17 - Razão

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– Você continua segurando a sua bainha. – Tysen acusa. – Você faz isso toda vez que está inseguro de algo. Como se estivesse pronto para sacar a sua espada.

Eu não soube quanto tempo se passou, mas meus amigos ficaram impacientes e me procuraram antes de irmos embora. Quando chegamos, já estava no final da tarde. Conversamos, nos conhecemos melhor, ficamos matando o tempo à espadada por falta de ter algo melhor para fazer. Finalmente, começamos a ficar com fome e Beatriz nos levou até um lugar da mais alta classe para que eu provasse de sua comida. Tyke teve que ficar fora dessa vez, mas era obediente, não fugiria. O prato consistia de diferentes tipos de peixe cru, arroz e mais outros detalhes dos quais havia me esquecido. Foi uma experiência estranha no começo, mas me acostumei e comecei a apreciar a refeição. E agora havíamos nos despedido novamente e Tysen me interrogava, na frente da Cristal, já de noite. A meditação ajudou, mas como ele percebeu, não foi o suficiente para me tranquilizar.

– Você nem está com um aspecto fraco. Eles não suspeitaram nada, e você continua assim. Você até desistiu de usar um sobretudo! – Suspiro nessa hora. Sinto falta de um sobretudo. Isso é um desserviço não só à minha imagem, mas também ao meu anseio, ao meu cerne, ao meu núcleo. Eu não posso superar isso enquanto eu não usar um sobretudo novamente. – Não há necessidade de agir dessa forma. – Ele suspira. – Essa é a sua espada nova?

– De certa forma. – Desembainho–a para mostrá-la. Seu rosto assume uma expressão de assombro, e ele abre a boca, mas nenhum som sai dela. – Eu disse que era possível.

– Qual o nome dela? – Ele quase sussurra, quase desprovido de seu usual tom neutro.

– Vampira. – Ela é uma lâmina linda, e ao mesmo tempo, assustadora e terrível. O padrão do sangue "seco" no metal sugere que a espada acabou de matar alguém, sem falar do seu onipresente e sobrenatural brilho vermelho. E por último, a distorção macabra do seu formato.

– Está mais para "Propósito Terrível". Ou ainda, "Vingança". Essa espada parece ter sido criada para concretizar algum mal.

– É, parece. Mas prefiro Vampira. Ela ganhou algumas propriedades mágicas também. Segundo o meu pai, a espada pode literalmente se "alimentar" de sangue, servindo como um conduto e impulsor mágico para mim.

– É, legal, mas... Não gosto de mexer com essas coisas. Não sei dizer, não me julgue.

– Tudo bem. – Eu embainho a espada. – Acho que não tem muito mais o que fazer por hoje. Não estou com vontade de treinar magia.

– Você está certo. Eu acho que você tinha que descansar muito mais do que descansou. Você quase morreu, pelo amor de Pul. Então, aproveite. Está cedo e tudo o mais, você deve dormir bastante.

– O problema é sentir sono, mas eu dou algum jeito. – Isso e não ter pesadelos. O sono de alguém drenado, exausto é limpo, para que a pessoa descanse em paz. Dormir em qualquer outro dia, por outro lado, poderia facilmente trazer um sonho ou um pesadelo. Tysen fez um sinal para dentro, e entramos na taverna e nos dirigimos aos nossos quartos.

~

Mal havia terminado de me deitar, ouço um barulho. Está escuro, então uso um pouco de magia para acender uma luz suave. E eis que meu sangue gela, meu corpo tem um espasmo, e eu recuo para trás como um animal assustado.

– Acalme-se, por favor. – Tem alguém na minha frente. Primeiro penso que é o tal do Kirian, mas então reconheço o garoto de ontem. Ele sorri.

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora