• Ravi.
Alguns dias antes.
- Você tem certeza? - perguntei, pela centésima vez para aquela moça ruiva que me encarava sem paciência.
- Tenho. Como já disse nas outras vezes. - respondeu, bufando e cruzando os braços, aparentemente incomodada com a minha presença. - Não conheço nenhuma Hayley.
- Eu tenho certeza que ela passou por aqui. Me disseram. - disse, sem pensar direito no que aquilo podia significar para uma moça recatada que mora nos arredores da cidade dos gigantes.
- Você está perseguindo essa tal moça Hayley? - perguntou, ofendida, apontando para a saída logo em seguida. Diabos, tinha pisado na bola. Idiota, Ravi! - Saia de meu estabelecimento agora, seu pervertido!
- Não! - neguei com a cabeça, com raiva de mim mesmo por ser tão idiota. - Escute, senhora, ela é minha esposa. - menti, tentando soar o mais certo possível de minhas palavras, apesar delas soarem absurdas saindo de minha boca. - Nós tivemos uma briga e ela saiu de casa. - comecei. - Um amigo meu me disse que ela havia passado por aqui. - respirei fundo, tentando soar apreensivo. - Eu estou preocupado, ela não anda muito bem da cabeça. - suspirei, me inclinando em direção a moça, completando, em um sussurro. - A pobrezinha nunca foi a mesma depois do nosso terceiro filho... - fiz uma pausa, pensando em como completar. - ...o Joãozinho.
Joãozinho? Joãozinho? Por que você tem que ser tão patético, Ravi?
A moça fez uma careta assim que terminei de falar. Não consegui então decifrar o que aquilo significava. Ela tinha acreditado em mim?
Continuei a encará-la, tentando não esboçar o quão ansioso eu estava para ter bolado uma mentira no mínimo convincente, percebendo que de certa forma, ela tinha abaixado a retaguarda. Tinha conseguido convencê-la que não era um maldito de um pervertido?
- Eu sempre quis ter filhos. - disse, subitamente, me fazendo encara-la, surpreso com sua fala. - Mas meu marido acha muito trabalhoso. - concordei com a cabeça, como se entendesse perfeitamente como era trabalhoso ter três filhos. - Sinto muito pela sua esposa. - disse, parecendo realmente sentir.
- Muito obrigado, senhora. É realmente... - tentei encontrar a palavra certa. - ...complicado. - a mulher assentiu, respirando fundo. Parecia segurar o choro. Ela estava segurando o choro?
- Como aconteceu isso? - perguntou, baixinho. Não entendi de cara.
- Como aconteceu o que?
- A sua mulher... - fez uma pausa. - ...como ela se perdeu? - se perdeu? Acho que dei por entender que Hayley é maluca. Diabos.
- As responsabilidades a deixaram sobrecarregada. - disse, limpando a garganta. O que eu estava falando era absurdo demais. Que responsabilidades? Cuidar dos filhos? Eu estava dizendo que a minha mulher tinha ficado louca por cuidar de três filhos, especialmente de Joãozinho? Céus! Eu sou péssimo em mentir.
- Sinto muito. - a ruiva disse, encarando o chão. - Acho que meu marido está certo então. Não é seguro ter filhos. - o que? Não é seguro ter filhos? Encarei a moça a minha frente, seus olhos estavam cheios de lágrimas. Diabos! Eu tinha estragado o sonha daquela mulher de ser mãe. Idiota, Ravi, idiota.
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Scaban [Completo]
Fantasy[História concluída] [Não revisada] Se minha vida é miserável? Bom, tire suas próprias conclusões, mas eu me defendo dizendo que não tive escolha (por mais que eu tenha tido). Todo mundo sabe que uma grande realização sempre vem com um preço maior...