11 - Escuridão

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Acordo, completamente desorientado e olho ao meu redor.

Tysen não está ali.

Eu corro escadas acima e passo pelo acesso do primeiro andar. O cozinheiro me olha com uma expressão estranha, mas eu continuo correndo.

– Jacob, Tysen saiu?

– Sim. – E continuo correndo. A chuva bate contra mim, pequenos protestos que juntos tentam me fazer desistir, mas eu continuo correndo.

– Tysen! – Tem algo de errado. Algo de errado em algum lugar, alguma hora, e Tysen estava lá.

– Ei! – Continuo correndo. – Ei, você! Pare de correr, seu covarde! – A voz soa mais familiar a cada palavra que eu ouço. Paro e olho em volta.

Um garoto de cabelo preto com um longo rabo de cavalo e roupas brancas e folgadas desembainha uma espada. Atrás dele há muitos outros garotos com as mesmas roupas.

Só então me dou conta de tudo.

Do desespero que ameaça engolir o meu coração, e do medo por Tysen e por mim mesmo, o medo que me fez correr tanto e agora me congela. Do cansaço e da exaustão dos tantos feitiços que fiz, e de como tudo parece tão errado. O frio me treme e me arrepia, a escuridão do por do sol nublado torna tudo mais sinistro e a chuva piora tudo. À minha frente está aquele garoto arrogante, e que eu suponha ter mandado aquelas pessoas atrás de mim, e não tinha ninguém para impedi-lo de lutar comigo dessa vez.

Desembainho minha própria espada.

Ele não espera mais.

Aquele primeiro golpe, o primeiro passo de nossa dança. O primeiro choque, a primeira força, o primeiro suspiro, a primeira faísca.

E de novo.

De novo.

De novo.

De novo.

Eu só estou atacando cegamente, sem pensar em nada. Estratégias, fintas, nada. E ele também, e por isso estávamos tão ajustados e empatados. Eu tenho que recobrar a minha compostura e botar a minha cabeça para funcionar.

A chuva está ficando mais forte. Eu consigo ver as gotas caindo e atingindo o chão. Seus pés estão razoavelmente afastados, suas pernas dobradas, os braços esticados, sua espada apontada numa diagonal para frente e para cima, na minha direção, seus olhos fitam os meus.

Ele está lutando sério, mas é um tolo.

Eu ataco e assim que ele bloqueia eu invisto no outro lado. Ele não é rápido o suficiente e segura o braço ferido, o sangue escorrendo, sujando sua mão, encharcando o tecido, infestando o ar com o seu cheiro tão férreo, tão doce. Ele então adota uma postura diferente: ele embainha a espada e seu braço ferido segura na bainha, enquanto a outra mão segura o punho da arma. Ele então se aproxima e sua lâmina voa de sua bainha em um grande arco, e passa pela minha defesa como se esta nunca tivesse existido, atingindo toda a extensão do meu tórax. Eu ouço a sua voz atrás de mim, com um tom nojento de desdém:

– Não se preocupe, você ficará bem se for tratado. Mas isso deve servir de lição, para que ARGH – Eu corto o seu braço imaculado, e ele ajoelha no chão. Eu o chuto, e ele cai na lama, até que eu o levanto pelo colarinho da sua roupa.

– O que – ele tenta dizer, fraco – é você? – Ele grunhe. – Seus olhos... – Eu o jogo de volta na lama, e ninguém tenta me impedir dessa vez quando eu volto a correr.

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora