16 - Esqueça

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Até Tysen reaparecer, eu já estava terminando o meu almoço.

– Ei, Faon...? – O seu tom muda de saudação para curiosidade, e quando me viro para encará-lo, surpresa. – Esse cachorro é seu?

– Não, ele é um vira-lata que achei na rua e estou dando comida para ele.

– Ah, sim.

Uns instantes se passam. Cinco segundos, dez.

– Ele é meu, Tysen. E não é um cachorro, é um lobo. – Desisto até mesmo do tom condescendente. – Meu desde pequeno, isto é. Seu nome é Tyke.

– Oh. Ah, sim.

– Você por acaso foi drogado? – Pergunto.

– Eu? Ah. Não, não. Não. – Mas parece que foi.

– Você está mais lento que o normal, então? – Ele já havia se ajoelhado e já acariciava o topo da cabeça de Tyke, curiosamente sem medo algum.

– Ahn?

– Esquece. Você não pretende almoçar?

– Ah. Já almocei. Comi junto com a Beatriz e os outros. Eles me mostraram a culinária local.

– E foi isso que te deixou tão alterado?

– Eu não estou alterado. – Diz, sem muita convicção. – É boa a comida. Estranha, mas boa. Você deveria experimentar, talvez hoje de noite.

– Certo, e onde os outros estão?

– Lá fora.

– Eles não vão entrar aqui nunca?

– Aparentemente não. – Confirma Tysen. – Eles me disseram que não se sentem à vontade aqui.

– Muito bem. Vamos? – Levanto da cadeira, e Tyke também. Não da cadeira, do chão. Tysen também levanta, repentinamente.

– Ele vem conosco?

– Vem. – Passo a mão no topo da cabeça do Tyke, para enfatizar.

– Aliás, como ele está aqui dentro?

– Meu pai convenceu o Jacob de que ele não causaria nenhuma confusão. Alec treinou–o bem.

– Alec? – Deixa a pergunta no ar, coça a cabeça, olha um pouco para baixo e depois volta a olhar para mim. – Seu pai. Você não havia me dito que era esse o seu nome.

– Você sabe agora. – Gesticulo em direção à porta, para irmos logo. Caminhamos para fora e Tyke nos segue. O trio sorri mas vejo num instante suas expressões se deformarem.

– O que? Nunca viram um lobo antes? – Falo com tom brincalhão, ajoelhando ao lado do Tyke e correndo a mão pelo seu corpo, para animá-lo, mas isso só faz com que eles fiquem mais medrosos. Ele olha cada um dos três por uns instantes e depois foca no mais próximo, o Mia. Ele recua um pouco, com os braços dobrados e as palmas para baixo.

– Pode vir. – Digo. Ele balança a cabeça. – Tyke, cerca. – Os olhos do espadachim se esbugalham, e Tyke avança e começa a rodar Mia, que congela. Então senta na frente dele, as patas inquietas, as orelhas para baixo, olhando de mim para ele. – Pode espreguiçar. – Ele então começa a abanar o rabo, levanta e estende as suas pernas, quase chegando no peito do Mia, que tenta não perder o equilíbrio; e tenta se aproximar do rosto dele para cheirá-lo e então lambê-lo. O espadachim solta uma risadinha relativamente aguda, até para ele. Eu pigarreio, e ele olha para mim com uma expressão mista de preocupação e vergonha, por um instante. Então ele dá uma desculpa qualquer e recua, permitindo com que Tyke fizesse o mesmo com os outros.

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora