14 - V de...

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RB



14 – V de...

É nesse momento que a Chama Verde explode e enche o céu com esperança.

Eu devo fazer algo eu mesmo. Tento levantar do chão e me ajoelhar, mas é difícil se endireitar com um objeto rígido preso no meio do seu corpo. Tento evitar gemer, mas é difícil sem ao menos grunhir. Tento ter firmeza nas minhas mãos, mas sujá-las com o meu sangue as fazem tremer como bambu.

Minha mente volta a funcionar aos poucos, e percebo antes de mais nada que a figura sumiu. Em seguida, lembro que terei que pressionar a área para estancar o ferimento, ou até tomar algo para diminuir a circulação de sangue, possibilitando botar os pontos e terminar com um curativo. É claro, eu não sei costurar nem fazer um curativo, então terei que me virar com outra coisa. Ou seja, magia.

Mas o buraco é grande demais. Eu vou sangrar até a morte se eu tirar isso de mim. Não basta estancar, eu preciso fazer mais do que isso. Eu preciso fazer muito mais do que isso. Um tremor percorre o meu corpo, diferente do sacolejar de frio que me assolava instantes antes. Mas antes de ficar aterrorizado, eu me agarro à luz que inunda o céu e me concentro.

Após me condicionar o máximo que pude em questão de segundos, coloco as palmas sobre a lâmina, sem fechar as mãos. E começo a retirar o pedaço quebrado de espada de mim.

Não consigo sentir meus braços.

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Um grito. O primeiro grito. Aquele no qual a dor simplesmente foge pelos meus pulmões.

Um ranger de dentes. Um perder de ar. Um subir de temperatura. Um saltar de órbitas. Um cair de gotas. Um rasgar de carne. Um manchar de sangue. Um tocar de loucura.

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Outro grito. O segundo grito. O grito de compreensão, na qual eu ultrapasso o que eu achava ser o limite da consciência.

concentre-se não importa o quanto doa o quanto sangre o quanto destrua

concentre-se eu devo estancar o sangramento você deve estancar o sangramento concentre-se apesar de estar destruindo os seus dentes apesar de estar sufocando concentre-se apesar de estar queimando por dentro apesar de estar cego e insensível concentre-se apesar de estar gritando a plenos pulmões apesar da dor da dor da dor

concentre-se

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O grito. O terceiro grito. O grito que combina misericórdia e resistência, aquele que perdura enquanto isso não acabar. Ou acaba o grito, ou acaba eu.

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Tão quente. Tão brilhante. Tão vermelho. É claro, essa é a cor da agonia.

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Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora