Capítulo 9

4.6K 330 29
                                    

O meu cabelo estava uma confusão e não havia maneira de eu tirar os imensos nós que se haviam formados sozinhos enquanto eu dormia sem ajuda alguma. A cada passagem dos dentes da escova pelo meu cabelo, a minha nuca parecia gritar de dor e eu logo percebi que teria de o pentear doutra maneira. Quando finalmente lhe consegui dar um jeito, peguei num pente, para tirar até os nós mais pequenos e difíceis de se encontrarem. No fim de tudo isto, preparo-me para chegar um creme hidratante à cara. Depois, fiquei a olhar-me no espelho.

Como tenho feito desde a maldita aula de Educação Sexual, há duas semanas atrás.

A certa altura, a porta abriu-se e eu virei-me bruscamente para trás, preparada para atirar o primeiro objeto que me aparecesse à frente para o Mark. Mas era a Martha, de plena saúde e com as energias carregadas, como se não tivesse desmaiado ontem. Logo depois de perceber que se tratava da Martha, olhei para a roupa que ela trazia vestida; um vestido demasiado provocante decorava o seu corpo e as meias rendadas com buracos por ela feitos acentuavam ainda mais aquele ar que ela pretendia transmitir às pessoas. Para completar o visual, uns sapatos com cunha nos pés.

"Então... o que achas?" Perguntou ela, dando uma voltinha após fechar a porta atrás de si.

Revirei os olhos. Pelo menos uma vez por semana ela vem perguntar-me o que achava eu dos seus visuais impróprios.

"A mãe nunca te vai deixar sair assim de casa." Adverti e comecei a rir, virando-me de novo para o espelho e chegando um pouco de batom de cieiro.

"Por isso é que vou levar um casaco." Suspirei.

Não havia maneira de tirar a maluqueira da cabeça da minha meia-irmã. Cada um dos irmãos da família Evans é um caso particular. Não é muito difícil de perceber que eu sou a menina inteligente e tranquila, que o Mark é o rebelde e parvo, a Catherine é a inocente e querida, o Peter é o simpático e o observador, e depois temos a Martha, que é... que é mais ou menos... uma Victoria Cameron. Com 15 anos já deve ter dormido com mais rapazes que os que existem na minha turma, e que arranja todo o tipo de esquemas para conseguir ir a uma festa, para passar a noite fora de casa, e até mesmo para ir para a escola, em pleno pico do Outono, com um vestido que passa, claramente, a mensagem Venham a mim, que eu deixo. Ninguém escolhe os irmãos que tem. A única diferença entre a Martha e a Victoria é que a Martha fica pelas festas e pelos rapazes, enquanto a Victoria morre se não atormentar alguém.

"E porque viste perguntar o que eu acho, já sabes o que eu acho."

"Há um rapaz de quem eu gosto mais ou menos, tu sabes, eu tenho de o seduzir, senão a vaca da Stephanie fica com ele." Não respondi.

Não respondi porque o melhor amigo que eu alguma vez tive está redondamente apaixonado por ela e eu não vou ficar contra ele. Tenho a certeza absoluta de que o Harry faria muito bem à Martha, e de que eles ficariam muito bem juntos e que se entenderiam às mil maravilhas, se ela deixasse. O problema é que ela não deixa. Nunca deixa.

"Bella, Bella. Tu és boa aluna à Matemática!" Exclamou a Catherine, mal eu entrei na cozinha. "Qual é a probabilidade de eu ganhar o fim-de-semana no Hotel em Londres, onde vão passar um teatro das princesas da Disney?"

Olhei para a minha mãe, que tinha apontado para um papel branco em cima da mesa, que pedia a informação da Catherine, dos pais e de um quarto acompanhante, que teria de ter menos de 12 anos. Obviamente, seria o Peter. Já me tinham falado disto ontem, mas muito de passagem, porque o tema principal do jantar foi o facto de as manias de vegetariana da Martha estarem a prejudicar a sua saúde; iria haver um teatro no último fim-de-semana de novembro num Hotel qualquer de quatro estrelas de Londres e os vencedores seriam escolhidos por sorteio. Claro que a Catherine obrigou a mãe a inscrevê-la, e acredito que ela só tenha considerado em fazê-lo porque tem a certeza absoluta de que não iria ganhar.

Physical Education Teacher Z.M.Onde histórias criam vida. Descubra agora