidade - alfinetou ele, seguindo em frente.
Revirei os olhos.
- Que seja, mas não tenho culpa, essa é uma característica genética que herdei dos dois lados da minha família - defendi-me sem muito sucesso.
Robert riu meneando a cabeça.
- Vamos! - disse, parando de repente o carro e descendo para me ajudar a descer também.
- Aonde vamos? - perguntei correndo os olhos a nossa volta. Não havia nada ali além de grandes rochedos por todos os lados.
- Sem perguntas - advertiu-me novamente.
__ Ainda estamos no Rio, não é? - perguntei, tentando me localizar.
Robert riu.
- Venha! - disse, começando a subir por um
caminho tortuoso de pedras.
Eu o segui.
O dia ainda não havia clareado, de modo que eu não conseguia enxergar com precisão o lugar onde estava pisando. "Só ele mesmo pra me tirar da cama a essa hora, e ainda me fazer caminhar no escuro." Era o que passava em minha cabeça a cada passo mal dado.
Caminhamos na penumbra por pelo menos vinte minutos. O vento gelado uivava cada vez mais alto à medida que íamos subindo. Quando finalmente chegamos ao alto do penhasco eu estava ofegante, e um suor fino escorria por minhas costas, mas a visão que tive superava qualquer exaustão.
O mar estendia-se infinitamente a minha frente. Imenso. Verdadeiro. Grandioso.
- Robert! - exclamei com um sussurro fervoroso, enquanto encarava o mar.
Tornei-me incapaz de encontrar qualquer outra palavra que expressasse o que eu sentia naquele momento, por isso optei por pronunciar a única palavra que, pra mim, superava toda e qualquer beleza existente no mundo.
- Robert! - repeti, sentindo a nostalgia tomando conta de meu ser.
Senti-me inteiramente hipnotizada pelo oceano.
Céu e mar encontravam-se, o horizonte tornara-se inexistente, confundindo minha visão, não me permitindo saber exatamente onde terminava o céu ou onde começava o mar. Ambos eram cor de chumbo e completavam-se inconscientemente.
Ali em cima, o vento uivava ainda mais poderoso, mais imponente, dono de tudo. Caminhei para a ponta do penhasco. Meu coração acelerado. Abri os braços, recebendo, agradecida e maravilhada, a carícia do vento em meu corpo. Era como voar, ou como eu imaginava que devia ser. Fiquei ali alguns minutos, deliciando-me com a sensação. Robert continuava em silêncio, alguns passos atrás de mim. Encarei o oceano vasto e calmo. Tão calmo que parecia imóvel; tão imóvel que parecia sólido; tão sólido que eu seria capaz de caminhar sobre ele.
O alvorecer estendia-se pelo céu, senti Robert ofegar atrás de mim, e foi então que percebi, entre o chumbo do mar e o chumbo do céu, lá no fundo da imensidão, insinuar-se lentamente, um facho mínimo e cintilante de luz alaranjada, um pequeno meio círculo brilhante e perfeito.
Era o sol nascendo.
Os primeiros minutos do dia. Um amanhecer sobre o mar.
- Isso é... tão lindo! - exclamei quase sem voz, virando-me para encarar o "garoto" que estava me dando aquele presente. Eu queria agradecer-lhe por me permitir vislumbrar aquele momento mágico, mas a imagem que vi diante de meus olhos quando me virei era ainda mais linda do que qualquer nascer do sol.
Sem dúvida a visão mais linda que um ser humano poderia ter na vida. Agora eu estava completamente sem voz.
Lentamente caminhei para ele, o coração sendo inundado por uma mistura de sentimentos: curiosidade, êxtase, incredulidade, alegria infinita, paz, surpresa, amor...
Sobretudo, amor.
Robert estava imóvel, olhando-me docemente, os olhos um pouco diferentes dos olhos do Robert que eu conhecia, o cinza havia cedido gentilmente todo o espaço para o mais azul dos azuis. Eram olhos d'água aqueles que me olhavam com tanta doçura.
Ele era um anjo. Robert era mesmo um anjo. Melhor que isso.
Ele era o meu anjo.
Sua camiseta havia sido colocada sobre uma pedra. E um imenso par de lindas asas, alvas como nuvens numa tarde de primavera, pendia de suas costas bem desenhadas. Eram asas exatamente iguais as que eu estava acostumada a ver nas figuras de anjos dos calendários que minha mãe tinha pregado na porta da cozinha, mas por mais parecidas que fossem, estas tinham algo especial, pois eram... reais, e não meros desenhos em um papel.
Aproximei-me ainda mais dele, tentando entender do que as asas eram feitas. Estreitei-os olhos.
Pareciam... plumas?
Sim, eram plumas. Óbvio. Muitas plumas. Branquinhas e felpudas, unidas umas as outras.
"Lindo!"
Senti minha boca se abrir de pura admiração.
- Ah! - arfei sem ar, tentando encontrar as palavras dentro de minha cabeça. - Os anjos... realmente têm... asas! - exclamei num murmúrio de descoberta.
Robert sorriu para mim, e então pensei que eu iria desmaiar. Devia ser pecado alguém ser tão bonito a ponto de fazer o que ele fazia comigo.
Aquele anjo estava em pé na minha frente, seu corpo era tentadoramente perfeito demais para que eu não sentisse um impulso incontrolável de tocá-lo. Puxei o ar para dentro dos pulmões com força; não deixaria que minha falta de controle estragasse o momento.
Mas então... Robert estendeu uma mão para mim, num gesto muito convidativo.
Não recuei, mas também não fui capaz de avançar um passo sequer.
- Não tenha medo! - sussurrou-me, com sua voz perfeitamente rouca.
Continuei paralisada. Não sentia medo, jamais sentiria medo dele, mas, por alguma razão idiota, eu não conseguia me mexer, talvez tivesse a ver com o fato de que eu não conseguia acreditar que aquilo era mesmo verdade.
Com um gesto lento, Robert deu um passo a frente, vindo na minha direção, ficando mais perto do que eu achava que podia suportar.
Tentei continuar respirando.
Ele estendeu a mão até o meu rosto, e me tocou de leve. Seu toque era delicado, suave.
"Incrível!"
Não houve choque, nenhuma reação dolorida. Não houve nada.
Nada de ruim.
Sua mão era quente e meio insegura.
Não respirei.
Com as costas da mão, Robert acariciou, sem nenhuma pressa, toda extensão do meu rosto, desde o alto da minha testa, escorregando por minha bochecha, contornando meu queixo e finalmente,
como se tivesse encontrado seu destino, parando em meus lábios.
Não ousei me mexer.
Sua mão se demorou ali alguns segundos; meus lábios retendo o calor de seus dedos
hesitantes.
- Eu... sinto você! - murmurei baixinho, quando os dedos dele voltaram a delinear minha pele. Flagrei um risinho erguer os cantos de seus lábios, deixando os dentes à mostra.
Depois, tocando meu cabelo, Robert colocou um cacho atrás da orelha.
- Não sabe o quanto desejei poder fazer isso outra vez! - sussurrou, descendo a mão pelo
meu pescoço.
Seu toque era tão leve que quase não me tocava de verdade e isso me causou um arrepio, uma reação instintiva. Nossos olhos se encaravam intensamente e o silêncio era profundo, apenas nossa respiração e o mar quebrando nas pedras lá embaixo.
Foi minha vez de sorrir.
- Acho que posso imaginar! - contrariei ansiosa.
Com a ponta do indicador toquei o rosto dele.
Ah, sua pele era incrivelmente macia e quente. Ele era real... era mesmo de verdade. Será que algum dia eu me convenceria disso?
Robert fechou os olhos.
Segui com a ponta do indicador até seu queixo, contornando todo seu rosto. Mais alguns dedos entraram no toque e depois era a mão inteira que acariciava o rosto daquele anjo.
Passeei por sua testa firme, suas pálpebras quentes, o contorno do nariz, mas não tive coragem para tocar seus lábios. Isso exigiria muito autocontrole e essa era uma coisa que eu sabia que não teria.
Deslizei meus dedos delicadamente pelo seu pescoço e desci até o tronco. Senti que Robert prendia a respiração a cada vez que meus dedos percorriam, sem nenhuma pressa, as formas esculpidas em sua barriga. Eu mesma, há muito, tinha me esquecido de continuar respirando.
- Eu... sinto você! - murmurou ele, com os olhos ainda fechados, enquanto minhas mãos percorriam ansiosas, mas com uma lentidão desumana, toda extensão de seus braços.
- Por que... por que não está me acontecendo nada? - perguntei, num sussurro quase inaudível, meus dedos agora caminhando sobre a superfície de seu peito nu. - E a... punição? - completei, ofegante.
Robert ficou em silêncio, desfrutando, tenho certeza, do prazer do momento. Não sei se ele ouviu minha pergunta, porque não houve resposta.
- O que deseja fazer agora? - sibilou ele, abrindo os olhos e aproximando-se de mim.
Senti o calor que vinha de sua pele e o perfume delicioso que seu corpo todo exalava, o cheiro que seria eternamente para mim o melhor perfume do mundo.
- Você sabe o que eu desejo, não sabe? - eu disse, incapaz de conter meus instintos. Já não me importavam os riscos, nem as justificativas que eu teria de dar no dia do julgamento final; eu desejava ser beijada por aquele anjo e nada, absolutamente nada, poderia tirar essa vontade de dentro de mim.
Robert balançou a cabeça, divertindo-se.
- Sei. Porque é exatamente o que desejo também! - havia desejo demais em suas palavras.
Três vezes mais do que nas minhas.
Meu coração acelerou, apavorado, quando Robert inclinou-se para mim.
- Espere! - eu disse, quase num alerta. Ele estreitou os olhos, encarando-me. Respirei fundo e tentei afastar para o mais longe possível qualquer vestígio de constrangimento pelo que eu diria a seguir.
Robert esperou até que as palavras começassem a sair coerentes de minha boca.
- Por favor, não ria! - pedi engasgada.
Ele assentiu com a cabeça, então continuei.
- Bom, só quero que saiba que eu... nunca... nunca beijei um garoto antes - confessei, e o
rubor era inevitável. Quase dezessete anos e nenhum beijo no currículo? Ok, de que século eu vinha?
Mas o fato de nunca ter sido beijada numa idade em que muitas garotas estavam experimentando coisas mais ousadas, não me incomodava na verdade. O que me incomodava era não saber se eu podia ser boa nisso e a dúvida esmagou de leve alguma coisa em minha auto-estima.
- Não sei se posso alcançar suas expectativas! - murmurei, temendo fazer algo errado e...
- Também nunca beijei ninguém antes... - confessou ele com um sorriso. - Mas,
tecnicamente, já fizemos isso uma vez, então! - conjeturou, dando de ombros e eu soube que ele estava se referindo ao nosso beijo em meu sonho, que não era tão sonho assim.
- Somos capazes de coisas incríveis quando estamos sonhando. - redargui - Eu, por
exemplo, já sonhei que pilotava um caça da aeronáutica. Não tenho certeza de que seria capaz da mesma proeza se estivesse consciente, acho que não conseguiria manter um avião no ar sem causar nenhum acidente! - eu precisava deixar bem claro que o que aconteceu em meu sonho podia ser bem diferente do que aconteceria agora.
Robert riu do meu mini monólogo desesperado.
- Bem, então acho que vamos ter que descobrir até onde você é capaz de transformar um sonho em realidade! - murmurou ele em meu rosto.
Não pude mais argumentar.
Eu havia imaginado meu primeiro - ou devo dizer segundo? - beijo em Robert Castro tantas milhares de vezes. Mas nunca, jamais imaginei que realmente pudesse acontecer, devido a circunstâncias em que nos encontrávamos, mas se um dia, por acaso, com muita sorte, o beijo realmente acontecesse, só poderia ser... Não. Eu nem imaginava como seria.
Senti a respiração dele mais próxima de meu rosto e num segundo eu estava totalmente tonta.
Não estava acostumada com tanta proximidade entre nós. Meus olhos recusavam-se a fechar, apesar de saberem que em algum momento teriam de fazer isso, mas não era fácil para eles ceder, não era fácil perder cada milésimo de segundo que tinham para contemplar o rosto
simplesmente perfeito demais parado diante de mim.
Os olhos de Robert pareciam igualmente relutantes, enquanto penetravam de uma forma cada vez mais profunda e perturbadora nos meus. Contemplei, cheia de graça, seus olhos desanuviados, o azul muito mais visível do que jamais estivera. Senti-me de repente fraca. Eu estava mais do que ofegante, ah... e ele ainda me encarava.
Que tipo de força estranha era aquela que seus olhos exerciam sobre mim?
Robert emaranhou os dedos em meu cabelo, levando meu rosto para mais perto do seu,
enquanto também se inclinava para mim. Estávamos tão próximos que ele respirava minha própria respiração. Novamente, ele deslizou a mão pelo meu rosto, "tão suave", e depois segurou gentilmente meu queixo, fazendo minha cabeça elevar-se um pouquinho e então...

Hey, girls!!!!!!
Não desejem minha morte, please!
Kkkkkkkkkkk
Ai, estou suspirando aqui...
Esse Robert Castro vai acabar me deixando louca (ainda mais louca do que já sou)
Aguardo os comentários de vcs, só não vale jogar pragas, maldições e palavreados de baixo calão, ok?
Kkkkkkkkk
Participem da promoção!
Bjs bjs, muito mais, em breve!

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