10 - Sibilar

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RB




- Faon! – Tysen me tira do meu transe por um instante, o suficiente para retaliar essa sensação: eu mordo meu dedo, com força. A pequena dor me faz pensar com um pouco mais de clareza, mas ainda não é o suficiente. Eu...

Morte.

Grito, abominado, aterrorizado. A espada...

Durante todo esse tempo eu estive caído no chão.

Morte.

Sangue.

Levanto e desembainho minha espada.

Sofrimento.

Escuridão.

Tento cortar minha mão com ela, mas não consigo nada mais do que um arranhão. Eu teria que...

Sombra.

Medo.

Morte. E a espada está tão perto e ela perfura e gira e mutila e o sangue jorra e corre e dor dor dor dor dor vermelha e brilhante e escuro escuro escuro escuro tão escuro e vazio vazio vazio vazio vazio vazio

- Ah... – Consigo me recobrar por mais um instante, apenas o suficiente...

Com ambas as mãos eu levanto a espada, aponto-a para baixo, e enfio com toda a minha força dentro da minha coxa. A lâmina chega a perfurá-la, mas não chega muito fundo. Eu retiro a ponta da espada com pouca dificuldade, sentindo uma dor lancinante. Sangue cobria a ponta inteira, e escorria pela lâmina, infestando o ar com um cheiro doce, um pouco férreo. Essa dor ardida, essa dor profunda e debilitante me desperta e me clareia. O pressentimento horrível de morte passa, e eu olho à minha volta.

Um garoto de cabelo longo e escuro, com um finíssimo rabo de cavalo, está parado perto de mim, vestindo roupas um pouco estranhas, brancas, folgada, e sua espada é quase idêntica às que eu vi embainhadas em muito guardas. No entanto, ele parece congelado. E sua expressão não é das melhores: parece ter visto um fantasma. Considerando como ele acabou de ver alguém tentar enterrar uma espada no próprio corpo e tirar sem hesitação alguma, eu não estou surpreso.

Espere.

Por Pul, o que eu acabei de fazer?!

A compreensão do meu feito me atinge, e também congelo. Coragem é um atributo que eu não...

Nunca tive a chance de ser corajoso para falar a verdade. No entanto, isso ultrapassa a coragem. Mais uma vez, me pergunto: o que eu acabei de fazer?!

O garoto à minha frente parece estar se recuperando do choque. Eu perdi tempo ficando estático assim como ele. A julgar pela situação, ele certamente não tem boas intenções.

Finalmente recobro-me por completo e ataco horizontalmente com a espada. Ele recua bem a tempo, mas sua camisa é rasgada pela minha lâmina. O garoto olha estupefato para o seu trapo e fica parado, em guarda, me observando. Ouço sons de luta não muito longe, e percebo que Tysen deve estar na mesma situação. Mas eu não recuo. Não posso ajudar meu amigo agora.

Ele segura a espada com ambas as mãos, é um pouco menor do que eu e parece ter um cabelo moreno um pouco mais longo que o meu, contando também com um pequeno rabo de cavalo, mas a luminosidade não me ajuda. Também parece ser bem magro. Esse garoto pode ser mais ágil do que eu penso que é.

Canção de Ouroboros: A inocência do DescendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora