27 - A Noite

6 0 1
                                    

27 – A Noite

Eu não quero morrer.

Esse guerreiro possuía uma estranha armadura. Ela era magra e alta, como o corpo dele, como se moldasse à sua pele. Ela era negra, como a mais escura das noites, como se ambas as luas tivessem caído e virado cinzas. E ela escondia o seu rosto, ou pelo menos os olhos. A boca era escura, com seus dois caninos superiores saindo dela, como se esta não fosse capaz de contê-los; e a pele de um violeta quase branco.

Ele me encarava, sorrindo, com Abin ao seu lado. Caminhava até mim, e ameaçava engolir-me em sua escuridão.

São tantos gritos...

Eu não quero morrer.

Inspiro e expiro sonoramente, com falta de ar. Estou ensopado de suor, assim como a minha cama. Minha visão está vermelha, minha mente gira, desnorteada, e não sei o que fazer ou o que pensar. Ao olhar para fora, vejo o céu escuro.

Não quero dormir de novo por uma miríade de razões, apesar de sentir sono; então vou sozinho até as fontes termais. O ar frio da caverna gela a minha pele molhada, mas não demora muito até eu entrar na água. Tento relaxar, mas não consigo. Faz muito tempo que não consigo. Se por muito tempo você quer dizer por volta de duas semanas.

~

– Bom dia, Jacob!

– Bom dia, meu garoto! Você tem estado animado esses dias, acordando cedo, hein?

– Ah, sabe como é, quem precisa de uma razão para estar animado? – Ele não responde, por alguma razão, mas sorri de volta antes de ordenar o meu pedido.

Só quando estou terminando de comer que Tysen aparece. Como sempre, ele vinha com o passo arrastado e olhos semicerrados, invadido pelo sono.

– Sobretudo novo, é?

– É. – Digo, sorrindo. Por duas semanas, olhava para um sobretudo vermelho e via nele o sangue derramado. Acabei não jogando fora o que usei naquele dia, e agora este estava entre os outros, quase indistinguível. Provavelmente, em algum lugar dele, ainda havia sangue, mas as cores misturavam-se e fundiam-se no tecido, tornando qualquer diferença quase imperceptível. Então fechava o armário. No entanto, ao voltar do banho decido ver minhas outras opções, e o azul se destaca. Finalmente tomo alguma espécie de coragem, e decido vesti-lo.

Usava–o agora, "alegremente".

– Está tudo bem? – Pergunto.

– Está, e você? – Sua voz era um lembrete constante do seu sono.

– Mesmo? – Continuo.

– Sim, sim, sim, mas e você?

– Ah, claro que está. – Sorrio. – A refeição estava ótima. – Pigarreio. – Já que você ainda vai comer, vou me adiantar. Te vejo mais tarde?

– Sim, sim. Até. E Faon, – Ele me chama, quando já estava na saída da taverna. – você não está alegre demais não?

– Ninguém fica alegre demais, Tysen. – Digo, antes de fechar as portas atrás de mim. Começo a andar altivamente em direção à saída norte. Eu estou bem.

Eu estou ótimo.

~

Abraço o meu pai e Morris, depois de os darem bom dia. Afago um pouco Tyke antes de me prostrar na frente de Alec.

– Continuando, formas de matar. – Ele é bem direto. – Arquearia ilusória, especificamente.

Arquearia ilusória. Como chegamos a isso?

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora