As semanas viravam meses e incrivelmente assunto não faltava para nossas extensas conversas. Uma noite Aredhel havia começado a me interrogar sobre o cetro que usei em Midgard.
- Se o cetro podia controlar as pessoas e expandir seus conhecimentos, seriam essas também características do Tesseract? - perguntou.
- Eu não tenho certeza Aredhel. Mas creio que pela ligação que o cetro tinha com o Tesseract, acredito que sim - fui evasivo. Jamais daria esse tipo de detalhes a ela. Ainda mais correndo o risco de sermos ouvidos pelos prisioneiros que tinham ao nosso redor.
- Eu fico lembrando o que vi e tem coisas que ainda me intrigam - ela continuou pensativa.
- O quê, por exemplo? - questionei.
- Esse poder do cetro. É muito peculiar e acredito que vá além disso - levantou-se e começou a andar pela cela. - Você deixou que eles pegassem o cetro de propósito. Isso deu para perceber - balançou a cabeça. - Quando estavam todos reunidos, próximos ao cetro, eles começaram a discutir, os ânimos foram ficando cada vez mais exaltados. Banner chegou a pegar o cetro sem perceber. Acredito que o cetro influenciou no clima de discórdia que havia entre eles.
- Foi isso que aconteceu? Eu adoraria ter visto isso - falei meio rindo.
- Sim.. Você tinha que ver - deu um sorriso torto. - Havia tantos segredos entre eles que não precisaria nem de sua presença ou influência para eles se desentenderem. Era uma mistura de mentiras e conflitos de egos. Talvez, se você não tivesse matado o Agente Coulson, eles não teriam se unido. Fury espertamente usou a morte dele para convencê-los a se unirem - explicou Aredhel.
- Você sabia disso tudo e não me falou nada - comecei a ficar irritado.
- Você sabe que eu era contra você governar a Terra pela força. Você podia não se importar com quem morreria, mas eu me importava - retrucou.
- Você se importava tanto com os midgardians que preferiu me ajudar ao invés salvá-los - rebati.
- É - baixou os olhos. - Odin também me falou o mesmo - murmurou com amargura.
Nós ficamos por um tempo, calados e então Aredhel voltou a falar.
- Você se arrepende do que fez na Terra? - indagou de repente.
- Não. Você sabe o que penso a respeito de Midgard. Sei que seria a salvação para eles. Governaria como um rei benevolente - respondi.
- É.. Todo vilão é um herói em sua própria mente.. - riu. - Ele estava certo.. - murmurou.
- Ele quem? - perguntei em dúvida.
- Ninguém em especial. A pessoa que falou essa frase - respondeu dando de ombros.
- O herói é sempre aquele que ganha a guerra. Aquele que conta a história. A versão final sempre é contada pelos vencedores e não pelos perdedores. - retruquei.
- Sabe o que é pior? Acho que você tem toda razão - disse meio rindo.
- Eu sempre tenho razão - sorri cinicamente.
- Aham.. - concordou em visível tom de ironia.
- E quanto a você? Arrepende-se de ter ficado ao meu lado? - tive vontade de saber.
- Não - falou meio sorrindo. - Eu faria tudo de novo - completou.A conversa e as perguntas se seguiram até chegar às minhas técnicas de magia. Minhas ilusões aguçavam a curiosidade dela. Aredhel não deixou nem mesmo de perguntar como eu fazia para esconder os objetos.
- Então é nessa espécie de "limbo" que você esconde as coisas - levou um dedo aos lábios e mordeu os lábios de um jeito nervoso, que sempre fazia quando estava insegura. Com a nossa convivência forçada, eu já percebia em suas expressões o que estava pensando. Senti que vinha outra pergunta capciosa. - Então... - encarou-me e olhou para os lados desconfiada - É neste local que também guardou a Casket? - inquiriu em um sussurro.
Eu sabia! Eu devia ter imaginado onde ela queria chegar. Aredhel nunca fazia uma pergunta sem já ter me mente o que perguntaria em seguida.
- Eu acho que já está na hora de dormirmos. Daqui a pouco os outros acordam - respondi tentando mudar de assunto.
- Ah! - falou meio alto e em seguida tapou a boca - Eu sabia que ainda estava com ela.. - disse baixinho com um sorriso de satisfação no rosto.
- Boa noite Aredhel - falei e segui para a cama.
- Boa noite Loki - disse.Desta forma os meses se passavam lentamente e eu já me acostumara com a companhia de Aredhel. Para ser sincero, apesar de não querer admitir, eu inclusive apreciava sua companhia. Nossas discussões geralmente seguiam noite adentro. Nesse horário era mais tranquilo e seguro para falar de certos assuntos, uma vez que a maioria dos presos estava dormindo. Por este motivo Aredhel passou a dormir durante o dia. Ainda assim, como eu não sentia muito sono, dispunha de algumas horas do dia sem os interrogatórios de Aredhel. Nesse período eu aproveitava para ler e ter um pouco de paz. Gostava de ter com quem conversar, mas a sede de saber dela me esgotava.
Já estava preso há mais de um ano quando, em uma dessas manhãs, enquanto Aredhel dormia, Frigga veio me ver novamente.
- Odin continua me trazendo novos amigos - comentei observando os presos que chegavam - Quanta consideração - disse ironicamente.
- Os livros que lhe enviei não lhe interessaram? - perguntou Frigga com seu jeito doce.
- É assim que terei que passar toda a eternidade? Lendo? - fui ácido.
- Eu fiz tudo ao meu alcance para deixá-lo confortável, Loki - respondeu calmamente.
- Fez mesmo? E Odin compartilha de sua preocupação? - indaguei e ela franziu o cenho. - Será que Thor também? Deve ser tão inconveniente eles perguntando por mim dia e noite - falei com ironia.
- Você sabe muito bem que suas ações é que o trouxeram até aqui - retrucou.
- Minhas ações... Eu só estava tornando verdadeira a mentira que venho alimentando toda a minha vida, que eu nasci para ser um rei - rebati.
- Um rei? Um verdadeiro rei admite suas falhas. E quanto às vidas que você tirou na Terra? - indagou Frigga.
- Um punhado em comparação às inúmeras que Odin tirou, ele mesmo - retruquei.
- Seu pai.. - ela começou.
- Ele não é meu pai! - gritei.
Frigga pareceu ficar extremamente surpresa.
- Então não sou sua mãe? - perguntou Frigga.
Hesitei por um instante. Sabia que tinha me criado como um, mas não era verdadeiramente seu filho.
- Não, você não é - falei friamente.
Frigga sorriu para mim com lágrimas nos olhos.
- Sempre tão perspicaz sobre todos, menos sobre si mesmo - falou estendendo as mãos para mim.
Arrependi-me do que havia falado. Eu a havia magoado. Olhei para ela com tristeza. Tentei tocar as mãos dela e a ilusão se desfez. Eu não deveria ter dito aquilo. Não deveria ter falado assim com ela.Mais tarde naquele mesmo dia, Aredhel estava novamente agarrada a um livro e eu estava visivelmente entediado. Eu brincava com um copo, enquanto estava deitado na cama e pensava nos anos de prisão que ainda me aguardavam. De repente comecei a ouvir gritos e a iluminação oscilou em minha cela. Soou o alarme da masmorra. Guardas e presos passaram apressadamente pela frente de minha cela. Olhei para Aredhel e ela me olhava aflita. Percebi seu nervosismo.
- O que está acontecendo? - gritei para ela.
Em algumas de nossas conversas, cheguei a perguntar a ela sobre o que via de meu futuro. Ela sempre desconversava ou dizia que não dava para visualizar, que era sombrio. Pensei que falava isso para me esconder algo ou que talvez eu ficasse preso até depois de sua morte. Naquele momento me perguntei se ela havia previsto o que estava acontecendo.
- Aredhel! - insisti. - Você sabe o que está acontecendo! Eu sei disso! Posso ver no seu rosto! - sibilei.
Ela não me respondeu. Antes que ela pudesse me dizer algo, um monstro aproximou-se de sua cela e destruiu a cerca. Prendi a respiração. Por alguns instantes imaginei que ele entraria na cela dela, mas ele se virou para mim e ficou me encarando. Parecia ponderar se também me libertaria, ou não. Ele decidiu não me libertar. Achei que seria interessante ver até onde ele iria com aquele motim.
- Você pode querer tomar as escadas pela esquerda - sugeri com um sorriso.
Olhei para Aredhel e ela balançou a cabeça negativamente. Ela falou algo que não pude ouvir, mas pude ler em seus lábios. "Você não deveria ter dito isso." Ela se aproximou da beirada da cela e parecia estar indecisa sobre algo. Percebi o que estava pensando fazer.
- Vai tentar fugir, sua traidora? - vociferei para ela.
- Eu não sou como você! - rosnou de volta.
- Está perdendo seu tempo. Você jamais conseguirá fugir daqui, muito menos de Asgard. Não sem ajuda - falei ironicamente.
Ela pareceu se irritar com o que eu tinha falado, mas em seguida pulou no meio da confusão e saiu correndo. O que ela estava pensando? Será que acreditava realmente que conseguiria fugir? Aquilo era burrice!
- Você vai morrer sua mulher burra! - gritei.
Depois comecei a pensar que ela realmente tivesse previsto algo. Mas o que seria? Imaginei que uma ameaça a Asgard ou Thor. Ela se arriscaria por Asgard? Eu não apostaria nisso. Com certeza ela estava tentando fugir. Dessa vez a ignorância dela, típica dos humanos, falou mais alto. A ousadia dela havia passado dos limites e poderia custar sua vida.
Meneei a cabeça, tentando afastar os pensamentos de Aredhel e daquela confusão toda. Eu tinha coisas mais importantes que ficar preocupado com aquela rebelião e com uma humana idiota. Sentei-me próximo a uma das cercas de minha cela e fui ler um livro calmamente. Ou, pelo menos, tentar ler. Passado algum tempo, tudo estremeceu. Os guardas começaram a deixar as masmorras. Fiquei observando da cerca. O que será que estava acontecendo? E onde estaria Aredhel?Passado o resto do dia, já pela noite, alguns guardas trouxeram Aredhel de volta. Aquilo não me surpreendeu muito. Eu sabia que ela jamais conseguiria escapar, mas, pelo menos, não fora morta como parte dos demais presos.
- Eu avisei que perdia seu tempo se achava que podia fugir daqui -olhei e vi que ela estava com o braço esquerdo enfaixado. - E, pelo jeito, esse seu atrevimento quase lhe custou um braço. Poderia ter morrido sua mulher estúpida - falei entredentes.
Aredhel estava toda descomposta e tinha outros arranhões. Por que se arriscara daquele jeito? Ela ergueu a cabeça e vi que estava com os olhos inchados e tinha lágrimas nos olhos, parecia que havia chorado.
- Loki... Eu sinto muito mesmo. Eu juro que tentei evitar... - falou com a voz chorosa quase sumindo em um soluço.
Fiquei observando ela por um tempo e foi aí que entendi. Ela previra algo! Por isso saíra correndo, ela havia se arriscado para evitar alguma coisa. E pelo que falara, ela havia falhado novamente.
- O que houve? O que lamenta? Thor? Odin? - perguntei ansioso - Então você previu algo mesmo! Por isso saiu daqui correndo! Vamos! Diga-me! - gritei com ela.
- Loki.. Durante o ataque, sua mãe.. - fez uma pausa e lágrimas escorreram por sua face - Frigga.. Ela faleceu... - falou, por fim, deixando escapar um soluço.
Frigga estava morta. As palavras de Aredhel ecoaram em minha mente. Ela continuou falando, mas eu já não prestava atenção e dei as costas a ela. Eu mal conseguia controlar minha raiva e meu ódio. Fiz alguns móveis voarem e se chocaram com as paredes da cela. Aquilo não podia ser verdade. Não podia ser! Uma fúria apoderou-se me mim. Saí quebrando os restos das coisas que havia sobrado na cela. A única mulher que amei, a única que me amou, a minha mãe, estava morta! Havia sido tirada de mim. Eu não devia ter dito a ela que não era minha mãe. Eu havia sido tão duro com ela e fora a última vez que a vi com vida. A culpa e o remorso foram tomando conta de mim. Deixei-me cair no chão. Gritei com toda a força, advinda dor que eu sentia. Sempre quis controlar o que sentia, mas agora eu estava destruído, desolado. Ela era tudo para mim. E agora, tudo que restava era dor e o vazio.
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A mulher do meu destino (Loki e Tom Hiddleston Fanfiction)
FanfictionLoki acaba de chegar a Midgard e minutos depois surge uma estranha mulher através de um novo portal. Esta mulher diz que pode ver o futuro e diz que pode ajudá-lo. Quem é essa mulher? Qual será o destino de Loki? Escrita em 2014 e sendo revisada.