22 - Não apenas improvável

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Beatriz está curvada sobre si, com as mãos sobre os joelhos.

– Gostou da surpresa, Beatriz? – E eis que recebo o olhar mais frio da história da humanidade. Nós só a fizemos correr um pouco.

Ela reagiu silenciosamente à nossa proposta: sem escárnio ou ironia, ela pensou durante alguns instantes e concordou. E por pior que o seu olhar fosse, ela ainda obedecia nossos comandos.

Tentamos passar mais alguns exercícios mas rapidamente alcançamos o seu limite. Então todos nos sentamos e descansamos um pouco, à sombra de uma árvore. O dia está quente, e o céu completamente azul e descoberto. Ao recuperar o fôlego, a maga não perde tempo:

– Minha vez. Vou ensinar magia para vocês, então se preparem. Vocês sairão daqui hoje com suas mentes em frangalhos! – E dá a sua melhor risada maléfica, para então nos encarar com um olhar perverso. Entreolhamos–nos e engolimos em seco, sem saber o que esperar. – Primeiro os novatos. – A maga então se vira para Shin e Mia. – Existe alguma mágica que vocês desejem fazer?

– Eu nunca pensei nisso. E você Mia? – Este deu de ombros. Tysen olha para algum lugar no céu, pensando. – Luz. Posso fazer luz? – Shin sugere.

– Está de dia, você não verá nada. – Sua nova professora responde.

– Ahn, certo. E voar? – Beatriz demora um pouco mais para responder.

– Acho que é possível, mas é muito complicado.

– Então eu não sei. Você tem alguma sugestão?

– Que tal a boa e velha bola de fogo?

– Parece bom para mim. – O espadachim responde. Então espero, alegre e paciente, enquanto Beatriz, surpreendentemente, explica com maestria os básicos da magia para Shin e Mia. Não costumo gostar de esperar, mas o clima está agradável e estou me divertindo, então não me importei. Alguns dias são repetitivos, então aproveito ao máximo dias como hoje.

No entanto, quanto mais olho ao meu redor, mais nervoso eu fico.

Os pesadelos, principalmente aqueles em quem eu sou uma ferramenta para um propósito maligno, continuam com mais frequência e intensidade do que nunca. E eu tenho quase certeza que sonhei com este lugar. Se apenas existisse alguém que...

O que eu queria, um herói? Não existem heróis, não em tempo de paz, apenas mercenários. Não existem dragões, como existia uma era atrás. Não existem monstros, e o contingente de um lorde é mais que o suficiente para cuidar de bandidos.

Então por que eu sinto tanto medo, como se alguém, ou melhor, algo fosse aparecer repentinamente para me matar?

Porque existem vampiros. E se existem vampiros, o que impede de existirem outras aberrações no resto do mundo? E ainda há magia. A magia, como eu posso dizer, como eu posso explicar?

– No entanto, a magia é muito perigosa, justamente por ser tão poderosa. – Repentinamente, a voz de Beatriz acende, como se um feitiço havia sido desfeito. Ela ainda está explicando os elementos básicos para Shin e Mia. – o que me impede de querer que tudo flutue, ao invés de cair? – Ao dizer isso, vejo uma repentina explosão de luz azul na sua mão, e uma folha que estava no chão levanta e rodopia na frente dela, sozinha, sem vento. – O que me impede de querer mudar a própria terra? – Ela concentra mais energia azul, fazendo com que uma luva transparente envolvesse uma de suas mãos. Quando esta é liberada, o chão estala, quebra e range, antes de elevar Beatriz e uma pequena área ao redor dela uns bons dois metros. – O que me impede de fazer fogo chover do céu? Ou brincar com o próprio tempo? – Ambos seus braços são cercados por uma concentrada energia, rodopiando de forma selvagem, esperando ser liberada; um lado era azul, e o outro vermelho.

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora