Capítulo 21 - O peso de três vidas. Parte II.

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Ele havia dito uma hora. Mas parecia que já tinham se passado umas quatro.

Tinha conseguido me soltar completamente da cadeira, e agora deitava em um canto isolado do quarto.

Era tenebroso ter que dizer que meu corpo todo doía, principalmente meu estômago. A falta de comida era quase corrosiva, e os hematomas estavam começando a pipocar em minha pele de forma permanente.

Minha roupa estava um trapo. Repleta de buracos e manchas vermelhas, do meu próprio sangue. Ainda usava a blusa comprida que Drago havia me emprestado no dia em que nos conhecemos.

Parecia que já tinham se passado anos desde que cheguei a Scaban, mas na verdade, tinham se passado apenas alguns poucos dias, que eu fiz o favor de perder a conta assim que fui jogada naquele quartinho escuro.

Porém, não adiantava nada ficar remoendo a quantidade de coisas que aconteceram desde que Jop apareceu pra mim naquela noite escura, fiz questão então, de voltar meu pensamento novamente para o que tinha me trazido ali, e mais ainda, para todas as pessoas que eu devia alguma atenção, por menor que fosse. É quase instantaneamente, não consegui evitar pensar em Ravi.

Aquele homem horrendo e de má índole havia me chantageado, e colocado uma das únicas pessoas a quem eu ainda me atreveria a me sacrificar no meio. Eu o odiava. E odiava mais ainda, ter que tomar uma decisão.

Estava em uma posição desgastante. De um lado estava a vida de Ravi, que estava claramente ameaçada, e do outro a de Amélia, a qual há pouco morava em minha cabeça. Não sabia nada sobre ela, mas não teria coragem de entregar sua vida de bandeja para aqueles bruxos.

Me levantei e abracei minhas pernas, apoiando meu queixo em meus joelhos.

Não sabia o que fazer. Eu realmente não sabia. Era possível que eles estivessem mentindo, que na verdade não fizessem ideia de onde estava Ravi, que eu acreditava já ter ido longe de onde antes estávamos. Mas isso era apenas uma possibilidade vazia. Eu não podia colocar a sua vida em uma probabilidade.

Mas também não podia entregar Amélia. Ela tinha o rubi. Eu precisava chegar até ela antes deles. Precisava da pedra para ver minha família novamente. Tinha certeza que eles não iriam conversar com ela. Podia entregar sua vida assim?

Eu não fazia ideia.

- Como vai ser, Hayley? Já teve bastante tempo pra pensar, não acha? - a porta se abriu subitamente, fazendo meu coração palpitar. A voz rouca ecoou na minha cabeça e eu tremi involuntariamente. Não esperava aquela visita.

Comecei a entrar em pânico.

Eu não sabia o que fazer, céus! Por que eu tinha que decidir? Por que? Aqueles pensamentos eram mais torturantes que qualquer agressão física que tinha sofrido pelas mãos daqueles homens. Eles estavam me atormentando de uma forma consistente, me deixando atordoada, bem como queriam.

Eu teria que trair alguém. Aquilo era horrível.

- É isso então? - perguntou, adentrando o quarto finalmente. Não consegui evitar uma respiração pesada.

Sentia meus sentidos amortecidos. Tinha que fazer uma decisão, mas não conseguia.

- Você quer que façamos do jeito difícil? Você está mesmo disposta a ferir Ravi? Ele que te ajudou tanto...mesmo sem te conhecer... - continuou, fazendo meu estômago embrulhar. Me revirei. Sentia minha mão suada. - ...você está disposta a trocar a vida dele pela vida de uma qualquer que você nem conhece?

- Não. - disse, sem pensar, em voz alta, me arrependendo logo em seguida. Encarei a silhueta negra a minha frente com o olhar repleto de arrependimento e angústia. Aposto que se tivesse um filete qualquer de luz no quarto, minha expressão entregaria que eu estava sendo sincera ao dizer aquele não. Eu não estava disposta a trocar Ravi por Amélia, mas eu não queria aceitar isso. E sem a comprovação de que cederia a sua chantagem, o homem só fez repetir minhas palavras.

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