Capítulo 21 - O peso de três vidas. Parte I.

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- Eu só vou perguntar mais uma vez. Onde está Amélia? - gritou, enquanto se ajoelhava na minha frente, me encarando com seus olhos castanhos gigantes transbordando ira.

- Eu não sei. - disse pausadamente, o mais firme que consegui, ainda sentindo gosto de sangue.

Meu estômago doía e meu nariz sangrava, mas nenhuma dor do mundo me faria soltar aonde Amélia estava escondida. Eu sentia que devia isso a ela.

Ao escutar minha resposta, o homem bufou, deferindo um soco certeiro mais uma vez no meu estômago. Me encolhi involuntariamente e o xinguei em um grito rouco e abafado. Tossindo logo em seguida. Senti meu corpo tremer.

Comecei a puxar minhas mãos com força, tentando de certa forma desatar aquele nó, mas era inútil, estava amarrada de forma permanente à cadeira.

- Como é tola! - gritou, se colocando em pé de uma vez só e chutando minha canela logo em seguida, me fazendo gemer de dor mais uma vez. - Só me diga onde ela está e você pode ir. Ela merece mesmo todo esse seu sofrimento, Hayley?

Encarei seu rosto por um segundo, respirando fundo e tentando me recompor dos recentes golpes. Ele seguiu minha movimentação e pousou o olhar no meu. Finalmente me permiti responder.

- Não faço ideia de onde ela está. - sorri, apenas para provoca-lo, assim que terminei minha da frase. Encarei então, o homem a minha frente, já esperando o próximo golpe. Estava começando a  me acostumar com todo aquele ardor por todo o meu corpo depois de longas sessões de socos e tapas, mais um não faria diferença.

- Sua maldita... - começou, puxando meu cabelo e em seguida deferindo um tapa forte em meu rosto, forte o suficiente para me fazer cair para o lado, levando a cadeira junto, que não demorou muito para ceder, e derrubas nós duas no chão.

Bati com o ombro, amortecendo a queda e não encontrei forças para levantar. Meu rosto queimava no local onde havia levado o último o tapa e meu corpo todo pinicava.

Estava deitada de lado, respirando com dificuldade, quando comecei a sentir sangue escorrer horizontalmente pelo meu rosto suado e pingar no chão frio de madeira escura. Não tinha forças para ter qualquer reação que fosse, apenas encarei aquele líquido viscoso manchar a madeira ao meu lado por um tempo que pareceu infinito, sem conseguir desviar a minha atenção, só o fiz de verdade quando fui subitamente colocada ereta novamente, e a cadeira sobre suas quatro pernas.

- Basta. - escutei alguém gritar por fim, tentei localizar então, de onde vinha a voz, mas minha visão não focalizava ponto algum. - Ela não vai falar nada desse jeito. - exclamou, e foi aí que eu percebi que se tratava de um segundo homem que acabara de adentrar a sala. Suspirei, sentindo minha cabeça girar, tentando recompor meus sentidos novamente, o que demorou a acontecer. - Vamos deixá-la aqui por um tempo. - disse, me encarando da cabeça aos pés. - Voltamos amanhã. - completou por fim, virando de costas e chamando o homem que antes me batia para ir atrás de si. O mesmo obedeceu friamente, copiando sua movimentação a passos largos.

- Espero que aproveite a estadia. - fez questão de dizer segurando com força a maçaneta da porta e ostentando um sorriso bizarro no rosto. - Nos vemos amanhã. - completou por fim, batendo a porta atrás de si e me deixando sozinha e atordoada, mais uma vez.

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Não sabia quanto tempo havia passado desde que aquela porta havia sido fechada, mas parecia que tinham se passado anos.

Fitava o vazio. O quarto era escuro e não tinha mobília alguma. Eu e a cadeira na qual estava amarrada éramos as únicas coisas tridimensional ali, nem janela havia, muito menos lâmpadas.

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