Physical Education Teacher Z.M.

Capítulo 13

No intervalo das dez e vinte, a Carly já andava com um amontoado de papéis para a festa de Halloween. Isto era aquele tipo de evento que demorava um mês a ser planeado, mas como só se soube hoje de manhã a lista vencedora, teríamos apenas duas semanas para o fazer. Portanto a Carly contava com todos os da lista e, obviamente, eu estava incluída.

Vou contar um facto sobre mim: eu odeio todo o tipo de festas que envolva barulho, e como todas as festas envolvem barulho, podemos dizer que eu odeio festas. Nunca percebi o propósito de pôr a música no máximo, e toda a gente a dançar, e a beber, e aos gritos, e lá o que se faz nas festas. Ou seja, eu seria a pior das ajudas nesta situação, mas a Carly insiste, e quando a Carly insiste, o melhor é fazer o que ela pede. Para já só se falava do sítio onde a festa ia ocorrer e claro que iria ser no Pavilhão de Educação Física. A nossa sorte era o Halloween calhar numa Sexta, por isso podíamos fazer o que quiséssemos, até à hora que quiséssemos, porque não teríamos aulas no dia a seguir.

O próximo ponto era o disfarce. A Carly queria que os 12 da lista viessem com disfarces idênticos, coisa em que todos discordaram, porque para além de ninguém ter um gosto muito semelhante ao dos outros, não estavam a achar engraçada a ideia de estarem todos vestidos da mesma forma num dia em que se recorda aquele que estava mais original. De facto, vestirmo-nos todos de igual era tudo, menos originalidade. E como ficamos encarregues de escolhermos os nossos próprios disfarces, eu comecei a pensar no que poderia levar nesse dia. A Martha vai ajudar-me, como sempre.

Quando fui almoçar, passei pelo meu cacifo para deixar os livros e os cadernos das aulas da manhã. Quem abriu a porta do cacifo foi a Miranda e, ao abri-la, um papel planou durante uns segundos, antes de cair desamparado no chão. Foi apanhado pela Miranda, que leu o meu nome na parte da frente e, sem perder tempo, entregou-mo e começou a organizar as suas coisas no cacifo. Entretanto, eu desdobrei o papel, para ver um aglomerado de letras distorcidas que lutavam entre si para ver a qual palavra pertenciam: Vou buscar-te a casa às quatro e meia. A minha casa não é nenhum balneário, por isso levo-te a casa e é lá que vais tomar banho ou lá o que as mulheres fazem que as levam a perder quarenta minutos numa casa-de-banho. Rasga este papel e deita-o ao lixo mal possas. E foi isso que fiz; rasguei o papel, amarrotei-o e deitei-o ao caixote do lixo mais próximo, chamando inconvenientemente a atenção da Miranda.

"O que era aquilo?" Questionou ela, olhando de mim para o caixote do lixo, e para mim de novo.

"Ah..." Gaguejei eu. "Era uma mensagem da Martha, a dizer que ia ficar com outro rapaz qualquer na casa dele e para inventar uma desculpa para dar aos meus pais."

Ela acreditou, como era previsto acreditar, porque ela é a Miranda e eu sou a Bella e nós dizemos a verdade uma à outra. Esta era só a primeira mentira de várias. Teria de dizer o mesmo à Carly se ela soubesse disto mais tarde, terei de inventar outras coisas quaisquer para quando tiver de cancelar as nossas saídas para ir ter com o meu professor de Educação Física à casa dele treinar, entre outras coisas. Pessoalmente, isto causa-me uma sensação horrível no estômago, como se ele estivesse cheio de água e alguém lá tivesse deixado cair uma rocha das pesadas. Engoli em seco e abri a minha mochila, retirando de lá os livros e pegando noutros, para as aulas da parte da tarde.

A Miranda e a Carly fazem parque daqueles 50% dos alunos que não almoçam na escola. Alguns vão a casa, outros simplesmente não gostam nada da comida da escola e optam por almoçar fora. Ambas se enquadram na segunda explicação do facto de não almoçarem na escola: basicamente preferem fazer um jantar com as pedras da rua do que a comida servida na cantina. Eu também, mas almoçar fora implica gastar muito mais dinheiro - se quiser comer algo saudável -, ou comer algo muito prejudicial à saúde - mesmo que seja barato e compense. Portanto, almoço com o Harry. O melhor amigo que alguém podia ter.