15 - Vampira

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Faço um puxão final e a lâmina sai por inteira, suja, gosmenta, molhada e escorregadia. Eu a deixo cair no chão, mas não posso descansar ainda. A dor abrande um pouco, mas sinto mais sangue saindo de mim. Pressiono com força o local pela frente e por trás, e exercendo a maior concentração possível começo a emanar magia branca pelo meu braço. Ele flui de forma rápida e intensa até a palma da mão, que começa a brilhar. E começo o feitiço.

Imediatamente sinto a área formigar, mas o sangue ainda vaza entre os meus dedos.

– Cure. – Sussurro meio para mim, meio para o feitiço na minha mão, como se eu esperasse que me ouvisse, como se eu esperasse que fosse algo vivo.

– Cure! – Repito, com mais intensidade e volume, como se fosse adiantar de alguma coisa.

– CURE!

~

Quando eu chego à hospedaria, ela já está meio vazia. Deve estar mesmo tarde. Há alguns moribundos no bar e nas mesas, mas Jacob está com o olhar afiado, atento, e assim que eu entro ele se dirige a mim. Parece não ver nada de errado comigo.

– Não está tarde para você ficar andando sozinho na rua, Faon? – Ele está certo, infelizmente. E curiosamente, nunca havia me chamado de Faon antes.

– Sim, mas já estou aqui, não estou? – Ele não responde, mas parece relaxar consideravelmente, e volta sua atenção para outra coisa. O feitiço parece ter funcionado. Subo vagarosamente as escadas e me arrasto pelo corredor até o quarto do Tysen, e bato na porta.

Nada acontece.

Bato mais forte.

– Ah, o que é, o que é... E que cheiro é esse?– Ele atende segundos depois. Está usando uma longa túnica, e seus olhos estão semicerrados. E eu esqueci completamente do cheiro. Tenho que incluir isso da próxima vez que usar algum feitiço assim. Jacob não percebeu por sorte, parece: não cheguei perto dele.

– Preciso de ajuda. – Tysen me olha de cima a baixo. Parece não me reconhecer.

– Com o que? – Eu esqueci, não havia cancelado o feitiço.

– Com isso. – Cancelo a ilusão. Antes eu parecia estar da mesma forma que estava mais cedo: ainda com o meu sobretudo preto e a minha espada, ereto, normal. E agora o que Tysen está vendo era um Faon curvado, fraco, pálido, com voz arrastada e sem vida, sem sobretudo, com um buraco e uma mancha vermelha na camisa branca, segurando uma metade de espada em cada mão. Uma delas parece ter sido imersa num balde de sangue. Dessa vez ele arregala os olhos.

– Por todos os Deuses, o que aconteceu com você?! – Decido contar-lhe a verdade.

– Digamos que eu não fiquei para trás apenas para olhar a Chama. – Ele processa isso por alguns segundos, mas não diz nada. – Eu vi um homem suspeito mais cedo, e queria encontrá-lo. Mas ele me encontrou primeiro.

– O que?! Você foi procurar um "homem suspeito" sozinho? Por que você faria algo assim?

– Segurança?

– Você estaria seguro se tivesse ficado comigo, não... – Ele resmunga algo incompreensível. – E isso na sua camisa também é sangue?

– Não, é suco de tomate. Claro que é sangue, seu imbecil! – Essa foi a minha deixa para entrar no quarto dele e me deitar no chão, para não falar "tombar".

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora