23 - Primeiro Sangue

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As espadas se chocam novamente.

Recuo, observo-o um pouco mais e o ataco no braço, onde ele estava aberto. Até reagir, eu já havia recuado.

Tysen grunhe.

– Você vai ficar fazendo esse joguinho o dia inteiro?

– Que joguinho? – Respondo, meio sem saber do que ele falava, meio suspeitando de algo.

– Você vem, dá um golpezinho e recua. Isso é muito chato, sabia? Sem falar desse sobretudo vermelho estúpido. – Ah, então é isso?

– Mas funciona, e é isso que importa. E o que que tem o meu sobretudo? – Deixamos as espadas de lado, e nos sentamos para conversar.

– Aham, sei. Eu acerto o sobretudo antes de acertar o seu corpo. Esses golpes são superficiais demais, eu quero ver você ganhar alguma luta de verdade fazendo isso.

– Talvez você veja.

– Talvez não. – Ele insiste.

– Você quer apostar? – Provoco.

– Claro. Só não sei o que apostar.

– Hmm...

– Ah! Quem perder fala para a Beatriz que o Shin gosta dela! – Ah não... Começo a passar a mão no cabelo e bagunçá-lo.

– Isso não é muita maldade com ele? – Tysen franze a testa.

– Olha, alguém tem que falar. Você acha que ele vai falar algum dia?

– Eventualmente? – Coço um pouco a cabeça.

– Ele gosta dela desde antes de os conhecermos, sabe-se lá por quanto tempo! Estaremos fazendo um favor a eles!

– Ahn. Sim, claro. Humph.

Depois de quase um ano, você começa a perceber essas coisas. Shin tentava muito disfarçar, mas o tempo faz maravilhas.

– Por sinal, você sabe que horas eles vão voltar da cerimônia? – A cerimônia de formação de nobres em geral de Fueto, realizada no palácio do lorde feudal. Kojiro disse que para nós dois era opcional a ida, e os três imploraram para que não fôssemos. Aparentemente aquilo durava horas e era um tédio tremendo. A maior parte da nobreza, se não toda de Fueto estaria lá, assim como um enorme contingente da guarda da cidade para a parada militar.

– Não faço ideia. Espero que não muito tarde para a comemoração. Humph. – Eu começo a olhar para baixo, sem saber muito bem o que dizer ou pensar.

– O que é? – A essa altura eu já tinha contado muitas coisas para o Tysen, mas essa é uma daquelas que eu não vou nem pretendo contar algum dia.

– É complicado, mas – tento pensar em algo – ahn – pensa – o meu último aniversário não foi muito bom. Nessa semana tudo ocorreu bem, e isso me deixa nervoso, como se algo ainda fosse acontecer.

– Bah, isso é paranoia sua. Não vai acontecer nada. – Paranoia. De todas as palavras para usar, ele tinha que usar paranoia. Bem, tem tempo que algo ruim não acontece, mas também tem tempo que não sinto nenhuma paranoia. Eu acho. Não é?

A última vez foi aquela quando visitamos a fonte de Flun. Isso foi umas três estações, três e meia atrás. Depois disso eu me encontrei com Kirian, ou melhor, ele me encontrou algumas vezes. Às vezes ele estava acompanhado do Lobo, às vezes não. Kirian sempre estava de roxo, e Lobo sempre estava com sua armadura negra. Comecei a aprender a montar um cavalo. Continuei a visitar Itsuki no monastério nos dias de Abin e sim, Itsuki é o nome do monge que me ensinou a meditar; a treinar com Alec, Kojiro e os meus amigos, nada demais. Bem, meu pai começou a me ensinar mais da "verdadeira magia" da qual Beatriz falou, sobre um dos nossos poucos limites: a "área de influência".

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora