Capítulo 20 - A Lenda de Salen. Parte Final.

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- Respire fundo, Amélia! - Petrici gritou, enfiando suas mãos magrelas no meio das minhas pernas. - Falta pouco agora, minha querida. - sussurrou, me encorajando a continuar o movimento que fazia.

Sentia dor, muita dor. O quartinho feito de terra aos fundos do pequeno comércio que Petrici girava, e eu sentia as palhas que cobriam a pequena bancada em que estava deitada, grudarem em meu cabelo e minhas coxas, encharcadas de suor.

- Dói tanto, Petrici... - murmurei, quase não conseguindo terminar a frase, após sentir uma pontada em meu ventre e me encolher involuntariamente.

- Não Amélia, fique deitada. - Petrici me empurrou, fazendo-me deitar novamente, voltando sua concentração para a saída incomoda de meu bebe.

Gemi mais uma vez, sentindo lágrimas se acumularem nos meus olhos, se misturando ao suor ao caírem em meus seios.

- Faça força, Amélia! - gritou, me encarando com um sorriso nervoso de canto. Obedeci. Juntando tudo que conseguia e fazendo a maior força possível, ignorando todas as dores e os transtornos. Aguentei por quatro segundos, antes de me obrigar a parar, jogando minha cabeça para trás, ofegante.

- Céus! - exclamei. 

- Não pare! - Petrici ordenou.

- Vá ao inferno! - a respondi, rosnando, sentindo uma dor terrível em minhas entranhas. Petrici sorriu, continuando logo em seguida, séria.

- Não pare, vamos. - deu tapinhas em meus pés e eu respirei fundo, tentando controlar minha respiração e contando até dez.

Fiz força mais uma vez, fechando os olhos.

Parei um tempo para respirar, ganhei incentivos de Petrici e continuei.

Continuando nesse ciclo por um tempo que pareceu ser interminável, até que finalmente pude escutar o mais doce som que já havia escutado em toda a minha vida.

Entendi rapidamente que se tratava do choro de meu bebê, que havia acabado de chegar nesse mundo confuso.

Meus olhos se encheram de lágrima instantaneamente e eu apoiei meu corpo em meu cotovelo, encarando Petrici terminar seu trabalho, ansiosa.

Meu bebê estava todo sujo de sangue, e chorava de forma desesperada, balançando seus minúsculos dedinhos do pé em um ritmo atrapalhado, ostentando quase nenhum fio de cabelo em sua cabeça e uma pele quase tão branca quanto a minha.

- É uma menina. - disse Petrici, depois de limpar a criança, sorrindo, e balançando a pequena chorona em seu colo. - É uma bela menina, Amélia. - pude ver lágrimas se formarem em seus olhos, então sorri.

Uma menina...

Naquele momento, senti uma onda de compaixão e felicidade encharcar meu corpo, inundando toda e qualquer célula do meu corpo. Eu era mãe. De uma menina linda. Era mais do que eu merecia.

- Posso segura-la? - consegui perguntar, sentindo uma cachoeira escorrer pelas minhas bochechas. Meu coração estava acelerado. Minha filha. Aquilo era surreal.

- Claro. - Petrici respondeu logo em seguida, se agachando ao meu lado com cuidado, e passando o bebê para os meus braços. Limpando as lágrimas com suas mãos logo em seguida.

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