29 - Entrada discreta

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Finalmente, a hora chegou.

Eu, Alamir, Beatriz e Tanamiaka entramos no palco, e nos apresentamos.

Tanamiaka começa: ela se senta e se concentra, e logo um caminho azul aparece à nossa frente. Nós dois, os guerreiros, andamos um pouco para frente acima do ar antes de parar. O caminho então some, e a esfera se concretiza ao nosso redor. Quando ela está completa, o silêncio, antes já presente, torna-se imponente. Nós pensamos que o barulho da multidão alterado pela magia poderia tirar a nossa concentração.

Desembainhamos nossas espadas, nos cumprimentamos e Beatriz se acomoda também. Não demora muito até sentir o peso do tempo na nossa pele, arrastando-se em nossos corpos e deixando–nos mais lentos que o resto do mundo. E sem trocar uma palavra, começamos.

Testo um golpe num dos seus lados, antes de recuar. Medo. Ele tenta me atacar por uma diagonal, um corte vertical no meu braço e outra diagonal, mas eu bloqueio os três golpes. Lâmina. Tento um golpe duplo, o qual ele consegue defender, mas isso o faz dar alguns passos para trás. Morte. Alamir avança novamente e tenta um golpe mais baixo horizontal seguido de um vertical mais alto. Defendo os dois e recuo. Medo. Sinto a escuridão perfurar lentamente minha espinha, fazendo com que meu corpo comece a tremer, mas persisto.

Tento fintar e o atinjo de raspão na perna. Sorrio por um instante, mas no próximo ele já me pressiona com um contra–ataque de um, dois, três –

– Ah. – golpes. O terceiro pega no meu braço, e recuo arfando. Lâmina. Alamir continua o seu ataque, claro, e tenta atacar duas vezes rapidamente, antes de recuar e tentar o seu famigerado golpe. Eu adoto uma postura completamente defensiva, para então dar o meu maior contra–ataque, mas a sua lâmina brilha e se destaca na minha visão de tal forma que eu fraquejo.

Ele iria me acertar.

Eu iria cair.

Morte.

E a espada está tão perto e ela perfura e gira e mutila e o sangue jorra e corre e dor dor dor dor dor vermelha e brilhante e escuro escuro escuro escuro tão escuro e vazio vazio vazio vazio vazio vazio

Não.

Concentro.

Consigo ver o golpe dele. Consigo ver os dois cortes. Eu os defendo, e o atinjo nas costas. Mas ele tenta de novo. E eu não vejo. Não vejo nada.

SOMBRA

– Agh. – Eu fico ajoelhado sobre o chão transparente, olhando para baixo, olhando para as pessoas que olhavam de volta, que olhavam para mim e a minha espada, largada no chão. Nós poderíamos lutar mais se quiséssemos, mas esse era um ótimo momento para terminar a luta como qualquer outro. E se essa luta parecia ter durado uma eternidade para mim, que dirá para o público. Eu levanto e o saúdo, mas quando Alamir responde, seu rosto está indecifrável: não existe um traço de vitória, alegria, ou sequer sarcasmo. Não sei dizer se ele está apenas levando isso muito a sério ou se é outra razão. Na verdade, não sei de nada.

O medo me possuiu, como esperava. Não era uma situação em que pudesse me distrair, mas eu... O que eu faria? Até o momento em que me concentrei. Aquele momento em que conseguia ver. Se eu for capaz de meditar nessa forma, me concentrar dessa forma, talvez... Talvez eu conseguisse afastar o medo, pelo menos nas piores situações.

É então que eu percebo.

Através da película sólida de energia, tem alguém olhando fixamente para mim. Debaixo de mim. Ajoelho-me novamente e aproximo o meu rosto do chão transparente, e não há dúvida. Reconheço um aspecto de cada vez, que enquanto estavam diferentes, maduros, por outro lado estavam iguais, exatamente iguais: as mechas onduladas e loiras; seus lábios, seu nariz, a cor da íris da folha de uma árvore sob o sol, seus olhos, os malditos olhos que sabia usar tão bem.

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⏰ Última atualização: Jul 22, 2017 ⏰

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