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Interlúdio 8 - Dança
Ela não é dele. Ela nunca foi, e jamais será. No entanto, não para de pensar nela.
Enquanto assina papéis, recebe súditos, reune-se no seu conselho, discursa para a cidade, ela nunca está em segundo plano. Tanto tempo parece ter passado, e tão pouco. Ele tenta lembrar-se de suas inúmeras viagens, fazer comparações, calcular os dias, prever quando chegaria, mas ele não chega num resultado satisfatório. Até porque toda vez que o dia em questão chega ele percebe que em alguma parte do cálculo foi otimista demais.
Só queria que chegasse logo.
É meio estranho falar sobre ela com o irmão dela, mas com quem mais ele falaria? Afinal, todos os seus outros amigos morreram.
– Eu pensei que você soubesse que eu não tinha nada com ela.
– Hmm? – Estão jantando num dos salões da Torre. Como sempre, sentaram-se lado a lado para conversar na cabeceira da mesa, mesmo que isso pareça "peculiar" demais aos outros nobres à mesa. Mas até estes já estavam se acostumando com a intimidade entre Chanceler e Descendente. Os dois cargos sempre foram muito próximos, mas não tanto quanto entre estes dois.
– Você até falou de casamento. – Completa Tristam.
– Eu vi vocês dois, juntos. Desde o começo. Não me diga que desde que a conheceu –
– Não. Nada. – Tem de conversar baixo, claro, mas usando tal volume de voz ele não consegue desabafar, ou sequer se expressar direito.
– Hum. – Seu amigo contempla enquanto come. Faz um sinal com o dedo indicador para cima, engole a comida, e torna a falar:
– Acho que você deveria ir num desses bailes. É o que todos estão fazendo para se recuperar da situação, inclusive. – Bebe um gole da sua taça. – "Depois do fogo e do aço, nada como um vinho, uma costela e uma dança."
– Heh. Meu pai me ensinou muitas coisas, mas essa foi uma das quais ele nem sequer mencionou. Ah, e quando finalmente ouvi de um soldado, a versão dele era ligeiramente diferente.
– É mesmo?
– "Depois do fogo e do aço, nada como um vinho, uma costela e uma mulher."
– Ah. É sutil, mas entendi. Não estou surpreso. – Diz, e ambos riem, como se nunca tivessem sido soldados. – De toda forma, terá um baile no próximo dia de Phas. Você poderia comparecer, para variar. Além do mais, todos querem te ver mais de perto e conversar com você.
– Por que, os discursos não bastam? – Tristam suspira. Talvez seria bom, pensa ele. Talvez eu finalmente conseguisse me descontrair um pouco. Mas...
– Se as pessoas souberem quem eu sou, eu duvido muito que eu vá conseguir relaxar. Você já pensou nisso?
– Já. E imagino que quanto mais cedo as pessoas se acostumarem com você, mais cedo você conseguirá relaxar entre elas, mesmo sendo o Descendente. – Tristam arfa de novo, depois de engolir outro pedaço de carne.
– Se isso fosse verdade, não teria aquela tradição dos Descendentes.
– Qual? – Tristam pensou em como algumas das maiores tradições dos Descendentes não eram conhecidas pela maior parte da população. Algumas talvez não fossem conhecidas nem pelo Chanceler. Mas ele prosseguiu:
– Aquela na qual o filho do Descendente passa a sua juventude fora de Astranimus para "experimentar mais de um tipo de vida". Ou seja, se divertir um pouco antes de tomar o cargo.
– Hmm. Entendi. – Seu amigo coça a cabeça. – É, complicado.
– De toda forma, eu vou. Provavelmente estou infringindo algum dever social não indo. Ahn. – Tristam pigarreia. – O meu pai ia a essas coisas, não ia?
– Provavelmente. E Tristam. – Seu amigo o encara, e ele sabe bem o que o seu olhar significa, e suspira.
– Certo. – Eles continuam o seu jantar sob o olhar de quase todos ao seu redor, sem trocar muitas mais palavras importantes.
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Canção de Ouroboros: A inocência do Descendente
FantasíaViver é doloroso, e a música não mente. Isso é verdade independente de quem você é, e ao mesmo tempo, especialmente de quem você é. Faon aprendeu muito pouco disso com treze anos, como se é de se esperar. Após algumas excruciantes guinadas na sua vi...