- Respire fundo, Amélia! - Petrici gritou, enfiando suas mãos magrelas no meio das minhas pernas. - Falta pouco agora, minha querida. - sussurrou, me encorajando a continuar o movimento que fazia.
Sentia dor, muita dor. O quartinho feito de terra aos fundos do pequeno comércio que Petrici girava, e eu sentia as palhas que cobriam a pequena bancada em que estava deitada, grudarem em meu cabelo e minhas coxas, encharcadas de suor.
- Dói tanto, Petrici... - murmurei, quase não conseguindo terminar a frase, após sentir uma pontada em meu ventre e me encolher involuntariamente.
- Não Amélia, fique deitada. - Petrici me empurrou, fazendo-me deitar novamente, voltando sua concentração para a saída incomoda de meu bebe.
Gemi mais uma vez, sentindo lágrimas se acumularem nos meus olhos, se misturando ao suor ao caírem em meus seios.
- Faça força, Amélia! - gritou, me encarando com um sorriso nervoso de canto. Obedeci. Juntando tudo que conseguia e fazendo a maior força possível, ignorando todas as dores e os transtornos. Aguentei por quatro segundos, antes de me obrigar a parar, jogando minha cabeça para trás, ofegante.
- Céus! - exclamei.
- Não pare! - Petrici ordenou.
- Vá ao inferno! - a respondi, rosnando, sentindo uma dor terrível em minhas entranhas. Petrici sorriu, continuando logo em seguida, séria.
- Não pare, vamos. - deu tapinhas em meus pés e eu respirei fundo, tentando controlar minha respiração e contando até dez.
Fiz força mais uma vez, fechando os olhos.
Parei um tempo para respirar, ganhei incentivos de Petrici e continuei.
Continuando nesse ciclo por um tempo que pareceu ser interminável, até que finalmente pude escutar o mais doce som que já havia escutado em toda a minha vida.
Entendi rapidamente que se tratava do choro de meu bebê, que havia acabado de chegar nesse mundo confuso.
Meus olhos se encheram de lágrima instantaneamente e eu apoiei meu corpo em meu cotovelo, encarando Petrici terminar seu trabalho, ansiosa.
Meu bebê estava todo sujo de sangue, e chorava de forma desesperada, balançando seus minúsculos dedinhos do pé em um ritmo atrapalhado, ostentando quase nenhum fio de cabelo em sua cabeça e uma pele quase tão branca quanto a minha.
- É uma menina. - disse Petrici, depois de limpar a criança, sorrindo, e balançando a pequena chorona em seu colo. - É uma bela menina, Amélia. - pude ver lágrimas se formarem em seus olhos, então sorri.
Uma menina...
Naquele momento, senti uma onda de compaixão e felicidade encharcar meu corpo, inundando toda e qualquer célula do meu corpo. Eu era mãe. De uma menina linda. Era mais do que eu merecia.
- Posso segura-la? - consegui perguntar, sentindo uma cachoeira escorrer pelas minhas bochechas. Meu coração estava acelerado. Minha filha. Aquilo era surreal.
- Claro. - Petrici respondeu logo em seguida, se agachando ao meu lado com cuidado, e passando o bebê para os meus braços. Limpando as lágrimas com suas mãos logo em seguida.
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Scaban [Completo]
Fantasia[História concluída] [Não revisada] Se minha vida é miserável? Bom, tire suas próprias conclusões, mas eu me defendo dizendo que não tive escolha (por mais que eu tenha tido). Todo mundo sabe que uma grande realização sempre vem com um preço maior...