21 - O Vigilante e o Fogo

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RB



21 – O Vigilante e o Fogo

nada

Tudo fica escuro por um momento, e quando consigo ver novamente, noto que o orbe sumiu. Também sinto um apodrecer dentro de mim, como se toda a culpa, toda a raiva, todo ódio e toda a tristeza de uma vida tenham-se conformado numa bola de puro negativo e tenha se entranhado dentro do meu peito. Quando viro-me para Kirian e Lobo, eu os encontro me encarando com os olhos arregalados, completamente estupefatos.

– O que você acabou de fazer?! – Grita Kirian.

– Eu só encostei, eu não fiz nada demais, me desculpe, não foi por querer!

– Kirian, você não consegue ver que o garoto está a ponto de chorar? Isso é muita falta de tato da sua da parte. – Lobo diz, antes de virar para mim. – Como está se sentindo? – Pergunta gentilmente.

– Muitas coisas, muita coisas ruins. Muito culpado, muito – pauso para tentar achar a palavra correta, e para não deixar que minha voz tremesse – angustiado. Muito –

– Isso não foi por causa do orbe, foi? – Interrompe Lobo.

– O que você quer dizer?

– Você está se sentindo assim por ter encostado no orbe ou ao encostar no orbe, ele o fez se sentir assim? – Reflito um pouco.

– Eu não sei. – Estendo o som de cada palavra. – Ambos?

– Humph. – Lobo assume uma posição pensativa. Enquanto isso, Kirian me olha de cima a baixo e diz:

– Bem, lá se vai a lenda do Vigilante da Fonte. Mas isso resolve o problema, de certa forma. Eu não consigo mais sentir o poder do orbe. Mas Faon, você deve me avisar de qualquer mudança que você sinta.

– Ahn, tudo bem.

– Bem, não há mais motivo para ficarmos aqui. E acho que alguém precisa ter uma boa noite de sono. – Lobo diz, tomando a dianteira. De fato, agora eu não só quero como necessito dormir. Ele foi na frente, ainda com sua atitude austera e confiante. Eu fui atrás dele, e Kirian atrás de mim, para que ele cuidasse de mim caso algo acontecesse. Novamente, o caminho reto, limpo, morto e fora do natural se destaca, muito mais do que a floresta escura que me cerca e seus habitantes; arrepiando-me da nuca ao final das costas. Engulo em seco e continuo a andar.

~

Acordo. Ainda está de noite, e ouço o meu coração batendo, e com ele, um pulsar. Levanto com dificuldade da cama, sentindo um meio sono, uma meia hipnose, uma meia curiosidade e um meio dever. Eu não trouxe Tyke comigo, nem a minha espada. Eu dependeria exclusivamente da minha magia.

Eu saio para o corredor, e faço um orbe de luz. Eu tenho essa sensação, essa sensação estranha, como se a noite não tivesse terminado. Olho ansiosamente para os lados, mesmo sem enxergar muito, como se estivesse algo à espreita. Mas não há nada. Por enquanto.

Eu me espreito até o quarto do Tysen, e abro a porta. Não há problema deixar a porta destrancada por aqui, afinal, ninguém levava nada de valor na subida. Por que algum bandido iria querer passar por todo esse esforço apenas para chegar aqui e não encontrar nada?

Ele está deitado na cama, virado para a janela. Aparenta dormir tranquilamente. Próximo foi o quarto do Shin. Ele está estoicamente deitado com a barriga para cima, a coberta ajustada perfeitamente sobre ele. Então foi Mia. Senti-me ligeiramente mal por perturbar a privacidade que ele tanto preza, apesar de que por outro lado também há uma curiosidade mórbida pelo que ele escondia. Naturalmente, isso só me fez sentir mais culpado, mas adentro o seu quarto da mesma forma. Ele dorme tranquilamente, mas pelo amor de Phas, eu não desconfiava que ele escondia tanto cabelo por debaixo da máscara. Saio rapidamente antes que ele acorde e com algum receio atravesso o prédio até a ala feminina.

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora