20.5 - I.5 - No meio da noite

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– Povo de Astranimus. Eu sou Tristam, filho de Aeon. Eu sou o Descendente. – A multidão grita, urra, comemora como não fazia há anos. – O curto reino das sombras acabou. Os tempos sombrios já se remontam entremeio suas lembranças. Nossa gloriosa cidade está sendo reconstruída uma vez mais. Além disso, iremos receber de braços abertos os "convidados" que desejarem ficar. – Eles ficam em silêncio, o que não é um bom sinal. Mas por outro lado, ele já esperava isso. – Eu sei o que vocês estão pensando. Por muito tempo, eu pensei o mesmo. Mas enquanto houver conflito entre nós, ainda haverá medo. Haverá estranhos ferimentos e mortes. Haverá conflito e caos, tudo que a Sombra sempre buscou. Mas de que outra forma eles poderão saciar-se, muitos de vocês devem estar se perguntando. Sempre existirá mais de uma forma de se fazer algo, e nós buscaremos isso. Tudo pela coexistência. – Ele faz uma pausa para deixar a população absorver a informação.

– Isso não é tudo que devo falar, é claro. Eu também devo apaziguar tudo que os fazem se sentir menos do que são. A raiva. A tristeza. A vingança. O desespero. O vazio. – Ele permite o silêncio falar algumas coisas por ele antes de continuar:

– Muitos de vocês não devem sequer saber o que é meditar. Eu não espero que aprendam de um dia para outro, mas gostariam que tentassem. Eu quero que esqueçam tudo por um momento, que esvaziem sua mente e seu espírito. Talvez concentrar em algo à sua volta ajude: uma pedra, um passarinho, a Vigia. Talvez fechar os olhos seja melhor. – Ele espera mais um pouco. – Agora, só resta uma coisa dentro de vocês: sua alma. Uma chama brilhante, imensa. Existe uma razão pela qual ela brilha tanto, mas qual? Alguns de vocês podem pensar que essa razão os deixou, ou ainda que nunca existiu, mas esse não é o caso. Pelo que ela queima? Como ela queima? Vocês conseguem vê-la? Conseguem senti-la, conseguem fazê-la aparecer na palma de suas mãos? – E como esperava, inúmeros pontos luminosos surgem à sua frente. Primeiro soam pelo ar gritos de assombro, depois de surpresa e finalmente de euforia. Depois de tudo o que aconteceu, toda Astranimus é perfeitamente capaz de usar magia. De certa forma, todo o mundo sempre foi capaz, mas não existe mais nenhuma barreira desta vez.

– Ergam suas mãos! – Tristam brada.

– A razão! A razão da chama que queima dentro e fora de vocês é a necessidade, o desejo de iluminar esse mundo! – Tristam clama.

– Cada um de vocês o iluminam com um propósito, especial e único a você! Cada um de vocês faz o mundo brilhar com as cores de todos os deuses! – Tristam urra.

E naquele momento todo o mundo ruge junto dele, com as chamas de mais diferentes cores, tipos e tamanhos pontuando tudo diante do seu Lar.

– Qual é o seu propósito?

– Qual é o seu propósito?

– Qual é o seu propósito?

– Astranimus, Qual é o seu propósito?!

– Adeus! E que amanhã nasça brilhando, mais forte do que nunca, com o fogo de suas almas! – Tristam finalmente dá as costas à multidão, que está num estado de êxtase quase alucinatório; e se afasta da sacada.

Mas a sua expressão assume um caráter sombrio, vazio, errado. Ele se sente horrível, ele sabia que se sentiria assim, mas segundo o seu amigo, é para um bem maior.

Ele mentiu para milhares de pessoas.

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora