Capitulo 16 - Entre um pouco tome um chá.

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Só me lembro de ter aberto os meus olhos, mas de não ter enxergado nada por um tempo. Me lembro também de barulhos de galhos se partindo e de passos firmes bem perto de mim. Não estava mais na floresta, parecia estar em uma cidade fantasma, repleta de casas, pintadas de preto, e de pedras vermelhas formando um caminho.

O céu estava escuro e apenas uma lua cheia iluminava meus olhos. Tentei entender o que estava acontecendo, caminhando devagar pelo caminho explicitado pelo brilho vermelho, porém, não consegui ir muito longe.

Andei poucos passos, antes de parar bruscamente ao dar de cara com um imenso buraco no chão. Estava na borda de um penhasco, na beira de um precipício.

Olhei para baixo e não consegui enxergar o chão, meus cabelos caíram para frente e eu tive que segurar a respiração. Senti medo daquilo. Afinal, o que era tudo isso? Por que diabos eu estava na beira de um penhasco, em um lugar mal iluminado, repleto de casas pretas?

Continuei a encarar aquele buraco, aparentemente sem fim, e consegui enxergar apenas fumaça, além de escuridão.

Caso você esteja se perguntando, no horizonte não tinha nada também, apenas uma continuação de um buraco sem fim. Estava no fim do caminho, como se o planeta fosse quadrado, e eu tivesse finalmente alcançado o seu horizonte, só o que me restava agora era cair, talvez cair para sempre. Assim como acreditavam os antigos pensadores lá de casa, ou melhor, os grandes cientistas e religiosos do planeta Terra. Planetas quadrados, uma coisa tão absurdamente impossível. É incrível como a capacidade humana é tão limitada ao que é visível aos olhos. Se não tivéssemos pequenos curiosos, que usavam a imaginação além da racionalidade, continuaríamos acreditando que ao chegar no horizonte cairíamos na escuridão sem fim, e que éramos ainda, o centro do mundo. Pois é meus amigos, precisamos de grandes malucos, pensadores além do imaginável. Precisamos de pessoas sonhadoras, às vezes mais do que pessoas extremamente racionais.

- O que está fazendo ai encarando o buraco, meu bichinho favorito? - escutei uma voz muito familiar me chamar atrás de mim, de forma cômica, e me virei de uma vez só, tomando um susto ao ver quem era.

- Jop. - disse seu nome apenas por impulso, ao constatar que estava mais uma vez cara a cara com aquele ser indigente e extremamente maluco.

- Hayley. - foi a sua vez de apenas dizer o meu nome, mas diferente de mim, ostentava o mesmo sorriso amarelado de sempre. - Como você está? - perguntou, abrindo os braços um pouco e depois os cruzando. - Vamos entrar para tomar algumas coisa? - apontou para a casa negra atrás de si e aumentou o sorriso. - Gosta de chá?

- Que lugar é esse, e por que diabos está aqui? - perguntei, firme, ignorando sua última pergunta e o encarando bem nos olhos. De repente senti medo daquele lugar. Caso algo desse errado, estava encurralada, na beira de um precipício.

- Estamos na sua cabeça, Hayley. Nesse exato momento você está sonhando. - sorriu.

- Então tudo isso é um sonho? - perguntei, encarando tudo ao meu redor, com o coração na mão.

- Obviamente.

- Isso explica muita coisa. - conclui, ao encarar de canto de olho o buraco atrás de mim. - Mas não porque você está aqui. - coloquei bastante amargura na hora de pronunciar o "você", o que o fez rir.

- Querida, se você tem sonhos comigo isso diz respeito apenas a você, e a sua aparente queda por mim. - gargalhou de sua própria piada, ajeitando o capuz vermelho que cobria a sua cabeça.

- Cala a boca, vai. - pedi, sem paciência, dando um passo em sua direção. - Me conte o que estamos fazendo aqui, no meu sonho, e por que você saiu daquela forma da última vez que nós conversamos. Agora. - ordenei o mais firme que consegui, encarando-o bem a fundo e segurando para não perder a pose.

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