7.5 - I.1 - O Descendente

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– Pela Caneca de Phas. Pelo menos não mudaram o nome. Faz tempo que eu não venho para cá. – Ele diz.

– Não é? – Seu amigo responde.

– Meu pai me mostrou esse lugar ainda novo. Até dormi aqui algumas vezes. Mas...

– Hm?

– Os donos morreram. – A última palavra estalou, ácido pingando dela. – Quem está tomando conta desse lugar?

– O governo. Eles, ou melhor... – Não deixou que o seu amigo completasse a frase. Encarou–o com a força e a intensidade de um tufão. – ... Deixaram para o governo. – Respondeu.

– Eu dormi aqui algumas vezes. – Repete o homem.

– Que bom. – Seu amigo vira-se para o taverneiro. – Duas canecas de –

– Vinho, por favor. – O homem intercede. Eles esperam e bebem, mas ele ainda não entendeu o propósito disso. Seu amigo continua a tagarelar sobre o dia, a cidade, as instituições, como tudo estaria bem...

– Não era você que falava pouco e eu que falava muito? – Resolve dizer.

– Os tempos mudam, eu acho. Ou melhor, é necessário que eu fale muito. Mas não posso fazer o seu trabalho para sempre. – Então é essa a questão?

– Esse não é o meu trabalho.

– Agora é.

– Por que? O que os impede de governar sem um Descendente? A raça humana é melhor que isso.

– Mas eles não sabem disso. Eles preferem por a culpa, ou melhor, a carga em alguém. Alguém melhor que eles, alguém que possa guiá-los.

– Você fala como se eu fosse uma espécie de messias.

– Mas você é! – A voz do seu amigo soou alta demais. Alguns olhares pairam sobre eles, mas não houve balbúrdia. Imaginou como ambos estavam incógnitos, e lembrou-se que são especialistas nisso de tal forma que o faziam sem pensar. Claro, o feitiço de ilusão ajudava também. – Tristam. – O sussurro de seu amigo soou como uma flecha zunindo no ar, e essa foi a gota d'água. As memórias o invadem, enchendo–o e transbordando com energia. Tanta energia, ela flui, o envolve, o poder, o desejo final dos seus amigos. E tudo ao seu redor torna-se ouro, e com uma explosão, ele some.

~

Ele está nas ruínas de uma cidade portuária familiar, que já foi um grande ponto turístico. Deve ser a quarta vez nos últimos dez anos que ela foi destruída. Ele cambaleia pelos destroços, a energia ainda jorrando e estalando à sua volta, sua mente sendo devorada pelas lembranças e pelas emoções. Foi nesse estado em que chegou à pequena moradia que um de seus amigos fez para si mesmo, como refúgio. Lá dentro ele desaba, e começa a chorar. Uma torrente de lágrimas, que deixam seu rosto todo molhado e vermelho, assim como os seus olhos. Mal consegue conter os soluços. Mesmo quando dormiu, ainda chorava.

No seu inconsciente, uma alma suspira. Nenhum poder superará isso. Nada valerá isso. A vida o custou uma quantidade infinita de felicidade, que jamais conseguirá retribuir.

E uma das portas da sua mente reabre.

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Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora