18 - Quase infantil

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O treinamento mudou.

Ao invés de simplesmente lutar o dia inteiro, o meu pai primeiro me fez passar por uma bateria de exercícios para que eu "condicionasse" o meu corpo, e depois lutamos por nada mais do que uma ou duas horas. Segundo ele, não havia muita técnica além do que já havia me passado, apenas experiência. E no meio da tarde, ele novamente tentou expandir o meu conhecimento sobre magia. Ele falou sobre o preço, e de como as escolas não eram divididas por função como eu pensava, e sim pela emoção que as regia, resumindo de forma simples. E para provar o seu ponto...

~

– A ilusão do fogo. – Alec diz, conforme energia roxa se concentra nas suas mãos. – Uma ilusão tão forte, que ela brilha. – Continua, conforme o fogo que nasce vai do roxo ao vermelho. – Que queima. – De fato, consigo sentir o calor emanando da chama. – Mas não passa de uma ilusão. – A chama some como se não passasse de um delírio. No entanto, ele a refaz. – Ou será que não? – E a chama some, não como uma ilusão, mas como se um vento a soprasse: de forma legítima. – Agora tente você.

A primeira coisa que me vem à cabeça em relação a fogo quando penso no que mais ele é útil é a sua capacidade de cauterização. Então cautelosamente reúno energia branca num dedo para criar uma pequena chama. Meu pai bufa com aprovação.

– Bom. E não machuca, como se usasse um anestésico. – Diz ele, aproximando uma das mãos do fogo. – Mas ainda queima. Você pode considerar isso interessante no combate. Muitas vezes um guerreiro que não percebe o seu ferimento só morre mais rápido. – Alec comenta num tom sóbrio demais para os meus ouvidos. – Muito bem, próximo.

Então o meu pai faz o inconcebível.

É como se o seu braço tivesse sumido e virasse fogo. Dez segundos eu olhei para o seu braço, atordoado com a visão. Meu pai desfez o feitiço em seguida.

– Dá nervoso, não é? No entanto, a forma original do seu corpo nunca é perdida. De forma alguma. É um mecanismo do mesmo lugar de onde vem a resistência mágica que nós possuímos, em um ou outro nível. A alma, eu disse uma vez. O porquê não importa, mas enfim. Você consegue o último?

O mais difícil, claro. Por Phas, eu mal entendo a escola de Flun. O maior contato que tive com ela foi com Beatriz. A estrutura do mundo, do espírito, da alma, da energia, da magia...

Essas palavras zoneiam a minha cabeça por alguns segundos.

– Filho?

– Oi?

– Já pensou? Acho que já deu, não? – Não entendo.

– Como assim? – O meu pai fita o meu rosto por alguns segundos e começa a gargalhar.

– Eu falaria para você olhar o céu, – tenta falar, mas mal consegue conter o riso. – Mas a mudança do sol foi pequena demais. Digamos que você está parado faz alguns minutos. – Ele ri mais um pouco e termina de se acalmar. – Ai, ai. Enfim. A escola de Flun faz essas travessuras conosco. Relaxe. – Não perceber o tempo passar é no mínimo perturbador, mas tento seguir o seu conselho. Alma, mundo, energia, espírito...

Uma ideia me vem à mente. Começo a juntar energia azul, mas o processo é um pouco diferente. Ao invés da mana sair apenas da minha mão, como se era de se esperar, ela sai também de extremidades do meu corpo, assim como o seu centro. Não só o meu corpo, mas até as folhas e as árvores perdem um pouco de vida ao meu redor. De forma peculiar, a energia fica mais espessa e pesada do que jamais ficou antes. Ela começa a brilhar até se solidificar no fogo, um fogo divino, ainda pesado, etéreo, quase dourado. É uma das coisas mais belas que eu já vi na minha vida.

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora