7 - Silêncio

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RB


– Ahn... O que? – Imediatamente sinto minha pele tremer e meus pelos eriçarem com o frio e toda a água em minha roupa. Abro os olhos, e me sento, tentando me situar. O que é difícil quando a minha barriga também começa a roncar. Preciso comer, estou faminto, mas antes, concentro-me.

Estou no meio de uma clareira. Já não chove, mas está escurecendo. Eu ainda não entendo o que aconteceu, mas o meu desgaste parece ter me feito dormir por horas. O que eu sei é que depois de vencer aqueles garotos eu corri até chegar aqui, onde poderia me soltar em paz e sossego. Até me sinto um pouco melhor, mas não o suficiente. Claro que não seria o suficiente. Mas assim é suportável, pelo menos. Agora está na hora de ir para casa. Mas antes, preciso comer e me secar. Talvez seja bom passar numa taverna perto daqui, primeiro. Ainda tenho o meu dinheiro comigo, afinal.

Depois de sair do bosque, não demora muito até avistar uma taverna. No entanto, tem um homem alto e musculoso barrando a porta. Depois de me fitar por alguns instantes, ele bufa e faz um movimento de espanar com a mão, para que eu me afastasse.

É quando eu percebo: quando acordei não dei muita atenção a isso, mas devo estar parecendo um mendigo. Estou imundo, sujo de cinzas, lama e suor seco. Bem, não importa. Meu pai sempre me deixa com algum dinheiro caso eu queira ou precise gastar com algo. A cada ano ele aumenta um pouco a quantidade, proporcional à minha idade e supostamente à minha maturidade e responsabilidade. Eu tenho alguns drakes, deve ser o suficiente. É a segunda moeda mais valiosa no nosso sistema monetário, feita de prata. Também haviam dracos, de ouro, drakins, de bronze e lagartos, moedas bem mais simples feitas de ferro.

Felizmente, uma das inúmeras coisas que Alec me ensinou foi como conseguir o que eu quero, o que às vezes inclui apenas bom uso dos meus recursos. Eu tiro meu saco do bolso, procuro um drake e exibo–o ao guarda, que a encara surpreso. Enquanto continua a observar a prata com fascínio, eu a abaixo, abro a sua mão e a fecho com a moeda dentro. Passo por ele sem mais qualquer distúrbio.

Lá dentro está quente, abafado e bem iluminado; a maior parte das mesas estão ocupadas por homens, e a maior parte desses homens se parecem muito com o guarda com quem acabei de negociar silenciosamente a minha entrada. A maior parte não dá atenção a mim. Mulheres rodam entre as mesas, distribuindo canecas e copos cheios das mais diversas bebidas; algumas riem com as palavras ébrias dos mais ousados; e outras as retribuemm com tapas. Um bardo está a tocar uma balada animada, e alguns até saíam de suas cadeiras para dançar.

Ando até a bancada, onde um homem grande, gordo, careca e com um bigode ruivo me encara. Por que esse lugar está tão cheio de homens corpulentos?

– O que um fedelho sem dinheiro como você está fazendo aqui? Aquele imbecil do Jean não serve pra nada?! – Rosna o taberneiro. Novamente, saco mais prata, dois drakes dessa vez, mas só mostro um. Ele se deixa levar pelo brilho dele, e logo reage da mesma forma que o guarda de fora.

– Preciso de comida, de um banho, de uma lareira e de roupas. Você pode fazer isso? E se fizer tudo direitinho – exibo a outra moeda – tem mais de onde essa prata vem. – E ponho um drake na mesa, que é rapidamente surrupiada pelo homem. Quase arrependido da maneira com que agiu antes, ele acena a cabeça energicamente. Então parece se dar conta de algo e diz:

– Roupas não serão necessárias. Apenas me dê as suas.

– Por quê? – Ele então sorri, um sorriso bem satisfeito, quase ganancioso; e tanto o seu rosto quanto as suas palavras tomam um ar convencido:

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora