6 - Cinzas

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Fogo.

Com um estalar de dedos a chama surge na ponta dos meus dedos, quente e brilhante. Com outro, ela some.

Fogo.

Some.

Fogo.

Some.

Eu fecho o punho, e concentro ainda mais energia na minha mão. Ela é novamente envolta em uma suave luz, vermelha e transparente. Quando eu a abro, uma chama ainda maior emerge.

– Merda! – Jogo a bola de fogo no chão à minha frente, explodindo em contato com a rocha. As cinzas e faíscas são então levadas pelo vento, e só resta um piso de pedra queimado num breve acesso de raiva e ignorância. Eu já me acostumei com o mal–estar imediato, mas ele não é o pior.

Depois de alguns minutos, finalmente sinto a fraqueza, a frieza da morte se aproximar por alguns instantes, o preço. Depois do que eu fiz ontem e de ver o Trevor conseguir manter uma chama com tanta calma, imaginei que eu já seria capaz disso. Sou, mas... Os tremeliques, o frio, a fraqueza o o enjoo me fazem perder qualquer noção de qualquer coisa por uns bons cinco minutos.

Quando me recupero, deixo escapar um suspiro enquanto fito a pequena e desnecessária destruição que provoquei.

Magia é uma das poucas coisas capazes de me distrair agora. Não basta falar que ontem foi um dia horrível; foi muito pior do que isso. Logo que botei algo para dentro do estômago saí para refletir um pouco, em relativa paz e solidão.

Raiva é o sentimento mais óbvio, pelo menos quando você pensa em magia. Você sente raiva, você quer destruir algo, você invoca fogo. Os outros sentimentos já não são tão óbvios, tão fáceis de descrever. Ilusão tem a ver com o sentimento de "ter expectativas", por exemplo, sejam elas boas ou ruins. Tudo tem o seu lado bom e ruim, na verdade. A própria raiva, por exemplo, pode ser na verdade uma agressiva animação, uma energia incontrolável. Quanto à ilusão, não só expectativas, mas as confrontações com essas expectativas. Surpresa, assombro, terror.

Outro sentimento do qual eu ouvi falar para a Escola de Sil era um ódio bem específico. Ódio puro, transcendental, assustador. Não gosto de pensar nele.

Escola de Aer chega perto de Sil, e ao mesmo tempo longe. Ao invés de expectativa com algo irreal, seria a expectativa com algo real. Uma espécie de sentimento de mudança. A incapacidade das raízes. O gosto ou desgosto de algo, coisas mutáveis, passageiras.

Escola de Pul, como a escola de Aer, baseia-se no desejo. Mas ao invés de coisas mutáveis, seria da permanência. Do que é certo, do que é bom, admiração. Difícil descrever as escolas.

E Flun, como Pul, tem algo a ver com a permanência. Ao mesmo tempo, tem algo a ver com o sentimento de gosto e desgosto, ou ainda da insatisfação. É como se Aer gostasse ou desgostasse do frio ou do calor, enquanto que Flun gosta e desgosta de que ambos existam. É, como se é de se esperar, uma coisa mais profunda, que tange nossas limitações, tange até onde a realidade vai. E é daí que nasce o ódio de Sil.

As escolas estão tão perto e tão longe... E onde entra Ex aí?

É a mais rasa de todas. É uma energia animalesca, que mal sente o frio e já o repudia.

Acabo jogando outra bola de fogo no chão, com certo desgosto.

Chega de ficar sentado brincando com fogo.

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora