Um dia depois.
Os bruxos chegaram no começo da manhã, sendo anunciados pelo próprio Jop, animado e saltitante.
As cortinas foram abertas quando o sol nem mesmo havia nascido e pela janela eu pude ter a visão completa do multidão de capas vermelhas que se acumulava na frente do castelo, como um verdadeiro mar de pessoas. Um mar vermelho. Só faltava Moisés.
Jop corria para acordar o castelo. Eu corria para enxergar nosso exército, usando uma das camisolas reais da minha bisavó, que mais pareciam os meus vestidos de festa, e uma sapatilha extremamente desconfortável, ansiosa e sonolenta.
A janela do quarto em que eu estava hospedada, sozinha, dava direto para a entrada, alagada por bruxos vermelhos, do castelo. O que era um dos pontos fortes visto que antes daquela inundação necessária, o jardim bem cuidado da Majestade iluminava os meus olhos.
- Eles são todos feios? – Drago perguntou, assim que chegou ao meu lado e enfiou a cabeça pela janela, assustando-me com sua presença repentina.
- O que? Por quê? – retruquei, cruzando os braços e me virando para encara-lo, ajeitando durante o percurso meu cabelo embolado.
- Por qual outro motivo eles teriam que usar essa capa horrorosa?
Sorri, encarando aqueles bruxos lá embaixo, ansiosa. Não consegui me concentrar o suficiente para fazer alguma piada, ou retruca-lo. Estava extremamente compenetrada naquela cena, e no que ela significava.
Haviam muitos bruxos. Centenas, talvez, assim como Jop havia nos orientado. Eles manchavam todo o jardim da rainha com o tom vermelho de suas capas enormes.
Eles estavam ali. Prontos. Parados, esperando a permissão para entrar. Prontos para lutar pela sua causa. Pela minha causa. Para matar meu avô.
- Hayley? Preciso te perguntar uma coisa – Drago começou, receoso, retirando-me de meus pensamentos. – O que faremos na hora da batalha sobre...
Fez uma pausa.
- Sobre...? – incentivei-o a continuar. Ele abaixou o tom de voz.
- Sobre a minha atuação...
- Sobre você não ser um bruxo? – perguntei, baixo. Ele assentiu com a cabeça. Cruzei meus braços, ignorando os bruxos lá embaixo e encarando o Trox na minha frente. – Você vai lutar. – soltei. O que era óbvio, e não a resposta que ele esperava.
- Mas como? Como um...Trox? – perguntou, receoso. Cruzei os braços.
- Não sei – admiti. – Você que sabe.
- Eu que sei? – perguntou, incrédulo. – Hayley. Me de uma direção!
- Você quer lutar como um Trox? Vai em frente! Assim teremos mais chances – comecei, encarando-o. – Mas você quer lutar como um bruxo sem mágica? Tudo bem. Vai em frente. O segredo é seu, Drago. Você decide o que fazer com ele – completei, fazendo Drago bufar.
- Não me dê liberdade de escolha, Hayley – começou. – Eu não sei o que fazer.
Bufei. Eu não sabia o que ele devia fazer também.
Durante a "reunião de estratégias", como eu preferi chamar a breve conversa irritante que tive com o orgulhoso Alberg, não havia comentado, obviamente, nada sobre a atuação sem mágica de Drago, admito que ao menos havia me lembrado disso.
- Hayley?
Drago chamou-me mais uma vez, chamando a minha atenção por uma segunda vez. Mordi meus lábios.
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Scaban [Completo]
Fantasia[História concluída] [Não revisada] Se minha vida é miserável? Bom, tire suas próprias conclusões, mas eu me defendo dizendo que não tive escolha (por mais que eu tenha tido). Todo mundo sabe que uma grande realização sempre vem com um preço maior...