Capítulo 16

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Fiquei sentada os primeiros dez minutos seguidos da corrida porque as equipas em jogo eram a Vermelha e a Azul. Todos aqueles sem coletes estavam sentados no chão ou nas bancadas, pelo menos aqueles que tinham já acabados os exercícios que o Professor Malik tinha mandado fazer: dez flexões, dez abdominais, dez dorsais, e fazer prancha durante trinta segundos. Claro que isso tudo era o cúmulo da impossibilidade para mim; até mesmo os dorsais estavam a magoar-me o fundo da coluna. Isto é a prova de que passei dezassete anos da minha vida a fazer zero de desporto, e agora estou a pagar por isso. Karma não tem prazo.

Sentia-me bastante animada por poder mostrar aquilo que sabia, mesmo que fosse só correr e rematar e tirar a bola dos pés dos outros, mas é uma clara - e enorme - evolução para mim e serviria para provar ao Professor Malik que não sou nenhuma perda de tempo. Porém, ele está mais vidrado no ecrã do seu portátil do que no jogo em si. Por vezes, ainda ia levantando a cabeça e olhando para o relógio na parede da divisão, como se ele não tivesse um relógio no computador.

Quando os dez minutos de jogo acabaram, a equipa perdedora saiu e entrou a equipa branca, ou seja, eu ainda estaria aqui sentada mais dez minutos. Atrás de mim, a Carly e a Miranda não pareciam importadas com o facto de passarmos vinte minutos alapadas no acento desconfortável que eram as bancadas, e também eu não me importaria, se isto se tratasse do ano anterior, quando as notas finais de Educação Física não valiam absolutamente nada. Agora, para mim, era como se valesse tudo. Detesto isso.

Mais dez minutos passaram e o meu rabo já quadrado estava. Quando finalmente o Professor Malik fez o apito soar, a equipa Vermelha saiu, pois a Branca vencera, e, automaticamente, a minha equipa, a Preta, levantou-se e caminhou para o campo. Ainda olhei para trás, com esperança que ele fizesse ou dissesse alguma coisa, mas nada. Ele continuava focado no portátil. Por que raio dão a password da internet da escola aos professores? Como se eles precisassem dela!

"Evans, defesa!" Ordenou a Miranda, a capitã da nossa equipa.

"Não posso ir mais... para a frente?" Perguntei e ela riu. Não por maldade, claro. A Miranda nunca ri por maldade.

"Queres sair daqui sem uma perna?" Pronto, OK.

O jogo começou com a bola em nossa posse: o Toby avançou com a bola branca e preta nos pés e fintou o Scott e o Roger, da equipa branca. Passou a bola ao Eric, que continuou a avançar, até que se viu encurralado e passou a bola à Miranda, que recuou uns passos para se libertar das raparigas da equipa branca. A bola voltou para os pés do Toby, que a perdeu de imediato quando o Scott Destruidor fez questão de lhe pregar uma rasteira para a obter. Enquanto o Toby se punha de pé e recuperava da estupidez que lhe acontecera, o Scott avançou na minha direção e da Carly, as mais espetaculares - ou não - defesa e guarda-redes, alterando a posse de bola com o Roger. Depois, como sempre faz, decidiu gozar connosco.

O Scott e o Roger gostam bastante de brincar com o facto de as raparigas (tirando a Miranda e a Daisy) não saberem jogar nadinha de futebol, então põe-se a fazer figuras de urso, como a passar a bola de um pé para o outro à nossa frente, e a rirem-se disso. Mas desta vez, estava tramado. Analisei os movimentos e estou pronta para acabar com a palhaçada. Fiz uma das únicas três coisas que conseguia fazer e tirei-lhe a bola, fazendo-a passar pelo meio das suas pernas; sem perder tempo, contornei-o e arrastei a bola comigo. Ficou ligeiramente atordoado durante uns segundos, mas voltou a investir e veio a correr atrás de mim. Em pânico, passei a bola ao Nick, que continuou o jogo a partir dali. Bastante contente com o que tinha feito, olhei para o Professor Malik, à espera de um gesto, uma expressão, qualquer coisa, que mostrasse orgulho, ou aprovação. Mas nada.

Ele continuava a olhar para a tela do portátil.

"Bella!" Gritou o Eric.

Sobressaltada, olhei em volta e reparei que a bola tinha passado por mim, devido à minha falta de atenção. Com isto, a bola passou as linhas do campo e a bola era da equipa adversária. Pedi desculpa e ele encolheu os ombros. Acho que o que eu fizera antes compensou o que fiz agora.

Physical Education Teacher Z.M.Onde histórias criam vida. Descubra agora